Cielo (CIEL3): Reprecificação de taxas é destaque positivo do resultado e analistas veem 2º tri ainda melhor

Do outro lado, entre a parte negativa, ficou o recuo do número de clientes e a queda do volume total transacionado

Vitor Azevedo

(Divulgação/Cielo)
(Divulgação/Cielo)

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A receita líquida da Cielo (CIEL3) foi o destaque positivo do balanço do primeiro trimestre de 2023 divulgado pela companhia na noite desta quinta-feira (28). A reprecificação da companhia em suas taxas, bem como toda a movimentação que ela vem fazendo, segundo analistas, mais do que compensou os baixos volumes – e há mais por vir.

Contudo, a reação aos resultados a princípio era tímida, com os papéis operando perto da estabilidade no início da sessão e ganhando forças no fim da manhã, acompanhando o maior ânimo do mercado. Às 11h25 (horário de Brasília), as ações CIEL3 subiam 1,33%, a R$ 5,33.

“A companhia apresentou um forte aumento no take-rate (o quanto de receita consegue extrair a cada real de volume transacionado), refletindo o movimento de reprecificação e melhor mix da empresa. Além disso, os produtos de antecipação apresentaram níveis recordes de penetração e crescimento considerável no volume financeiro, o que auxiliou na composição”, explica a Genial Investimentos, em relatório.

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A Cielo, já há algum tempo, vem se posicionando para cobrar taxas maiores e focando em clientes mais saudáveis, que, segundo a empresa, “precisam realmente dos seus serviços”.

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Por outro lado, durante todo o ano de 2022, por exemplo, a empresa viu seu número de clientes cair 12%. Entre janeiro e março, a base de usuários voltou a cair 4%, fechando em 1,02 milhão.

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Volumes transacionados e clientes foram pontos negativos

“Volumes transacionados e clientes foram os pontos negativos do trimestre. A Cielo Brasil apresentou um volume financeiro (TPV) fraco, somando R$ 201 bilhões, queda de 13,1% na base trimestral, devido principalmente à sazonalidade do período”, diz a Genial. “A surpresa mais negativa na volumetria foi a contração de 9,7% trimestres a trimestre e de 1,5% ano a ano no segmento varejo, revertendo o crescimento estratégico da companhia”.

Em sua reestruturação, anteriormente, a adquirente afirmou que o varejo era uma prioridade do seu negócio.

O JPMorgan, em sua análise do resultado, assinada pela equipe de analistas chefiada por Domingos Falavina, alerta que apesar da melhoria das taxas, a desaceleração do TPV e a perda de fatia de mercado podem ser obstáculos para a Cielo no futuro.

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“As receitas, no entanto, foram fortes indicando que a perda de TPV pode ter se concentrada em contas maiores não lucrativas. Em particular, a receita líquida da Cielo Brasil cresceu 17% no ano, em linha com o nosso consenso, com yield de 0,78%, significativamente acima dos 0,72% do quarto trimestre e do 0,67% de um ano atrás”, diz o banco americano.

Outro destaque trazido pelo banco foi a redução de custos da adquirente.

“Os custos consolidados, excluindo D&A, chegaram a R $ 1,6 bilhão, queda de 23% ano a ano (impactado pela venda do Merchant-e) e 14% no trimestre. No total, o Ebitda [Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês] atingiu R$ 994 milhões, com margem consolidada de 38,7%, alta de 13 pontos percentuais no ano”, dizem.

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O Goldman Sachs vai no mesmo caminho. Em relatório assinado pela a equipe de Tito Labarta, a instituição afirma que a redução dos gastos foram o principal driver da melhora dos lucros.

“As batidas de lucro foram impulsionadas principalmente por custos abaixo do esperado e maiores receitas de pré-pagamento”, comentam. “Gastos e despesas ficaram sob controle no trimestre, com custo de serviços caindo 6% trimestralmente e as despesas operacionais, 1%”.

Os analistas do banco explicam que  ambas as linhas foram afetadas pela venda da MerchantE. Na Cielo Brasil, os custos caíram 3% no trimestre, em menores custos relacionados ao POS, enquanto as despesas caíram 2% no trimestre, em menores gastos com  pessoal e despesas com vendas e marketing.

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Cielo avança em antecipação de recebíveis

O último ponto levantado pelos analistas foram os ganhos com a antecipação de recebíveis, que ficou em R$ 32,2 bilhões.

“É importante ressaltar que atribuímos a expressiva quebra de receita principalmente à aquisição de recebíveis, cujo volume de penetração atingiu o recorde de 26%, levando a receita desse segmento a crescer 130% no ano”, diz o time do Santander, liderado por Henrique Navarro.

Em balanços e teleconferências passadas, a Cielo já havia dito que um dos focos da reestruturação da companhia era, justamente, a maior oferta de serviços – incluindo a antecipação de recebíveis.

Tanto a Genial quanto o JPMorgan, por fim, chamam a atenção para o fato de que a Cielo deve, nos próximos trimestres, trazer resultados ainda melhores.

“Se o primeiro trimestre foi bom, imagine o segundo trimestre”, pontua a Genial. “Gastos operacionais 10% aquém do consenso e o próximo trimestre deve ter vento favorável de intercâmbio mais baixo”, diz o JP.

Segundo os especialistas, a mudança regulatória do intercâmbio dos cartões pré-pagos devem melhorar as margens das adquirentes (taxa de desconto líquida). Uma mudança estipulada pelo Banco Central, que entrou em vigor no dia primeiro de abril, colocou um limite de 0,7% para a tarifa de intercâmbio de cartões pré-pagos. Além disso, houve a simplificação de regras de cálculo desse limite e estabelecimento de prazos para a disponibilização de recursos aos estabelecimentos comerciais.

A Cielo deve também se beneficiar da mudança da sua precificação (taxa de desconto) em março de 2023 e de uma melhor dinâmica competitiva, uma vez que acaba de terminar o treinamento dos 400 novos colaboradores de vendas do varejo.

Executivos comentam principais pontos

Em teleconferência realizada na manhã desta sexta-feira, a diretoria da Cielo comentou os principais pontos do balanço divulgado na véspera.

Quanto a take rate, por exemplo, a empresa espera continuar realizando o que já tem feito. “Vamos continuar fazer o que fazemos bem feito, com foco em nichos produtivos e outras estratégias de aumento de volume. Objetivo é aumentar receita, mas mantendo lucratividade”, expôs Estanislau Bassols, diretor executivo da adquirente.

A Cielo segue afirmando que não irá subsidiar clientes para manter parte do mercado.

“Tenho convicção de que não iremos subsidiar o segmento de empreendedores, de que vamos atuar de forma rentável nas grandes contas e com uma política de preços saudáveis no varejo”, comento Bassols.

“Isso não significa, contudo, que não podemos somar estratégias em outros segmentos. No caso de empreendedores, ao pensarmos em base de clientes, ele concentra boa parte da variação negativa que tivemos no ano, mas é menos representativo no TPV”, acrescentou.

A empresa, no segmento de empreendedores, espera avançar com algumas soluções que envolvem link de pagamentos, QR Code para Pix e WhatsApp.

“Em grandes contas, tivemos até um crescimento no ano passado mas agora estamos recuando por conta da concorrência, que deve estar operando no negativo. Nós não vamos atuar alugando market share. Vamos continuar melhorando qualidade e operacionalidade, na busca do cliente de volta”, menciona o CEO.

Já no varejo, a estratégia é observar o segmento de forma inteligente, de olho na subsegmentação. “A qualidade e proatividade no atendimento ao cliente é um ponto. O segundo, é que estamos aumentando o número de vendedores, incorporando 400 no último trimestre, e que ainda não tão no seu pico de atividade, que deve vir no terceiro trimestre. De forma adicional a isso, temos o apoio comercial junto com bancos parceiros”, falam. ” Não aceitamos perder market share no varejo de forma contínua e entendemos, com o resultado, que talvez faremos uma nova expansão”.

Quanto aos recebíveis, a Cielo defende que o melhor resultado foi impulsionado pelo avanço na operação, pela alta dos juros e pelo cenário do mercado de credito.