Começo do fim do bull market: história mostra que rali nos EUA pode estar acabando

Atualmente em níveis bem altos, tendência é que a rentabilidade das empresas volte para suas médias históricas, o que levaria a bolsa americana a reverter a forte alta dos últimos meses

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após um longo rali, iniciado ainda no final de 2013, parece que o “bull market” (mercado com tendência de alta) nos EUA pode estar chegando ao final. De acordo com alguns especialistas, o sinal desta mudança pode ter ocorrido após o governo norte-americano anunciar que a rentabilidade das empresas caiu acentuadamente no último trimestre.

Segundo algumas pesquisas históricas, a queda do primeiro trimestre pode sinalizar a volta para os níveis médios de rentabilidade, algo que já é esperado pelo mercado há algum tempo. Caso essa tendência se comprove, o mercado de ações terá que lutar muito para conseguir pelo menos se manter em um nível positivo pelos próximos cinco anos.

De acordo com dados do Departamento de Comércio dos EUA, os lucros das empresas no primeiro trimestre deste ano representaram 8,8% do PIB (Produto Interno Bruto), atingindo o nível mais baixo em quase quatro anos, e representando uma grande queda da rentabilidade de mais de 10%, mostrada desde o final de 2013.

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Em entrevista para o Marketwatch, James Montier, membro da equipe de alocação de ativos em OGM, afirmou que quem olhava para estes números de rentabilidade já estava preocupado há algum tempo, principalmente pelo fato de que, no passado, as margens de lucro já demonstraram uma forte tendência para “reverter para a média”. 

Ou seja, dados históricos mostram que as margens das empresas sempre recuam após altas significativas para acima da média de longo prazo, e vice-versa. Segundo dados do governo, atualmente essa média é de 6,3%. Com isso, a não ser que a rentabilidade das empresas atinja um novo patamar permanentemente alto, a recente queda é apenas o início de um declínio muito maior.

Efeitos na Bolsa
Antes de apontar os efeitos dessa reviravolta para as ações, o jornalista Mark Hulbert, do Marketwatch, precisou fazer algumas suposições para entendermos o cenário. Em primeiro lugar, ele supos que o tempo para ocorrer a reversão do mercado será de 5 anos, baseado nas projeções de Montier. Segundo ele, no passado, não importa quando os lucros ficaram 1% acima ou abaixo de sua média, demorou 4,8 anos para os ativos voltarem ao “normal”.

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A segunda suposição é o quão rápido a economia dos EUA irá crescer nestes cinco anos. Hulbert assumiu que o ritmo será o mesmo do registrado desde a última recessão, o que significa um crescimento anualizado de 4,1%. Por fim, o jornalista assume que a relação entre preço e lucro das ações deve permanecer a mesma, ressaltando que é um resultado generoso, dado que os valores já estão acima da média.

Diante deste cenário, em 2019, o S&P 500 deve atingir os 1.703 pontos, o que representa uma queda de aproximadamente 13% em relação aos atuais 1.957 pontos em que o índice é negociado.

Caso as margens das empresas permaneçam inalteradas, a expectativa é que o crescimento futuro das ações fique igual ao do crescimento econômico do país, ou seja, 4,1% anualizado, em base nominal. Nem mesmo um retorno aos níveis recordes de lucratividade das empresas – acima de 10% do PIB – não vai produzir qualquer efeito na volta para os níveis históricos nos próximos 5 anos. A única maneira para que isso não ocorra é se os lucros das empresas fiquem ainda maiores no futuro.

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Para o presidente da Research Affiliates, Robert Arnott, parece pouco provável que tenhamos este cenário. Segundo ele, para que isso ocorra, a parcela da receita nacional que vai para os trabalhadores teria que diminuir. “A reação poderia ser tão generalizada que iria transformar Occupy Wall Street em um evento ultrapassado”, afirmou Arnott.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.