Colunista InfoMoney: início da crise nas finanças globais

Desde pico histórico atingido em 2008, Ibovespa opera na gangorra; mas índice tem tudo para fechar 2010 em alta

Decio Pecequilo

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O National Bureau of Economic Research, responsável pelas mais precisas marcações da economia dos Estados Unidos, concluiu que o quarto trimestre de 2007 foi o início de uma crise que ainda hoje continua atormentando as finanças globais. E o pior: o primeiro mundo continua longe de uma solução aceitável, carregando e acumulando todas as mazelas produzidas nesse longo período.

Nesse espaço de tempo, não vislumbramos saídas válidas para o monumental número de desempregados nos países mais afetados, nem para suas estupendas dívidas públicas e estarrecedores déficits fiscais.

Mesmo assim, nosso índice Bovespa fechou o ano de 2007 com uma valorização de 43,65%.

No ano seguinte, com a crise já mostrando seus principais e graves vetores, nosso mercado de renda variável continuou evoluindo sem impedimento, até que em 20 de maio de 2008, após 10 pregões consecutivos de alta, batemos incríveis 73.517 pontos, atingindo o recorde histórico desde que o índice Bovespa foi instituído, em 2 de janeiro de 1968.

Daí em diante passamos a sentir os efeitos da corrosão da economia global. Em 17 de setembro de 2008, com a quebra do Banco Lehman Brothers, o Ibovespa atingiu os 45.909 pontos, ou seja, uma queda de 27.600 pontos em poucos meses.

“Temos todas as condições
de passar a operar em
alta no restante do ano,
refletindo nossos ótimos
fundamentos macroeconômicos”

Mas o desastre mesmo ocorreu pouco mais de um mês depois, mais exatamente em 27 de outubro de 2008, quando nosso índice Bovespa bateu 29.435 pontos, uma perda de 44.082 pontos em relação ao seu pico histórico – um trajeto marcado por momentos insanos nas economias ao redor do mundo.

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Fechamos o ano com uma perda de 41,22%. E, como curiosidade, temos que em 30 de abril desse mesmo ano de 2008, ganhamos finalmente nosso merecido grau de investimento, mas sendo quase que totalmente diluído dentro de todos esses péssimos eventos.

Entramos em 2009 com nossa economia destacando-se como uma verdadeira força viva em relação ao mundo desenvolvido, honrando nossa posição de emergente preferido entre os BRICs, com nosso mercado de renda variável encerrando o ano com um ganho de 82,66% ou fantásticos 140,07% em dólares, a maior valorização das bolsas de valores no mundo, bem à frente da Rússia, com 129,45%, da Indonésia, com 121,94%, de Nova York, com 19,82%, e também de Londres, com 33,81%.

A gangorra de 2010
Iniciamos 2010 com uma probabilidade de novos e ótimos ganhos, quando, em 8 de abril, o Ibovespa bateu em 71.784 pontos, exatos 1.733 pontos abaixo do pico histórico. Porém, pouco mais de um mês depois, caímos para 58.192 pontos, a pior pontuação até agora em 2010.

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O que motivou essa rápida queda de 13.592 pontos, novamente, veio de fora: dessa vez, o surto de piora da situação fiscal de alguns países da zona do Euro, os chamados PIIGS.

Pouco mais tarde, após três meses consecutivos de perdas, o Ibovespa chega ao fim de julho com um ganho de 10,80% após dez pregões consecutivos de alta, reduzindo a perda do corrente ano para 1,56%.

Com isso, fechamos o mês como a melhor aplicação financeira. E, o que é mais importante, tendo todas as condições de passar a operar em alta no restante do ano, refletindo, mais do que nunca, nossos ótimos fundamentos macroeconômicos e os bons resultados alcançados pelas empresas cotadas na bolsa, evitando assim que a atual tendência de alta do mercado seja de curta duração.

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Contudo, é bom lembrarmos sempre que o imponderável pode ocorrer sob a forma de uma nova recessão nas economias ricas do mundo, que se mostram cada vez mais contaminadas com o temível vírus da deflação.

De qualquer forma, a série de dez pregões de altas consecutivas com que fechou o mês de julho é a melhor desde agosto de 2003.

Decio Pecequilo é operador sênior da corretora TOV e escreve mensalmente na InfoMoney.
decio.pecequilo@infomoney.com.br