Com juros elevados, índice de ações small caps sofre mais que Ibovespa em 2024

Companhias menores sofrem ainda mais do que o Ibovespa, por conta de visão de economia mais fraca e por maior custo das dívidas

Vitor Azevedo

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Os juros altos vêm pesando sobre o desempenho da Bolsa brasileira, com o Ibovespa caindo mais de 8% no ano e figurando como um dos piores índices do mundo. Mas uma classe de ativos sofre ainda mais: as small caps.

Essas companhias, com valor de mercado menor, têm seu principal índice recuando quase o dobro do que o IBOV, com queda de 15% em 2024. Assim, o SMLL11 negocia por volta dos 1.990 pontos, patamar que não tocava desde meados do ano passado.

As companhias menores, historicamente, são mais expostas a taxas mais altas. De um lado, elas usualmente são mais ligadas ao mercado interno e, com juros mais altos, a economia tende a desacelerar.

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E, pela mensagem da ata do Copom desta terça-feira, a perspectiva é de que os juros sigam altos – por um bom tempo.

“O grande atributo das small caps é o potencial crescimento. Elas são empresas que crescem mais do que as grandes normalmente. Mas quanto maior a taxa de juros, menor o crescimento projetado. A avaliação das empresas pelo fluxo de caixa descontado fica pior”, explica Werner Roger, CIO da Trígono Capital.

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Small caps são mais sensíveis a juros

Já no que tange ao fluxo de caixa descontado, essas empresas sofrem pelo lado do faturamento, pela já mencionada desaceleração da economia. Além disso, sofrem impacto também do custo de dívida, uma vez que costumam ser mais alavancadas, tomando dívida para crescer.

 “O recente comportamento do mercado de juros brasileiro se deve basicamente a duas questões. Primeira, a percepção de risco fiscal aumentando, com o governo não tomando medidas de redução de despesas, apenas focando na criação de impostos, gerando algumas trapalhadas, trazendo incertezas”, diz Roger.

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Fora as questões internas, o gestor da Trígono também menciona que as small caps estão sendo impactadas negativamente recentemente pelo fluxo de saída dos estrangeiros. Isso acontece, não só pela deterioração do cenário local, mas sobretudo pela alta dos juros nos Estados Unidos. 

Juro americano e Ibovespa

Taxas mais altas na maior economia do mundo minguam o capital visto fora dela, com investidores preferindo a segurança, do tesouro americano, por exemplo. A consequência, para o Brasil, é investidores procurando, inicialmente, as ações de maior capitalização – listadas no Ibovespa.

Ou seja, ações com mais liquidez (para vender fácil no caso de o cenário mudar), e somente depois que essas estão “bem precificadas”, os investidores voltam o radar para as small caps

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No começo do ano, Roger lembra que havia toda uma crença de que os juros nos Estados Unidos cairiam de forma mais rápida do que a precificada hoje em dia. No entanto, ao longo deste ano, a visão foi mudando conforme a economia americana se mostrava ainda aquecida.

Joao Paulo Reis, gestor da Biguá Capital, vai no mesmo caminho, quando o assunto é explicação da queda das small caps, mencionando uma menor atratividade do mercado de capitais.

“Entendemos que há a necessidade de algum fato que catalise uma retomada na confiança dos investidores, hoje em níveis muito baixos. Esse fato ou efeito catalizador pode vir tanto de uma sinalização de estabilização da inflação nas economias maduras e o consequente início da queda das taxas de juros, como de uma manifestação e ações inequívocas do compromisso com as contas publicas por parte do nosso governo”, pontua. 

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