Colunista InfoMoney: O gestor, esse desconhecido

<div class="select">Por Marcelo Guterman</div> No Brasil, com algumas raras e honrosas exceções, o gestor é um ilustre desconhecido para o investidor. Mas deveria ser diferente?

Marcelo Guterman

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“David Corkins, um dos mais experientes e habilidosos gestores da Janus Asset Management, foi-se embora em novembro. Foi uma grande perda para uma empresa que aparentemente estava se recuperando. Corkins havia conseguido bons resultados para o fundo Janus Growth Income. O anúncio seguiu a notícia de que o veterano gestor Scott Schoelzel (gestor do Janus Twenty) se desligará da empresa até o final do ano. Também a estrela ascendente Minyoung Sohn está partindo.”

O trecho acima foi retirado de um boletim da Morningstar1, publicado no último 13 de dezembro. E é bem típico da cultura de fundos de investimento nos Estados Unidos, onde o gestor, aquele que toma as decisões de investimento, é muitas vezes um ícone.

Muitos gestores fizeram e fazem história naquele país, como Bill Miller (Legg Mason), Peter Lynch (Fidelity), Bill Gross (PIMCO) e tantos outros. Os investidores, muitas vezes, seguem o seu gestor predileto quando estes mudam de empresa. Seria o mesmo que mudar de time de futebol quando o seu ídolo é negociado com outro clube.

“É importante que você, para começar, reconheça o papel que o gestor tem para a performance do seu fundo”

No Brasil, isso tudo parece meio esquisito. Em um país em que a maioria dos investidores ainda acha que, quando investe em fundos de renda fixa, está comprando um CDB de um banco, falar em gestor de fundos não parece fazer muito sentido. Com algumas raras e honrosas exceções, como Armínio Fraga do Gávea Investimentos ou Luís Stuhlberger da Hedging Griffo, o gestor é um ilustre desconhecido para o investidor. Mas deveria ser diferente?

Para responder a esta questão, precisamos entender melhor a natureza dos fundos de investimento. Um fundo de investimento é um negócio que envolve principalmente confiança. Você entrega seu dinheiro para que um terceiro administre em seu nome. As decisões de investimento que o gestor tomar refletirão diretamente no seu bolso.

É uma senhora responsabilidade. Note que é diferente de um CDB, em que o dinheiro que você dá ao banco vai voltar para você em uma determinada data, reajustado por uma determinada taxa de juros, independentemente de qual tenha sido a estratégia adotada pelo banco. É claro, se o banco não quebrar nesse meio tempo.

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Já no caso dos fundos, as decisões tomadas pelo gestor importam, e muito. Por isso, é importante que você, para começar, reconheça o papel que o gestor tem para a performance do seu fundo. No Brasil, essa confusão se agrava pelo fato de que os maiores gestores são também os maiores bancos, o que enseja perguntas do tipo: “Qual banco está pagando melhores taxas?” – referindo-se a fundos de investimento…

Quando falamos em gestor, podemos estar nos referindo à pessoa física (como vimos acima) ou à empresa que faz a gestão do fundo. Muitas companhias adotam a filosofia do trabalho em equipe, em que não há um determinado gestor que se destaque. Nem por isso o papel do gestor, nesse caso a equipe, é de menor importância. Seja um one-man-show, seja uma equipe, é fundamental ter em mente que a saúde do seu investimento depende das decisões tomadas por eles.

Inegavelmente, este é um aspecto que afugenta muitos investidores, os quais preferem tomar as rédeas de suas próprias finanças a confiar em terceiros. No entanto, como vimos no artigo do mês passado, essa não é uma alternativa para muitos de nós, que preferimos gastar o nosso pouco tempo livre em coisas mais nobres, como família, hobbies, descanso, etc.

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Portanto, se não pode ir contra eles, aprenda a conviver com eles. No próximo artigo, veremos algumas regras para tentar minimizar o risco de ter dores de cabeça com a escolha do seu gestor.

1Morningstar é uma das principais empresas de avaliação de fundos de investimento dos Estados Unidos.

Marcelo Guterman é professor do MBA de Finanças do Ibmec-SP e escreve mensalmente na InfoMoney, às sextas-feiras.
marcelo.guterman@infomoney.com.br