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SÃO PAULO – Enfrentando diversos desafios no setor de educação em meio à pandemia do coronavírus como o aumento da inadimplência e a maior evasão, as ações da Cogna (COGN3) e a Yduqs (YDUQ3), tiveram baixas respectivas de 31,16% e 20,48% de suas ações na B3 apenas em agosto, sendo algumas das maiores quedas do Ibovespa no período.
No acumulado do ano, as baixas são ainda mais expressivas: até o fechamento de quarta, COGN3 tinha perdas de cerca de 48%, enquanto YDUQ3 tinha queda superior a 41%.
E, apesar de, a princípio, o cenário parecer pouco promissor, nos momentos de crise também surgem oportunidades. Neste sentido, apontam os analistas, algumas empresas estão mais bem posicionadas para captá-las, enquanto outras ainda terão que fazer o “dever de casa”. No atual cenário, quem estiver melhor posicionado em termos tecnológicos – com a tendência de digitalização após a pandemia – e também em outros segmentos além do ensino superior pode sair na frente.
De uma forma geral, os analistas ainda veem um cenário desafiador para a Cogna, apesar das boas perspectivas para a subsidiária Vasta (que abriu capital no fim de julho na Nasdaq), enquanto veem a Yduqs mais bem posicionada em meio a esse novo cenário.
Em um relatório sobre o setor em geral, Pedro Mariani e Roberto Otero, analistas do Bank of America destacaram que o processo de digitalização, acelerado no pós-pandemia, cria uma oportunidade considerável de receita. Eles apontam principalmente para as possibilidades de plataforma de educação no segmento do ensino fundamental.
Em termos práticos, os analistas avaliam que as escolas que adotam sistemas de aprendizagem online (ou seja, plataformas de ensino à distância, EAD) têm uma vantagem significativa em relação aos que adotam livros didáticos. Eles também avaliam que os programas suplementares (que auxiliam a manutenção e o desenvolvimento da educação em níveis ou modalidades específicas), apesar de mais cíclicos, ganharão mais relevância no médio prazo. O tamanho desse mercado no Brasil, ainda pouco explorado, é de R$ 16 bilhões.
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“Aprender por meio de vídeo, princípios de ‘gamificação’, realidade aumentada e mista não é algo novo, mas provavelmente se tornará muito mais difundido. Isso não afeta o conteúdo, mas afeta como o conteúdo será experimentado”, apontam.
Eles ainda reforçam: aulas presenciais continuarão sendo o formato predominante, ainda mais levando em conta que as medidas de distanciamento começam a ser flexibilizadas. Otero e Mariani apontam ainda que as escolas oferecem interações sociais muito necessárias e um lugar seguro para as crianças serem supervisionadas enquanto os pais trabalham.
De qualquer forma, eles apontam novas tendências para a educação que surgem com a “geração Alpha”, aquela que engloba todas as crianças nascidas a partir de 2010 e a primeira a ser 100% digital. A geração Alpha, ressaltam, pensa digitalmente, é prática, espera personalização e busca um propósito por trás de seu aprendizado.
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Com isso, os pais e alunos buscarão uma formação mais abrangente. “Vencedores neste setor, em nossa opinião, serão aqueles que liderarem a transformação digital em conjunto com o aprimoramento acadêmico para seus alunos. As escolas que estão adotando sistemas de aprendizagem online estão um passo à frente e esperamos que a conversão de livros para learning systems acelere no Brasil a partir de agora”, avaliam.
Caminho das empresas na Bolsa
Para os analistas, as escolas que utilizam esses sistemas provavelmente serão as que mais se destacarão nesse nova tendência, principalmente aquelas que utilizam os sistemas mais digitalizados, como o Sistema Ari de Sá, SAE Digital, Positivo, da Arco, e as marcas justamente da Vasta, do grupo Cogna.
“Esses players possuem plataformas educacionais bem estabelecidas que já integram o conteúdo que deve ser entregue em sala de aula, com recursos que devem ser utilizados em casa, remotamente. Esses recursos incluem plataformas de avaliação, ferramentas de gamificação, interfaces que conectam alunos com professores virtualmente, tutoria e vídeo-aulas pré-gravadas, entre outros”, apontam Pedro Mariani e Roberto Otero.
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Por sinal, as ações da Vasta, negociadas nos EUA, tiveram a cobertura iniciada pelo Bank of America com recomendação de compra na semana passada, com os analistas destacando justamente a oportunidade da companhia por oferecer uma ampla gama de programas complementares e com oportunidade de venda cruzada com escolas parceiras. Além do BofA, UBS, Morgan Stanley e Goldman Sachs iniciaram cobertura para os ativos da subsidiária da Cogna, com preços-alvos que projetavam alta de 25% a 62% para os papéis.
A Vasta presta serviços educacionais, tanto de conteúdo pedagógico quanto de gestão administrativa, a outras escolas. Entre esses negócios estão, sistemas de ensino como Anglo e Pitágoras, além de quatro editoras de livros didáticos, escolas de idiomas e a plataforma digital Plurall, usada atualmente por milhares de alunos que estão tendo aulas online durante a pandemia. Desta forma, entre as vantagens da Vasta, estão as suas ferramentas digitais. A companhia é avaliada em R$ 8,8 bilhões.
Porém, o otimismo do mercado com a subsidiária não se transfere para a Cogna como um todo. Na última semana, o BB Investimentos cortou a recomendação para os ativos COGN3 de outperform (desempenho acima da média do mercado) para neutra, com o preço-alvo sendo cortado de R$ 8 para R$ 7 (ou um potencial de valorização de 18% frente o fechamento da véspera).
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Entre as principais questões para a Cogna, está a Kroton, que é o segmento da companhia no ensino universitário, unidade de negócio que foi o foco da companhia nos últimos 20 anos e hoje responde por cerca de 60% do faturamento total. A Cogna aproveitou os resultados particularmente fracos nesse segmento durante o segundo trimestre para anunciar uma verdadeira transformação no ensino superior – contudo, os analistas ainda se mostram céticos sobre quando esses resultados vão aparecer.
Os cursos presenciais vão passar por uma reestruturação para versões via ensino à distância – uma espécie de hibridização dos cursos, com os estudantes menos resistentes a esse novo formato no pós-pandemia -, reduzindo os custos da companhia.
Conforme aponta a analista Melina Constantino, que assina o relatório do BB Investimentos, a reestruturação será uma longa caminhada e é preciso ter mais clareza para traçar um cenário mais positivo para as ações. Na mesma linha, o Credit Suisse manteve a recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) na sexta-feira após o resultado para os ativos da companhia, com preço-alvo de R$ 6 (leve alta de 1,2% frente o fechamento da véspera).
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Enquanto a Vasta brilha aos olhos do mercado, mas ainda há ceticismo com a controladora Cogna, o Morgan Stanley ressalta a Arco Educação, também listada na Nasdaq, como bem posicionada em um cenário de digitalização do ensino, destacando a aquisição recente do Sistema Positivo de Ensino e de 60% da Escola da Inteligência, do psiquiatra e escritor Augusto Cury, por R$ 288 milhões.
Os analistas ressaltam que a Arco está usando tecnologia de última geração e processamento de dados para melhorar os resultados acadêmicos das escolas de ensino fundamental, além de acelerar a incorporação de novos clientes (com taxa de retenção superior a 95%) e ter grande potencial de venda cruzada com escolas parceiras, explorando novos segmentos e mercados (Nave à Vale, Geekie e Escola da Inteligência), operando em um modelo altamente escalável, com dinâmica de preços positiva e que permite margens sustentáveis. Contudo, os analistas seguem com recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado), com preço-alvo de US$ 51,40 por ativo.
Yduqs: à frente da Cogna?
Como já destacado acima, outra grande empresa do segmento listada na Bolsa brasileira, a Yduqs também reportou resultados fracos no segundo trimestre e viu suas ações caírem forte em agosto. Contudo, a visão dos analistas de um modo geral após o resultado é mais positiva para a companhia, uma vez que as mudanças sinalizadas pela Kroton já estão sendo realizadas há mais tempo no ensino superior da companhia.
“Apesar dos impactos negativos em consequência dos efeitos da pandemia, consideramos que a Yduqs pode continuar demonstrando eficiência operacional nos pilares que têm sido o foco da companhia no período pós-Fies, que são os investimentos no EAD, o aumento de vagas de medicina, o crescimento orgânico e via fusões e aquisições”, avalia Melina, do BB Investimentos, que manteve recomendação de compra para os ativos com preço-alvo para 2021 de R$ 40, o que corresponde ao um potencial de valorização de 44% em relação ao fechamento da véspera.
Após o resultado, em que destacou a queda “significativa” do Ebitda (afetado por itens não-recorrentes relativos à pandemia, como dívidas e provisionamentos, o Itaú BBA também reforçou sua recomendação outperform para o papel com preço-alvo de R$ 53 (alta de 91% frente o fechamento da véspera).
Dentre os pontos positivos, os analistas do banco destacaram o forte desempenho sustentado da base de alunos EAD e crescimento da receita, além da expansão da base de alunos na modalidade “faculdade flex” – ou seja, o modelo híbrido que combina aulas presenciais e online – e aumento da taxa de retenção dos alunos.
Outros pontos destacados são a expectativa de sinergias com a compra da Adtalem, dona do Ibmec, sendo que de 70% a 80% delas devem ser capturadas até o final de 2021. Além disso, a Aura, novo sistema de aprendizagem digital da Yduqs, já está operando com cerca de 80 mil alunos, combinando o experiência presencial com o ensino à distância.
A receita somada dos segmentos EAD + Medicina representou quase 40% do total de receitas neste trimestre e, considerando que o ensino superior presencial deve ser bastante prejudicado pela deterioração do cenário econômico em meio à pandemia, o EAD e os cursos de medicina devem continuar ganhando relevância no total das receitas, avalia o BB Investimentos. A incorporação da Adtalem adicionou 210 vagas anuais de medicina ao portfolio da Yduqs e desse total, 100 vagas estão no âmbito do programa Mais Médicos II. A base total de alunos de medicina no segundo trimestre totalizou 5 mil alunos, crescimento de 32% na base anual.
Vale destacar que, em relatório de início de cobertura em meados de agosto, o Credit Suisse colocou a Yduqs como a preferida do setor. A recomendação é outperform, com preço-alvo de R$ 38 (potencial de valorização de 37%), mantida após o resultado do segundo trimestre.
Sobre Afya (também negociada na Nasdaq) e a Ser (SEER3), os analistas do banco suíço possuem recomendação neutra para ambas as companhias. Sobre a primeira, eles destacam que a empresa opera no crescente nicho de medicina e que tem uma demanda bastante reprimida, mas avaliam que o potencial de valorização parece um pouco limitado. O preço-alvo é de US$ 26 por ação, o que corresponde a um potencial de valorização de 3,88% frente o fechamento da véspera.
Já com relação a Ser, o Credit aponta que a empresa tem capturado as oportunidades de ensino à distância e, em uma menor escala, tem surfado a onda do crescimento da medicina, mas também veem pouco potencial de valorização para os papéis, possuindo preço-alvo de R$ 16 por ação – ou um upside de 3,56%. Cabe destacar que as ações da companhia também caem forte no ano, cerca de 44%.
Confira as recomendações dos analistas para as ações do setor (segundo consenso Bloomberg):
Empresa | Ticker | Recomendação de compra | Recomendação neutra | Recomendação de venda |
Cogna | COGN3 | 3 | 7 | 2 |
Yduqs | YDUQ3 | 12 | 1 | 1 |
Ser | SEER3 | 5 | 6 | 1 |
Ânima | ANIM3 | 9 | 1 | 1 |
Afya* | AFYA | 4 | 3 | 0 |
Vasta (da Cogna)* | VSTA | 4 | 0 | 0 |
Arco* | ARCE | 3 | 4 | 0 |
*Listadas na Nasdaq
Olhando para o quadro acima, principalmente comparando as duas maiores companhias do setor, analistas destacam preferência por Yduqs em relação à Cogna, apesar de ressaltarem otimismo com a subsidiária Vasta, que negocia na Nasdaq. Além dela, outras companhias do setor, a Afya e a Arco são listadas na bolsa estrangeira.
Sobre isso, vale destacar que, a partir desse mês, as companhias brasileiras negociadas no exterior terão permissão para emitirem BDRs, se desejarem, seguindo as regras estabelecidas pela Bolsa. BDRs são certificados que representam ações emitidas por empresas em outros países, mas que são negociados aqui, no pregão da B3 (veja mais clicando aqui).
Uma mudança real ainda deve demorar para acontecer (entenda clicando aqui), mas esse ponto deve ser monitorado de perto pelos investidores, principalmente aqueles interessados no setor de educação, que conta com algumas empresas brasileiras listadas no exterior. Além dessa resolução, qualquer investidor poderá negociar BDRs Nível I (não patrocinados), a depender do mercado em que os valores mobiliários que servem como lastro sejam listados. Antes, estes produtos eram restritos a investidores qualificados, com pelo menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras.
O cenário para as companhias do setor é desafiador, mas os analistas enxergam grandes oportunidades: o modo como cada uma delas aproveitará esse novo cenário será acompanhado de perto pelos investidores.
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