Ciclo de alta de juros preocupa, diz Cançado, da Occam; “nunca é pequeno e rápido”

Petrônio Cançado, ex-diretor do BNDES e sócio da Occam, afirma que China tem risco potencial, mas é difícil prever

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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Quando entrou na faculdade de engenharia, Petrônio Cançado tinha meta de ir até o doutorado e, depois, dar aulas. Mas após o mestrado de administração, foi aconselhado a trabalhar em empresa para ganhar experiência.

“Fui para o mercado financeiro onde já estou há 27 anos”, contou ele no programa Stock Pickers, gravado especialmente na Expert XP 2024. Petrônio começou pela área de crédito do então banco Pactual. “Não sabia nem o que era crédito”, revelou ele aos apresentadores Lucas Collazo e Henrique Esteter.

Petrônio Cançado entrou em “processo de aprendizado constante”, como define, com passagens, em seguida ao Pactual, nas gestoras Fidúcia Asset Management, BR Investimentos, Vinci e RB Capital. Em 2019, acabou se tornando diretor de Crédito e Garantia do BNDES, onde permaneceu até 2022. Hoje, é sócio e gestor de crédito privado da Occam Brasil.

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Preocupação macro

“Sou responsável pelos fundos de crédito, na gestão deles pensando na estratégia”, explica. “Precisa de alguns elementos para fazer crédito bem feito. O ambiente macroeconômico como pano de fundo para tomar decisão e tendências micro”, diz.

No macro, ele explica que tem dois lugares principais para olhar: Estados Unidos e China.

“Diria que os Estados Unidos são o mais relevante. Vai ter um ciclo de queda de juros lá. Não deve ser tão forte como as outras vezes, mas isso pode dar um ânimo ao mercado de forma geral”, afirma.

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“O risco maior é a China porque ela pega países emergentes e commodities. O Brasil é muito exposto. Isso e um risco potencial, mas é muito difícil prever. Então é melhor ficar atento e reagir”, acrescenta.

Mais difícil prever

Ainda assim, na visão da Occam, não se vê hoje um risco muito grande vindo do exterior. “As coisas hoje estão mudando com muita velocidade. A gente trabalha com hipóteses. Tem que acompanhar muito de perto o que está acontecendo”, diz.

“No início do ano, havia um movimento sincronizado no mundo inteiro de que ia cair os juros. A gente (Brasil) caiu na frente, lá fora não. E a nossa visão é que vai acontecer agora o contrário, lá vai cair e aqui vai subir”, afirma.

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“A preocupação do time da Occam é que o ciclo de alta de juros nunca é pequenininho e tão rápido”, destaca, ressaltando tratar-se de um movimento que historicamente tem esse comportamento.

Além disso, para o gestor, o Brasil oferece uma combinação de fatores hoje que exige atenção:  inflação um pouco alta, atividade forte, desemprego baixo e “um fiscal um pouco mais frouxo”.

RJ da Americanas e Light não abalaram o mercado

Petrônio Cançado diz que 2023 foi um ano que o mercado de crédito aprendeu muito. “Foi um ano difícil e com eventos pouco comuns. A gente teve dois eventos de créditos muito relevantes no começo do ano passado”, diz, referindo-se ao pedido de recuperação judicial da Lojas Americanas e da Light, que acabou preocupando o sistema de financiamento.

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“Se alguém me falasse no final de 2022 que teria um evento com a Lojas Americanas e outro com Light, acharia que o mercado iria parar. Não vai ter liquidez nenhuma. Mas não foi o que aconteceu. O mercado de crédito no Brasil está mais maduro. O mercado de crédito brasileiro está líquido”, destacou.

Para ele, no entanto, sempre existe o “imponderável”. “A gente tem que trabalhar com a margem de segurança. Isso ocorre mais de que forma? Ser mais pulverizado e focar muito no processo. Você precisa ser comedido”, diz ele, que monta portfólio de fundos de crédito na Occam.