Com resultado recorde, Usiminas mostra por que ação já subiu 50% em 2021 – mas analistas se dividem sobre ânimo com papel

Após resultado, BBI elevou preço-alvo e reiterou companhia como top pick da América Latina, enquanto XP e Morgan seguem com recomendação neutra

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Inaugurando a temporada de resultados, a Usiminas (USIM5) mostrou por que sua ação registra uma das maiores altas do Ibovespa em 2021, com ganhos de cerca de 50% no acumulado do ano.

Apesar do papel USIM5 registrar queda na sessão pós-balanço, de cerca de 2% às 11h40 (horário de Brasília), a avaliação geral dos analistas é de que a companhia publicou bons números dos três primeiros meses do ano, em meio ao lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) e receita recordes, beneficiadas pela forte demanda de aço no país, que avalizou alta nos preços. Na véspera, cabe destacar, os ativos subiram 5,4% à espera dos resultados.

A siderúrgica teve lucro líquido de R$ 1,2 bilhão no primeiro trimestre deste ano, versus prejuízo de R$ 424 milhões em igual período de 2020. Já na comparação com o quarto trimestre, o lucro caiu 17,9%, explicado por efeitos de reversão de avaliação de ativos (impairment), além do ganho no resultado financeiro de R$ 220 milhões no trimestre passado devido à variação cambial, o que não ocorreu neste trimestre, de modo que o lucro líquido foi apenas um mero efeito contábil, não afetando a geração de caixa da companhia.

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O Ebitda ajustado teve uma disparada de 325%, para o recorde trimestral consolidado de R$ 2,4 bilhões. A margem subiu para 34%, de 15% um ano antes.

Analistas esperavam, em média, lucro líquido de R$ 934,24 milhões e Ebitda de R$ 1,759 bilhão, de acordo com dados da Refinitiv.

O volume de vendas de aço da Usiminas cresceu 20% ante o mesmo período de 2020, para 1,25 milhão de toneladas, enquanto a comercialização de minério de ferro caiu 12%, para 1,94 milhão de toneladas. A receita líquida aumentou 86%, para R$ 7,1 bilhões, recorde trimestral.

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Para o segundo trimestre, a Usiminas estima que o volume de vendas de aço alcance 1,2 milhão a 1,3 milhão de toneladas. No final de março, o caixa e equivalente de caixa consolidado era de R$ 4,6 bilhões, abaixo dos R$ 4,9 bilhões do final de 2020, principalmente pelo aumento do capital de giro, para R$ 4,9 bilhões, mas boa parte compensado pela forte geração de Ebitda.

A XP destaca que a Usiminas reportou outro forte resultado, acompanhando o melhor mercado doméstico de aço e preços mais altos do minério de ferro. A alavancagem medida pela razão entre dívida Líquida e o Ebitda ficou em 0,3 vez (estável versus quarto trimestre de 2020), como consequência de melhores números operacionais compensados por um maior câmbio na marcação a mercado da dívida.

Em relação à siderurgia, melhores volumes de vendas, 8% acima do esperado pelos analistas da XP, preços realizados 6% acima da expectativa e mix de produtos – com melhores vendas para setor automotivo – foram os principais destaques do trimestre. A forte receita mais do que compensou um dado de despesas operacionais, ou opex, mais alto.

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Já o Ebitda da mineração, de R$ 1,1 bilhão (queda de 31% frente o quarto trimestre e 5% abaixo do esperado pela XP) é resultado de volumes sazonalmente menores e parada de manutenção em uma das plantas de beneficiamento (1,95 milhão de toneladas, queda de 14% na base trimestral) compensando os preços mais altos do minério de ferro (alta de 25% no trimestre, a US$ 167 a tonelada na média do trimestre). Por outro lado, o custo caixa por tonelada foi 21,6% maior, principalmente devido a uma menor diluição de custos fixos (menores volumes) e menores vendas CFR (Cost and Freight, 66% das vendas no primeiro trimestre de 2021 versus 76% no quarto trimestre).

No mercado interno, Yuri Pereira e Thales Carmo, analistas da XP, o principal negócio da Usiminas, um dólar ainda alto e melhores preços internacionais abrem espaço para novos aumentos de preços, dada a demanda mais forte com baixos estoques. “No futuro, devemos ver melhorias adicionais nos resultados da empresa em 2021, devido à recuperação do setor automotivo”, avaliam os analistas.

A Levante destaca que a empresa aproveita um excelente momento de alinhamento  no mercado de aço, com demanda externa forte, além da demanda doméstica puxada pela recomposição de estoques na indústria, oferta restrita, câmbio em patamares altos. “Isso favorece a rentabilidade da companhia, que vem aumentando a sua produção após o religamento de altos fornos para produzir mais aço, além do repasse de preços sem dificuldades”, ressalta a equipe de análise.

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Enquanto destaca o Ebitda ajustado muito superior a suas expectativas, o Morgan Stanley aponta que o caixa das operações ficou negativo em R$ 7 milhões, bem abaixo da estimativa de dado positivo de R$ 1,275 bilhão devido ao consumo de capital de giro significativamente maior. Mas, no quadro geral, os números foram positivos.

Cautela ou otimismo? 

Em meio à forte alta dos ativos e com a recuperação ainda incerta do setor automotivo no Brasil (que demanda aço plano, fabricado pela Usiminas), muitas casas de análise têm cautela com os ativos USIM5. É o caso da XP e do Morgan, que possuem recomendação neutra ou equivalente `a neutra para os papéis, com preços-alvos respectivos de R$ 16,50 e R$ 16.

Por outro lado, o Bradesco BBI está entre os mais otimistas, tendo elevado mais uma vez as estimativas para a Usiminas à medida que incorporou os resultados do primeiro trimestre e um cenário cada vez mais otimista para os próximos resultados da empresa. De acordo com o banco, o cenário mais positivo está se concretizando.

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“Os preços do aço continuaram surpreendendo positivamente, enquanto a demanda continua forte, sendo improvável que esfrie antes do quarto trimestre”, avaliam os analistas.

De acordo com Thiago Lofiego e Isabella Vasconcelos, analistas do BBI, há (muito) mais por vir nos próximos trimestres devido a uma rara combinação de fatores. Mais significativamente: (i) os preços internacionais de aços planos sustentados em patamares altos; (ii) os fortes preços do minério de ferro – os analistas elevaram a estimativa de US$ 140 para US$ 150 a tonelada, (iii) um real depreciado (expectativa do dólar fechar 2021 a R$ 5,40) e (iv) uma demanda doméstica saudável de aço.

Assim, agora, os analistas esperam que o Ebitda da Usiminas atingirá o recorde histórico de R$ 11 bilhões em 2021 (contra R$ 7,5 bilhões anteriormente). Desta forma, elevaram o preço-alvo de R$ 22 para R$ 32, configurando um potencial de alta de 44% em relação ao fechamento da véspera e reiterando a ação da companhia como top pick da América Latina no setor siderúrgico.

O Itaú BBA também reforça a sua visão positiva para USIM5, com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado), ainda que com preço-alvo de R$ 20, abaixo do patamar de R$ 22 que as ações negociavam nesta sexta.

A compilação feita pela Refinitiv com casas de análise que cobrem o papel mostram essa divisão, com sete possuindo recomendação de compra, cinco com recomendação neutra e só uma com venda para o ativo.

O resultado da companhia serve de referência para entender o que esperar dos próximos números divulgados pelas demais empresas do setor de siderurgia e mineração, que também serão acompanhados de perto pelo mercado, com alguns números já sendo divulgados na próxima semana.

A Vale (VALE3) divulga seu  resultado na próxima segunda-feira (26), CSN (CSNA3) no dia 28 de abril, enquanto Gerdau (GGBR4) revelará os seus números no próximo dia 5 de maio.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.