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O Ibovespa encerra 2022 com alta de 4,69%, em um ano marcado por forte elevação da Selic e volatilidade com o cenário eleitoral no país. No exterior, o aperto monetário nas principais economias para combater a inflação elevada, guerra da Ucrânia e desaceleração afetaram o mercado.
Contudo, enquanto o Ibovespa registrou um avanço pouco empolgante, os extremos do índice foram de alta de mais de 140%, caso da Cielo (CIEL3), à queda de mais de 78%, como foi o caso do IRB (IRBR3), que se despede do índice no ano que vem.
Confira os maiores destaques de alta e baixa do Ibovespa neste ano e o que esperar para 2023:
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Maiores altas
1. Cielo (CIEL3): +140,2%
As ações da Cielo tiveram um 2022 de redenção na Bolsa após fortes quedas nos anos anteriores, em que a empresa de maquininhas sentiu impacto de uma maior concorrência e registrou fortes quedas.
O ano foi marcado por diversas elevações de recomendação para os papéis da companhia, com os analistas vendo melhoras nos resultados, com maior controle de custos, recuperação de participação de mercado com maior rentabilidade.
Entre as elevações de recomendação, no final de maio, o JPMorgan elevou a recomendação da ação da Cielo de neutra para ‘overweight’ (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra), com um preço-alvo de R$ 5. O banco também destacou a companhia como a sua preferida no setor de pagamentos.
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A elevação de recomendação pelos analistas ocorreu após cinco anos entre recomendações neutra e underweight (exposição abaixo da média do mercado) pelo banco. Também na visão da casa, a credenciadora de maquininhas apresentou melhora operacional; os últimos balanços apresentados pela companhia corroboram essa visão.
Em agosto, foi a vez do Credit Suisse de elevar a recomendação para os ativos.
Em dezembro, o UBS BB subiu a sua recomendação para equivalente à compra, com o preço-alvo em doze meses sendo também elevado de R$ 4,50 para R$ 7. “Elevamos a Cielo para recomendação de compra dados os resultados operacionais sequencialmente melhores, suportados pela expansão do rendimento no segmento de cartão de cerca de 5 pontos-base na comparação anual, crescimento do TPV [volume total de pagamentos] de cerca de 12%, custos sob controle e valuation atrativo”, avaliaram Kaio Prato, Bruna Werneck e Leandro Leite, analistas que assinam o relatório do banco.
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Também em dezembro, o BTG Pactual também reforçou a sua recomendação de compra para os ativos CIEL3. “A Cielo manteve o controle de custos, crescendo as despesas abaixo da inflação e, mais importante, menos do que os volumes, garantindo ganhos de alavancagem operacional decentes”, apontou o BTG em relatório neste mês, com preço-alvo de R$ 7 para os ativos.
Antes disso, no fim de novembro, o Santander elevou o preço-alvo para 2023 de R$ 6 para R$ 7,50 para CIEL3, reforçando recomendação de compra, destacando que a companhia tende a se destacar em relação a seus pares, por ter uma maior capacidade de repassar os custos para seus clientes. Levando em conta a expectativa de que a Selic continue elevada em 2023, os analistas do Santander elevaram o preço-alvo.
O ano de 2023 trará desafios para a empresa com o cenário de desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto), além da inflação esperada, o que impacta negativamente o volume total de pagamentos (TPV) da companhia.
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“Independentemente disso, a vantagem competitiva dos adquirentes de bancos em um ambiente de alta da Selic e o gap de receita positivo quando a Selic continua caindo nos levam a esperar um 2023 favorável pela frente para a Cielo”, aponta.
2. PRIO (PRIO3): +80,02%
A visão do petróleo resiliente e a rotação de ativos da Petrobras para os ativos da PRIO impulsionaram os papéis no ano.
Ainda em destaque, neste ano, a companhia seguiu com suas estratégia de aquisições, com destaque para a combinação de negócios com Dommo Energia (DMMO3).
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Para o Itaú BBA, a PRIO se beneficiará do aumento da participação nas receitas do cluster Polvo e Tubarão Martelo e do potencial uso dos créditos fiscais da Dommo. O time de análise da Levante Investimentos enxerga a “transação como positiva para a PRIO, que além de adquirir a totalidade do cluster, que ela já opera, ainda leva um bom montante de créditos tributários”.
Os analistas do banco suíço Credit Suisse destacaram sua preferência por PRIO (PRIO3) no setor de petróleo, com recomendação de compra para os ativos e preço-alvo de R$ 42. Para os analistas, a companhia segue nos trilhos de elevar a produção ao iniciar e expandir operações de ativos adquiridos. Além disso, segue a busca por novos ativos, o que cria gatilhos positivos em potencial.
Em dezembro, o Bradesco BBI também destacou preferência por PRIO (recomendação outperform, com preço-alvo de R$ 51), além de 3R (outperform, preço-alvo de R$ 103), sendo bons nomes para operar a tese que os analistas possuem de preços do petróleo resilientes aliados a crescimento.
“O principal risco é de mudanças na tributação do setor, que acreditamos ter diminuído com os preços atuais do petróleo”, apontam os analistas.
3. BB Seguridade (BBSE3): +74,88%
A BB Seguridade registrou fortes ganhos, também com os resultados considerados positivos pela seguradora.
Em dezembro, o Bradesco BBI revisou as suas recomendações para o setor financeiro não-bancário e elevou o preço-alvo para a ação BBSE3 de R$ 31 para R$ 35, mas manteve recomendação neutra. Apesar da recomendação, destacou preferência pela companhia no setor.
“Em meio a um ambiente mais incerto, ainda gostamos de players do mercado de capitais (via [ativo=B3]), embora a falta de momentum/catalisadores de curto prazo nos impeça de ser mais otimistas para as ações. Dito isso, preferimos concentrar nossa exposição no setor (se houver) ao setor de seguros por meio da BB Seguridade. Embora o BBSE3 possa não ter muito espaço para uma reclassificação, sua dinâmica de lucros deve continuar a oferecer um bom carregamento e fornecer defensividade (ainda que com riscos de ganhos muito menores) em 2023”, apontou.
O JPMorgan também aponta entre as preferências para o setor financeiro não-bancário a BB Seguridade, além da B3, Cielo (CIEL3) e Porto (PSSA3).
Em recente conferência com investidores, os analistas destacaram os pontos principais do que esperar para a companhia em 2023, com potencial de crescimento de lucros na casa dos dois dígitos, enquanto os prêmios emitidos provavelmente devem desacelerar.
“Mesmo que o La Niña continue com a mesma magnitude este ano, o índice de perdas agrícolas seria cerca de 30% menor devido à reprecificação já feita. O dividend payout (dividendo em relação ao lucro) pode ficar próximo de cerca de 100% no segundo semestre de 2022 e se manter em cerca de 90% nos próximos anos”, apontou. A companhia, por sinal, passou a ser vista como uma das preferidas dentro da estratégia de dividendos, segundo analistas consultados pelo InfoMoney.
Em relatório, o Santander destacou a BB Seguridade como a melhor maneira de investir no setor e manteve recomendação de compra, elevando o preço-alvo de R$ 34 para R$ 38. A companhia deve se beneficiar por um forte desempenho em todos os segmentos no ano que vem, avaliam os analistas, que destacam controle da sinistralidade, aumento dos prêmios e de reservas nos planos de previdência. A projeção é de alta de 21% do lucro líquido na base anual, para R$ 7,115 bilhões.
De acordo com levantamento Refinitiv com casas de análise, de 14 casas que cobrem o ativo, 10 recomendam compra e 4 recomendam manutenção, com um preço-alvo médio de R$ 34,36.
4. Hypera (HYPE3): +64,00%
Fortes resultados e resiliência no segmento de saúde guiaram o desempenho positivo dos papéis HYPE3.
Em outubro, o Goldman Sachs elevou a recomendação dos ativos HYPE3 de neutra para compra. Segundo os analistas, o desempenho robusto da Hypera no canal de varejo, com sete trimestres consecutivos de ganhos de ações, e o contínuo amadurecimento de sua divisão institucional.
Em relatório, o Itaú BBA apontou que o mercado farmacêutico brasileiro tem se mostrado resiliente e vem crescendo consistentemente em dois dígitos.
“Temos observado que a Hypera tem sido capaz de superar o mercado por meio da sua boa execução, como aconteceu no início deste ano, quando a empresa previu um aumento na demanda por remédios para gripe e se beneficiou da escassez de estoques nas lojas dos concorrentes, mas também tem se beneficiado do forte lançamento de novos produtos e extensões de linha. Olhando para os trimestres mais recentes, a empresa superou consistentemente o setor farmacêutico de varejo em geral. Além disso, notamos também que a jornada da empresa no setor institucional continua no caminho certo e provavelmente proporcionará crescimento adicional de receita nos próximos anos”, apontou.
Os analistas do banco ainda destacaram que, com as taxas de juros subindo nos próximos anos, os investidores estão procurando uma história sem alavancagem financeira, vendo a Hypera se encaixa nesse perfil. “Reconhecemos que a
alavancagem financeira da empresa está em 2,6 vezes a dívida líquida/Ebitda (resultado operacional), mas dada a sua alta conversão de Ebitda em geração operacional de caixa, esperamos que a empresa termine 2023 mais desalavancada”, aponta.
“Por outro lado, estamos assumindo uma rentabilidade (margem) bruta ligeiramente menor para os próximos anos dada a crescente participação das receitas vindas do segmento institucional, levemente compensadas por melhores despesas com vendas, gerias e administrativas”, apontaram, reiterando a Hypera como a principal escolha na cobertura no segmento de saúde.
5. Assaí (ASAI3): +51,70%
O Assaí teve uma performance bastante positiva em 2022, muito guiado por seu perfil defensivo em um ano turbulento e incerto no campo macroeconômico.
“Destacamos como nossa preferência no setor por conta de a companhia ser a única empresa listada na bolsa de valores com sua operação totalmente dedicada ao segmento de Atacarejo, que deve apresentar um benefício no curto-médio prazo em relação ao cenário macro mais desafiador em que estamos vivendo, sendo um papel defensivo e resiliente, além de apresentar muito crescimento pela frente”, avalia a XP.
Cabe destacar que, no fim de 2021, o Assaí comprou as lojas da bandeira Extra, que pertence ao Grupo Pão de Açúcar (PCAR3), do qual cindiu. O acordo previa a conversão de 71 unidades da bandeira de hipermercados no formato de atacarejo, e as conversões começaram em 2022, acelerando a expansão do grupo de atacarejo.
Um ponto que pesava sobre o Assaí é a governança corporativa, mas que diminuiu também devido aos acontecimentos do fim do ano.
O seu controlador majoritário, grupo francês Casino, realizou um processo de venda de 140,8 milhões de ações da empresa brasileira, equivalente a 10,4% do capital social da companhia, como parte de seus planos gerais para redução da dívida.
A visão dos analistas é de que a transação é boa para o Assaí, com a companhia próxima a se tornar um corporation.
A XP destacou a transação como positiva, uma vez que: i) melhora a liquidez de ASAI3; ii) deve levar a um ciclo de diminuição da influência do Casino no Assaí; e iii) marca um passo importante para a companhia em direção a se tornar uma corporation (com capital pulverizado).
Na mesma linha, o Citi apontou que já houve mudanças sensíveis recentes para o Assaí com a diminuição da influência do Casino, mas ainda estão de olho nos próximos passos para mudanças no Conselho. “O discurso consistente de que esse é o primeiro passo de se tornar uma corporação reforça a nossa [estrutural] confiança na transação”, avalia o banco.
A Levante aponta que a redução da influência do Casino no Assaí, e a consequente melhoria na governança da companhia, já vem sendo observada, como o anúncio recente da substituição de um membro do Casino pelo Belmiro Gomes (atual CEO do Assaí) no Conselho de Administração, além da inclusão de uma nova etapa para aprovação de transações com partes relacionadas.
“Acreditamos que novas substituições no Conselho de Administração devam ocorrer até a data da renovação oficial do Conselho (23 de abril de 2023), o que deve diminuir ainda mais a influência do Casino no Assaí”, aponta o banco.
Confira as maiores altas do Ibovespa no ano:
Empresa | Ticker | Cotação | Variação |
Cielo | CIEL3 | R$ 5,24 | 140,20% |
PRIO | PRIO3 | R$ 37,21 | 80,02% |
BB Seguridade | BBSE3 | R$ 33,71 | 74,88% |
Hypera | HYPE3 | R$ 45,20 | 64,00% |
Assaí | ASAI3 | R$ 19,47 | 51,70% |
Maiores quedas
1. IRB (IRBR3): -78,61%
O IRB passou o seu terceiro ano seguido de turbulência na Bolsa se destacando como a maior queda do período, fechando 2022 abaixo de R$ 1 e muito longe da máxima na casa de R$ 41,50 registrada pela ação em 2020, ano da crise de confiança que abalou o ativo após a gestora Squadra apontar uma série de “inconsistências” no balanço do IRB, gerando muita repercussão entre os investidores.
Já neste mês de dezembro de 2022, os acionistas da companhia aprovaram o grupamento de ações na proporção de 30 para 1, que será efetivado em 25 de janeiro, de modo a atender as regulamentações da B3. O fato de negociar abaixo de R$ 1 culminou com a saída da empresa do Ibovespa a partir de 2023.
Cabe destacar que, no início de setembro, de modo a atender os requisitos do órgão regulador Susep, a resseguradora fez uma oferta de ações de R$ 1,2 bilhão a R$ 1, o que também acabou impactando os papéis. Além disso, de forma a ter mais colchão, vendeu sua sede no Rio de Janeiro, por R$ 85 milhões, e também realizou um acordo extrajudicial com a Casashopping envolvendo o recebimento de R$ 100 milhões.
Os resultados, por sua vez, continuaram decepcionando, ainda que os últimos anos tenham sido para arrumar a casa da empresa. O prejuízo líquido foi de R$ 298,7 milhões no terceiro trimestre de 2022 (3T22), salto de 91,84% frente as perdas de R$ 155,7 milhões no mesmo período de 2021, com sinistralidade maior do que a esperada no segmento rural devido a efeitos climáticos.
As preocupações também retornaram, com o risco de a empresa precisar de mais capital, e com analistas citando dificuldade de prever quando o IRB voltará a ser rentável. Em dezembro, a agência de classificação de risco Standard&Poor’s cortou os ratings do IRB de ‘brAAA’ para ‘brAA+, com perspectiva negativa.
Neste mês, houve um gatilho positivo para os papéis, com a ação saltando quase 25% no último dia 21 após o ressegurador registrar lucro líquido de R$ 6,4 milhões em outubro de 2022.
Para o Citi, o lucro do IRB em outubro diminui preocupações sobre a liquidez, mas há muitos desafios no radar. “Levando tudo em conta, enquanto o lucro no mês é com certeza uma brisa de ar fresco, nós ainda questionamos a sustentabilidade dos resultados e nos mantemos à margem por enquanto”, apontam os analistas. A recomendação do Citi para os ativos é neutra, com preço-alvo de R$ 0,90.
Apesar do lucro, a Guide Investimentos destacou a notícia como neutra, uma vez que o IRB ainda se encontra em uma situação sensível em relação aos seus números, amargando prejuízo líquido de R$ 542 milhões no ano e sinistralidade de 106%.
Já para o BTG Pactual, o resultado de outubro foi “claramente uma boa notícia”, embora ainda seja difícil estimar com precisão os números de novembro e dezembro. A avaliação é de que, se a empresa não apresentar resultados positivos nos próximos meses, poderá ser necessário outro aumento de capital no início de 2023.
Os analistas do banco apontam que “vender IRBR3 – uma estratégia vencedora até o momento – pode começar a se tornar mais perigoso”. Entre as razões para essa visão estão perspectivas com a troca do presidente da empresa, bem como sondagens sobre a subscrição de agronegócio. “Mas o problema continua o mesmo: construir a ‘ponte’ para chegar lá, do outro lado deste rio ‘selvagem’… Precisamos esperar mais alguns meses para ter uma visão mais clara”, apontaram.
Em novembro, Raphael de Carvalho renunciou ao cargo de presidente-executivo, depois de pouco mais de um ano na posição, sendo substituído por Marcos Falcão, conselheiro do IRB desde maio de 2020 e ex-presidente da Icatu Seguros. O novo CEO disse à Reuters em dezembro que a resseguradora não planeja fazer novo aumento de capital e aposta numa melhora de gestão e dos números operacionais nos próximos meses para voltar ao azul em 2023.
2. Americanas (AMER3): -68,75%
Da expectativa positiva com o anúncio de Sergio Rial (ex-presidente do Santander) como novo CEO a partir de 1º de janeiro de 2023 aos resultados ruins e visão de que a virada para a empresa pode demorar para acontecer, impactada ainda pelo cenário macro, as ações da Americanas registraram um ano de baixa na Bolsa brasileira.
O cenário macroeconômico foi um vento contrário, com a visão de juros altos por conta da inflação mais persistente e incertezas fiscais impactando o consumo, mas questões “micro” da empresa também puxaram os ativos para baixo.
Após o resultado do terceiro trimestre, considerado decepcionante, o Itaú BBA reduziu a recomendação dos ativos AMER3 de outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para marketperform (desempenho em linha com a média do mercado, equivalente à neutra). “Estamos vendo uma combinação de vendas digitais fracas e desempenho estável de receita de lojas físicas. A desalavancagem operacional levou a um declínio substancial do Ebitda na base anual”, apontam analistas.
Antes disso, o JPMorgan já havia reduzido as suas estimativas para a Americanas e rebaixou no início de novembro a ação de neutra para underweight (desempenho abaixo da média do mercado, equivalente à venda), enquanto o preço-alvo para o fim de 2023 foi reduzido de R$ 17 para R$ 12,50.
Os analistas do banco apontam que há visões de grandes mudanças com a nomeação de Sergio Rial como o novo presidente da companhia a partir de 1 de janeiro, que pode incluir uma nova equipe de gestão e impulso à execução com melhor integração de seus canais físicos e online.
Ainda assim, apesar de ver melhorias em potencial nas tendências operacionais à frente, a alta alavancagem da companhia dos últimos três anos, com uma projeção de 5,9 vezes a dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) para 2022, deve pesar nos resultados da varejista.
As altas despesas financeiras devem impactar o resultado mesmo com a taxa de juros começando a cair, já que a companhia precisará reforçar seu capital de giro com a antecipação de recebíveis.
“Assim, acreditamos que a empresa deve precisar reequilibrar sua estrutura de capital, especialmente porque as operações das lojas físicas – que normalmente são a principal fonte de fluxo de caixa – estão vendo tendências de queda de produtividade de vendas com desempenho errático de novas unidades, enquanto potenciais iniciativas de turnaround da nova gestão pode demorar para dar frutos positivos”, avaliaram Joseph Giordano, Nicolas Larrain e Guilherme Vilela, analistas que assinam o relatório.
3. CVC (CVCB3): -66,54%
A CVC registrou forte queda, em um cenário em que a empresa aparece como uma das principais beneficiárias da reabertura econômica. Contudo, o BTG Pactual apontou que a empresa ainda é uma tese mais arriscada no curto prazo.
A companhia divulgou seu resultado no terceiro trimestre no início de novembro. A empresa reduziu o prejuízo, mas terminou o trimestre ainda no negativo, em R$ 75 milhões.
Houve um aumento de 46,6% na receita líquida (para R$ 337,6 milhões), com avanço nas reservas e no valor médio das viagens, mas o alto endividamento da empresa (com uma Selic mais alta) impediu que a operadora de turismo voltasse ao azul.
Segundo o BTG, a empresa mostrou sinais encorajadores em relação a receita. “Depois de atingir o fundo do poço em 2020, a CVC deve ser uma das principais beneficiárias da reabertura econômica, ao mesmo tempo em que explora seus fortes relacionamentos de longo prazo com a fragmentada indústria hoteleira e companhias aéreas no segmento B2B. Saudamos o turnaround desde 2020 e a enorme escala e poder de barganha da CVC com fornecedores (especialmente operadoras hoteleiras)”, disseram os analistas do banco.
Contudo, a recomendação neutra é baseada nos grandes desafios à frente da empresa, como o alinhamento entre sua base de franqueados e o crescimento/concorrência online com OTAs (agências de turismo online), enquanto a atual estrutura de capital ainda é uma preocupação, tornando esta uma tese mais arriscada do que as outras de reabertura, aponta o BTG.
O Santander também tem recomendação neutra para os ativos e aponta que o cenário delineado para a empresa é desafiador, principalmente com o ambiente macroeconômico esperado em 2023.
“O maior desafio da CVC para 2023 estará relacionado não às operações internas da própria companhia, e sim a fatores externos, especialmente a economia brasileira e o impacto negativo potencial que poderia ter na recuperação do setor de turismo“, avaliam os analistas.
“Conforme o ambiente macroeconômico se deteriora e a recuperação da companhia é potencialmente postergada, esperamos que a queima de caixa contínua e as perdas líquidas em 2023-2024 causem limitação ao interesse dos investidores em relação à tese”, reforçam.
4. Qualicorp (QUAL3): -64,56%
Tendências operacionais fracas, resultados ruins e falta de um catalisador claro de curto prazo. Esses foram os elementos apontados para a forte queda das ações da operadora de planos de saúde Qualicorp no ano de 2022.
A Qualicorp, cabe ressaltar, vem sofrendo constantemente nos últimos resultados com os aumento dos cancelamentos, uma vez que os planos passaram a pesar mais no bolso do consumidor.
Na sessão de 9 de novembro, após a companhia divulgar seu último resultado, do terceiro trimestre, as ações caíram mais de 15%. Como recorrente, o destaque negativo, mais uma vez, foi o churn (taxa de cancelamento) bastante alto, com dados de adições brutas de vidas desafiadores diante de um repasse de preço maior nesse período.
O BBA ainda apontou que a empresa conseguiu apresentar queda em algumas linhas de despesas, como pessoal e marketing. Porém, a retração de 5% na receita anual e o aumento de 61% nas provisões para devedores duvidosos foram mais do que suficientes para compensar isso. “As despesas financeiras líquidas mais altas tiveram um impacto significativo no lucro líquido da empresa, que encolheram 55% em um ano, para R$ 49 milhões”, citaram os analistas na ocasião.
O BTG ainda destacou que, “após outro resultado com contração orgânica de membros, queda da receita líquida e pressão na margem Ebitda ajustada, a estratégia da Qualicorp ainda precisa ser comprovada e validada”.
Um outro fator de pressão entrou no radar: a compra da SulAmérica pela Rede D’Or (RDOR3) neste ano pressionou os ativos da Qualicorp, uma vez que a expectativa do mercado era de órgãos reguladores exigissem a venda da participação de cerca de 30% da RDOR3 na QUAL3 para a aprovação da transação, o que geraria um excesso de ações no mercado.
As condições, contudo, não englobaram a venda dos papéis QUAL3, o que fez com que os ativos da operadora de planos saltassem cerca de 15% em uma única sessão, mas não o suficiente para tirar a companhia da lanterninha entre as maiores quedas do Ibovespa.
O cenário segue de cautela para as ações da companhia: de acordo com compilação feita pela Refinitiv, de dez casas que cobrem o ativo, sete têm recomendação neutra/manutenção e três possuem recomendação de venda.
5. Méliuz (CASH3): -63,58%
Sofrendo com baixa rentabilidade nos últimos trimestres e também afetada pela alta de juros, o Méliuz registrou forte queda de suas ações em 2022.
“Assim como várias outras empresas de alto crescimento, o valuation de Méliuz foi impactado negativamente por um movimento de juros mais altos e menor crescimento no curto prazo, o que não apenas pressionou seu valuation mas também levou os investidores a migrar de ações de crescimento para valor nos últimos trimestres”, destacou a XP.
No último balanço da Méliuz divulgado (em novembro), a companhia reportou um prejuízo líquido consolidado de R$ 18 milhões.
O Bradesco BBI destacou o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ainda sob pressão, negativo em R$ 40 milhões, impacto pelos maiores gastos operacionais. Excluindo o Bankly, o dado ficaria negativo em R$ 15,6 milhões.
“Embora reconheçamos os esforços da empresa para melhorar sua lucratividade, os riscos de execução ainda são aparentemente altos, e uma reclassificação significativa das ações pode vir mais à frente”, avaliaram os analistas na ocasião.
O Itaú BBA apontou que a plataforma de cupons e cashback (dinheiro de volta) divulgou resultados brandos no terceiro trimestre abaixo das suas expectativas, em meio a um cenário mais adverso devido à desaceleração do comércio eletrônico no Brasil, juntamente com alguns meses de deflação.
A XP, por sua vez, ao retomar a cobertura para os ativos em dezembro, destacou visão positiva e tem recomendação de compra para os papéis, com preço-alvo de R$ 2, ainda que com ponderações.
“A nosso ver, a combinação do robusto crescimento da Méliuz, foco no desenvolvimento de novos produtos e a expressiva queda do preço de suas ações nos últimos meses nos levaram a uma assimetria positiva de valorização da ação. Posto isso, destacamos que as incertezas relacionadas à possível cisão de sua subsidiária bancária Bankly podem continuar pesando sobre as ações no curto prazo”, avalia. Além disso, apesar do valuation descontado, o movimento contínuo de evitar empresas de alto crescimento e a falta de catalisadores de curto prazo impede a casa de ser mais positiva sobre o nome.
De acordo com compilação feita pela Refinitiv, de sete casas que cobrem o papel, quatro recomendam compra e três possuem recomendação de manutenção.
Confira as maiores quedas do Ibovespa no ano:
Empresa | Ticker | Cotação | Variação |
IRB | IRBR3 | R$ 0,86 | -78,61% |
Americanas | AMER3 | R$ 9,65 | -68,75% |
CVC | CVCB3 | R$ 4,49 | -66,54% |
Qualicorp | QUAL3 | R$ 5,87 | -64,56% |
Méliuz | CASH3 | R$ 1,18 | -63,58% |
(com informações da Reuters)