Clone do Ethereum desaba e deixa brasileiros com criptos “sem valor” na mão

Criptomoeda desvalorizou mais de 80% em 3 dias, antes mesmo de negociações serem liberadas em corretoras que operam no país

Paulo Barros

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Para além da atualização Merge do Ethereum, investidores de criptomoedas estavam de olho nos últimos dias em uma nova criptomoeda que surgiu do mesmo evento: a Ethereum PoW (ETHW), lançada por mineradores insatisfeitos por terem sido deixados de lado na mudança que quase zerou o consumo energético da principal blockchain de uso comercial.

O token ETHW ganhou vida na madrugada de sexta-feira (16) e, conforme prometido pelos criadores, começou a ser distribuído de graça para quem já tinha ETH na carteira até 24 horas antes, em uma proporção de um para um. O processo, conhecido no meio cripto como airdrop, virou uma chance de lucro fácil para quem já apostava no Ethereum “oficial”. No entanto, em apenas três dias, a festa parece ter acabado antes que os brasileiros sequer tivessem tido a chance de participar.

Em três dias, a nova criptomoeda desabou mais de 80%, de cerca de US$ 60 para menos de US$ 6, em meio a uma liquidação em massa do ativo. Enquanto isso, investidores brasileiros ficam com cada vez menos chances de liquidar seus ativos.

Isso porque, até agora, algumas das poucas exchanges que já negociam o ETHW desde as primeiras horas são OKX e MEXD, que aceitam reais, mas são pouco conhecidas, além da Poloniex, que não tem presença no Brasil. Corretoras brasileiras ainda não anunciaram oficialmente o suporte à nova criptomoeda.

Já a Binance, maior exchange global por volume negociado e que detém a maior fatia de mercado no Brasil, finalizou apenas nesta terça-feira (20) a distribuição da cripto para clientes que tinham saldo em Ethereum na plataforma. A empresa, no entanto, ainda não tem data para início das negociações.

Mesmo que os trades de ETHW fossem liberados imediatamente, clientes brasileiros só teriam chance de obter uma pequena fração do lucro ao qual teriam acesso na semana passada, e menos ainda quando comparado ao valor do ETH, que se mantém muito mais valioso que o clone – às 14h de hoje, seu preço é 226 maior.

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Em julho deste ano, mês mais recente de declarações de compras de criptos apurado pela Receita Federal, brasileiros adquiriram, em média R$ 418,90 em ETH. Mantido esse número, cada usuário teria direito hoje a, também em média, apenas R$ 1,85 na criptomoeda ETHW.

Problemas técnicos

Projetos que distribuem criptos de graça costumam passar por turbulências em um primeiro momento para tentar absorver a pressão vendedora, mas o sell-off do Ethereum PoW também seria sintoma da falta de crença no futuro da nova blockchain.

“O que a gente vai ter no momento posterior ao fork (bifurcação da rede) é um ecossistema fantasma, com a existência apenas de uma moeda e com os [aplicativos] DeFi quebrados, uma vez que não conseguirão funcionar sem stablecoinstokensNFTs“, alertou há mais de um mês o engenheiro especialista em blockchain Edilson Osório.

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“É muito difícil que essa moeda tenha uma sobrevida muito longa, por conta da falta do ecossistema onde ela será utilizada. Os casos de uso migrarão junto com o Ethereum”.

As previsões negativas vêm se confirmando até aqui, com o Ethereum PoW passando por problemas técnicos desde suas primeiras horas de vida. No começo, usuários relataram problemas para adicionar a nova rede a uma carteira como a MetaMask. Mais tarde, o CoinDesk verificou as alegações dos usuários e atestou que os servidores da criptomoeda estavam inacessíveis.

A blockchain também foi alvo de um “ataque de repetição”, tipo de hack indireto que explora um bug em aplicativos incompatíveis com a rede nova, e que acabam espelhando transações realizadas em uma outra cadeia. Nesse caso, hackers transferiram 200 ETH no Ethereum e, como consequência, obtiveram 200 ETHW automaticamente na rede do Ethereum PoW. No momento da transferência, os tokens obtidos valiam US$ 1,6 milhão.

A queda do Ethereum tem a ver com o clone?

As perdas do Ethereum PoW são expressivas, mas a versão oficial tampouco ficou imune à volatilidade dos últimos dias. Desde quinta-feira (15), quando passou pela Merge, o Ethereum recuou cerca de 16%. Entretanto, para Estevão Rizzo, executivo da startup brasileira Nftfy, não há motivos para acreditar que o desempenho do clone tenha qualquer influência sobre a versão original.

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“Na Web3, praticamente tudo é open source. O próprio Bitcoin tem várias cópias, e o Ethereum tem um outro fork, que é o Ethereum Classic. Nenhuma delas influenciou na rede principal”, conta Rizzo ao Cripto+ (assista à íntegra no player acima).

“No caso do Classic tinha até um motivo [para influenciar]. Havia uma discussão filosófica em torno da rede, porque houve uma fraude e foi decidido que o dinheiro [roubado] seria devolvido, e a turma do Classic não aceitou que se mexesse na rede. Nesse fork de agora não há nenhum motivo filosófico”.

Diante disso, a queda de preço do ETH, na opinião do especialista, tem mais a ver com o cenário macroeconômico do que com a cópia. Segundo o representante da Nftfy, apesar do ecossistema como um todo passar por dificuldades, o foco no longo prazo segue inabalável.

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“Na Nftfy [a queda do ETH] mexeu zero, continuamos programando e construindo, e tendo mais tempo e cabeça para lidar com pesquisa porque não tem a distração do movimento maluco de mercado”, explica.

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Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas