Começa a temporada de resultados do 2º trimestre: confira as ações e os setores para ficar de olho

Expectativa ainda é de que empresas não apresentarão grande recuperação em meio ao cenário desafiador da economia, mas temporada pode apresentar boas oportunidades a investidores

Lara Rizério

Gráfico de ações (Crédito: Shutterstock)
Gráfico de ações (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – Depois de semanas tendo como foco o noticiário político, principalmente pela expectativa da aprovação da reforma da Previdência, os investidores se voltam agora para a temporada de resultados do segundo trimestre de 2019, que terá início a partir desta segunda-feira (22). 

A primeira companhia a apresentar seus números é a Profarma (PFRM3), após o fechamento da bolsa, e não causará tanto impacto no mercado. Contudo, nos dias seguintes, grandes bancos como Santander Brasil (SANB11) e Bradesco (BBDC3;BBDC4), além de grandes empresas como Cielo (CIEL3) e Ambev (ABEV3), revelarão seus números e prometem movimentar a carteira de ações dos investidores. 

De uma forma geral, a avaliação é de que a temporada ainda não vai ser empolgante, com as empresas repercutindo o ambiente bastante desafiador para a atividade econômica. “De fato, após um primeiro trimestre de 2019 decepcionante com o PIB caindo 0,2% na base trimestral, esperamos apenas uma leve recuperação no segundo trimestre de 2019, com o PIB crescendo apenas 0,3%”, destaca a XP Research.  

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Mas isso não significa que a temporada possa levar a boas oportunidades para os investidores. 

O Morgan Stanley e o Itaú BBA avaliam que a temporada pode render boas surpresas, principalmente na comparação com outros países da América Latina. Segundo as estimativas agregadas dos estrategistas do Itaú BBA, as receitas das companhias brasileiras devem subir 10%, enquanto o Ebitda (lucro antes de juros, depreciações e amortizações) deve registrar uma alta de 14% na comparação anual. Já o Morgan vê, dentre as ações de sua cobertura, alta de 11% para as receitas e de 4% para o Ebitda na mesma base de comparação. 

Tendo como base esse cenário, o InfoMoney fez uma compilação dos principais resultados para ficar de olho e quais são as perspectivas para os diferentes setores.

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O setor de consumo não deve registrar números brilhantes, mas Lojas Renner (LREN3) deve seguir como destaque positivo, enquanto a resiliente Magazine Luiza (MGLU3) pode sofrer com a alta base de comparação frente os ótimos números do mesmo trimestre do ano passado. 

No setor financeiro, Bradesco (BBDC3;BBDC4) deve se apresentar como o grande resultado positivo com o crescimento da carteira e aumento da margem financeira, B3 deve registrar números fortes com o aumento do volume negociado em ações e derivativos, enquanto Cielo deve ter mais um trimestre fraco com a guerra das maquininhas.

O setor de transportes deve registrar bons números: companhias de aluguel de veículos terão crescimento expressivo nos volumes, enquanto as aéreas como Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) podem mais uma vez se beneficiar com a oferta mais restrita com a crise da Avianca, levando a preços mais altos e maior rentabilidade para as companhias. 

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Clique aqui e confira a agenda completa de resultados.

Entre as exportadoras, o trimestre deve ser forte para os frigoríficos com preços e exportações mais altos, sendo o grande destaque a JBS (JBSS3).

Já a Vale (VALE3) terá ganhos por conta da forte alta do minério de ferro (em parte por conta de Brumadinho), apesar dos custos mais altos, enquanto Petrobras (PETR3;PETR4) deve ver suas receitas subirem com o petróleo mais alto. Por outro lado, os analistas esperam mais um trimestre negativo para papel e celulose com a queda da commodity durante o trimestre. Ou seja, não espere o balanço como um catalisador para a Suzano, que vê seus papéis caírem 12% só em 2019. 

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Confira os resultados para ficar de olho no segundo trimestre de 2019

 

Positivos:

Bradesco (BBDC4) – 25 de julho

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A expectativa é de números robustos para o banco tanto pelas análises da XP Research quanto do Itaú BBA, que preveem crescimento de cerca de 24% do lucro na comparação anual, para um valor superior a R$ 6,4 bilhões, além de um ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) de 20%. 

Conforme aponta a XP, o crescimento do setor de varejo, mais uma vez, deve impulsionar a expansão da margem financeira bruta e compensar as receitas provenientes de menores taxas, causadas pela maior competição e a atividade mais lenta do mercado de capitais. Já a equipe do Itaú BBA avalia que as despesas operacionais controladas e um menor custo de risco favorecerão a instituição financeira. 

Lojas Renner (LREN3) – 30 de julho

De um modo geral, esperam-se números difíceis para as empresas do setor varejista com a confiança baixa do consumidor levando a um crescimento mais lento nas vendas. Contudo, o nome visto de forma mais positiva é o da Lojas Renner.

“Acreditamos que a continuação do sólido crescimento de vendas mesmas lojas (alta de 12% ao ano), apesar da contração de margens, colocará a Renner mais uma vez entre os melhores resultados trimestrais do setor de varejo”, afirma a XP.

O Bradesco BBI aponta que, apesar de um inverno excepcionalmente quente, espera-se também um forte crescimento das vendas nas mesmas lojas. “No geral, é provável que este seja outro trimestre que forneça uma prova de execução superior da Renner”, afirmam os analistas. Para o Itaú BBA, a companhia deve registrar ganhos de participação de mercado, enquanto pode haver uma pressão sobre a margem Ebitda devido a um hedge cambial desfavorável. 

Gol (GOLL4) – 1 de agosto

As margens podem sofrer uma ligeira pressão por conta do real depreciado. Contudo, aponta a XP, a aérea deve reportar um crescimento de mais de 20% da receita unitária.  

JBS (JBSS3) – 14 de agosto

A expectativa é de que a companhia apresenta fortes resultados, segundo aponta a XP Research, puxados pelo negócio de carne bovina nos EUA e de frango tanto nos EUA quanto no Brasil.

A XP aponta ver um Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] de R$ 4,7 bilhões e margem Ebitda [Ebitda/receita líquida] de 9%. Já o Itaú BBA avalia que a companhia deve seguir com a tendência de desalavancagem no segundo trimestre.

Negativos:

Cielo (CIEL3) – 23 de julho

Com as ações em queda de 21% no ano em meio à “guerra das maquininhas”, o segundo trimestre deve ser mais uma vez complicado para os números da Cielo.  

De acordo com as projeções da XP, a concorrência acirrada no setor de adquirência deve levar a uma queda de 4,5% na receita e de 38,9% no lucro líquido, respectivamente, na base de comparação anual. Vale ressaltar que, recentemente, o Itaú BBA revisou as estimativas para a companhia, com a projeção de lucro sendo cortada em 26% para 2019 e 36% para 2020 em meio ao cenário competitivo acirrado. 

Ultrapar (UGPA3) – 14 de agosto

A expectativa ainda é de resultados pouco inspiradores. A XP aponta que deve haver uma leve deterioração na Ipiranga por perda de participação de mercado e maior mix de etanol. A Oxiteno, do segmento de químicos da Ultrapar, deve apresentar resultados ainda fracos.

No caso da Oxiteno, o Itaú BBA prevê um Ebitda por tonelada de US$ 55, uma forte queda de 67% frente os US$ 169 registrados no mesmo período do ano passado, refletindo fortemente os menores spreads do setor petroquímico. 

Via Varejo (VVAR3) – 14 de agosto

Recentemente em forte alta por conta das mudanças na gestão após a família Klein voltar a ser majoritária na companhia, o segundo trimestre não aponta para ser positivo para a Via Varejo, segundo aponta a XP, ainda refletindo as dificuldades enfrentadas para alavancar a sua operação.

“Esperamos um trimestre fraco para Via Varejo, com baixo crescimento nas lojas e na operação online, além de contração de margem Ebitda de 1,1 ponto percentual. Porém, acreditamos que os investidores devam focar nos resultados com a nova gestão (ou seja, a partir do segundo semestre)”, avalia a equipe de análise.

Resultados para ficar de olho 

Santander Brasil (SANB11) – 24 de julho

Um bom resultado, mas longe de ser ótimo. É essa a expectativa sobre os números do Santander Brasil, com a lucratividade devendo cair na comparação com o primeiro trimestre de 2019, mas ainda acima de 20% (expectativa de 20,2% para o ROE), segundo estimativa do Itaú BBA. 

Já a receita líquida de juros deve aumentar 1,2% no trimestre, com um mix de varejo mais arriscado compensando a concorrência de preços, apontam os analistas. 

O Brasil Plural, por sua vez, aponta que a dinâmica de ganhos do Santander deve continuar em meio ao ciclo de crédito melhor após a recuperação bem-sucedida de suas operações de varejo. A expectativa para os analistas é de lucro de R$ 3,6 bilhões, com um ROE de 20,9%. 

Ambev (ABEV3) – 25 de julho

A Ambev deve apresentar crescimento no volume de vendas de cerveja no Brasil, mas os números devem seguir pouco inspiradores. De acordo com a XP, o volume de cerveja deve subir 1,5% no ano, ainda com os custos impactando as margens. 

Já o Itaú BBA ressalta que, apesar de um cenário macroeconômico ainda de baixo crescimento, a companhia deve ver o volume de vendas subir 2%. Porém, aponta, a base de comparação é fraca (com greve dos caminhoneiros, parcialmente compensado por um melhor volume da Copa do Mundo), enquanto a empresa provavelmente está ganhando em segmentos premium e de maior valor.

Itaú Unibanco (ITUB4) – 29 de julho

O Brasil Plural espera que os lucros acelerem para alta de 11,6% na base de comparação anual, para R$ 7,1 bilhões, implicando em um ROE de 23,5%, sendo o maior entre os bancos privados. 

“Esperamos que a aceleração dos lucros seja impulsionada pelo crescimento da margem financeira, principalmente devido à aceleração gradual da sua margem financeira com os clientes, que é particularmente importante para o crescimento dos ganhos”, apontam os analistas. Também há uma projeção de crescimento do crédito em 9,7%, para R$ 569 bilhões, com destaque para pessoas físicas e pequenas e médias empresas. 

Vale (VALE3) – 31 de julho

A expectativa é de que a companhia apresente resultados sólidos, dados os maiores preços do minério de ferro. Porém, eles devem ser parcialmente compensados por maiores custos.

“Esperamos vendas em linha, embora a parada da Brucutu na maior parte do segundo trimestre de 2019 tenha impacto a produção”, afirma a XP. 

O Bradesco BBI também aponta que a mineradora deve registrar bons números em meio ao aumento em US$ 17 a tonelada do minério 62%, implicando em um preço médio realizado de US$ 94 a tonelada. Porém, cabe ressaltar, a Vale deve registrar mais US$ 1 bilhão em provisões relacionadas a Brumadinho, o que deve impactar o Ebitda e o lucro líquido. 

Banco do Brasil (BBAS3) – 8 de agosto

Segundo aponta o Itaú BBA, o Banco do Brasil deve reportar números mistos no segundo trimestre de 2019, com as menores despesas administrativas ofuscando o maior custo de risco (que tem a qualidade se deteriorando com o aumento de maus pagadores).

Os analistas esperam um lucro de R$ 4,3 bilhões, alta de 0,7% na comparação com o trimestre anterior e alta de 32% na base de comparação anual. Já a rentabilidade deve seguir em alta, passando de 13,2% para 16,5%. 

O Brasil Plural também aponta que a instituição deve seguir no passo em direção à construção de maior rentabilidade e vê um lucro de R$ 4,4 bilhões para o período, implicando em um ROE de 16,4%. 

“Esperamos que o banco aumente as provisões para Atvos (empresa agrícola da Odebrecht) para entre R$ 350 e R$ 400 milhões (10% de sua exposição a crédito)”, afirmam os analistas do banco. 

BRF (BRFS3) – 9 de agosto

A expectativa do Itaú BBA é de que a empresa registre um Ebitda na faixa de R$ 1 bilhão “pela primeira vez desde o primeiro trimestre de 2016, provavelmente desencadeando uma reação positiva”.

“A febre suína africana na China já está beneficiando a BRF, elevando os preços globais de proteína”, destaca, acrescentando que a empresa também conta com menores pressões de custo de insumos no segundo trimestre.

Suzano (SUZB3) – 9 de agosto

Um trimestre melhor, mas a partir de uma base muito fraca e ainda sofrendo com os preços mais baixos de celulose. A Suzano deve apresentar um resultado sem brilho do segundo trimestre, apesar de leve recuperação, aponta o Bradesco BBI. 

“A Suzano conseguiu retomar parcialmente as remessas após um fraco desempenho no primeiro trimestre de 2019, embora os volumes totais ainda devam ficar abaixo dos níveis do segundo trimestre de 2018”, afirmam os analistas do banco. Já o custo caixa realizado por tonelada deve aumentar em cerca de 7% em relação ao trimestre anterior, devido a menor diluição do custo fixo e maiores custos da celulose de fibra curta. 

Magazine Luiza (MGLU3) – 12 de agosto

Um dos destaques de alta dos últimos anos na bolsa brasileira, o Magazine Luiza não deve registrar números muito expressivos neste segundo trimestre, com expectativa de desaceleração no crescimento de vendas tanto para as lojas físicas quanto o online, além de contração nas margens, segundo aponta a XP. “Porém, não acreditamos que isso será uma surpresa para o mercado, e nem indicação de piora da operação, uma vez que a base de comparação é muito alta”, avaliam. 

Nesta linha, o Bradesco BBI aponta que o Magalu teve uma forte campanha na Copa do Mundo no ano passado com crescimento nas vendas nas mesmas lojas de 27% e, por conta disso, espera que o desse ano seja perto de zero. Por outro lado, a expectativa é de um forte crescimento no volume bruto no comércio eletrônico, de 47%. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.