Chineses adotam finanças descentralizadas para driblar repressão a criptomoedas

Bolsas de criptomoedas que rodam em ambiente anônimo registram forte alta no volume após comunicado do banco central chinês na última sexta

Paulo Barros

(Shutterstock)
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SÃO PAULO – O governo chinês pode, sem querer, ter sido o motor para um novo episódio de crescimento na adoção do que se chama de finanças descentralizadas (DeFi).

Conhecidas pela garantia ao anonimato, soluções deste segmento de criptomoedas registram forte alta em preços e volume de negociação logo depois que a China interveio mais uma vez no mercado de moedas digitais, impedindo a oferta de serviços de trading para residentes no país.

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A medida afetou principalmente as bolsas tradicionais de criptomoedas, que têm gestão centralizada a passam por guinada na adequação a regras de compliance que implica diretamente no reforço de políticas de verificação de identidade, conhecidas por Know Your Client (KYC) – a Binance, por exemplo, não permite mais operar sem apresentar documento pessoal.

Junto com a Huobi, a empresa anunciou que não atenderá mais usuários que se cadastram usando números de telefone chineses, em movimento para atender à norma do governo local. Mas, enquanto exchanges centralizadas veem seu mercado encolher, o inverso ocorre no mundo paralelo do DeFi.

As bolsas descentralizadas de criptomoedas (DEX, na sigla em inglês) não têm uma entidade única controladora, já que as operações são processadas por smart contracts (contratos inteligentes) autônomos criados por coletivos de programadores muitas vezes anônimos.

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Se de um lado esses softwares colocam o dinheiro de usuários em risco pelo alto risco de hacks, de outro os usuários parecem cada vez mais dispostos a pagar o preço para ocultar sua identidade, seja para escapar de impostos ou da repressão governamental, como é o caso chinês.

O jornalista Colin Wu, que cobre o setor de criptomoedas na China, afirmou no domingo (26), via Twitter, que “todas as comunidades chinesas estão discutindo sobre como aprender DeFi”.

Exchange descentralizada supera Coinbase

Um dos sinais de aumento repentino na demanda por soluções descentralizadas para trade criptomoedas é a explosão na adoção da dYdX, uma bolsa lançada em maio 2019 e que opera totalmente via smart contracts.

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Seu diferencial é a oferta de trades alavancados, algo comumente encontrado apenas em exchanges convencionais. Além disso, desde o ano passado, a dYdX vem focando no mercado chinês, adaptando sua interface para o mandarim.

A aposta deu certo e, agora, ganhou novo impulso após o banimento do trading no país. A corretora registrou volume de negociação superior ao da Coinbase, a primeira exchange de criptomoedas a abrir capital na bolsa, com US$ 7 bilhões movimentados nas últimas 24 horas.

“5 anos atrás eu saí  da Coinbase e eventualmente fundei a dYdX. Hoje, pela primeira vez, a dYdX está fazendo mais volume de negócios do que Coinbase”, disse o fundador da exchange, Antonio Juliano.

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A adoção refletiu também diretamente no preço do token de governança DYDX, que entrou no top 100 de criptomoedas por valor de mercado após disparada de US$ 12,34 para US$ 20,86, valorização de 69% em dois dias.

DeFi tem recorde de cinco meses de capital investido

A procura por DeFi, no entanto, vai além da dYdX. As principais métricas do setor apontam para um forte crescimento na demanda geral por esse tipo de produto após o comunicado do Banco Popular da China (PBOC, na sigla em inglês) que proibiu o trade de criptomoedas.

Segundo a ferramenta de monitoramento DeFi Pulse, o valor depositado em contratos inteligentes DeFi chegou a 7,8 milhões de Ethereum (ETH), equivalentes a US$ 23,6 bilhões, o maior desde as máximas de abril. O número se soma ao desempenho positivo do DeFi em 2021, período em que o volume de usuários mais do que triplicou, de acordo com a Dune Analytics.

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Plataforma mais usada para criar aplicativos DeFi no mundo, o Ethereum funciona como um sistema operacional que roda em blockchain. Desse modo, para levar capital para plataformas que operam ali é preciso comprar ETH, depositar em smart contracts e, só então, poder comprar novos tokens.

Por enquanto, os protocolos Aave Finance (AAVE), Compound Finance (COMP), InstaDapp (INST), Uniswap (UNI) e Curve Finance (CRV) concentram cerca de 85% dos valores depositados, com cerca de 6,9 ​​milhões de ETH alocados por usuários em busca de rendimentos e empréstimos com criptomoedas.

O valor investido, em geral, funciona de liquidez para permitir negociações sem livro de compras tradicional. Em vez disso, algoritmos conectam indivíduos que querem comprar e vender criptomoedas. Eles também balanceiam automaticamente os ativos a depender da oferta e da demanda em conjuntos de pares de negociações chamados de pools de liquidez.

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Na prática, para usar DeFi basta baixar um aplicativo no celular, acessar sites das exchanges descentralizadas e começar a negociar sem qualquer tipo de cadastro, desde que já se tenha criptomoedas compradas previamente.

Soluções do tipo já estão no radar de autoridades dos EUA. No começo de setembro, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) abriu investigação contra a UniSwap Labs, desenvolvedora da maior bolsa descentralizada do mundo, a UniSwap, que logo fechou um dos acessos à plataforma por medo de represália.

No entanto, como o governo chinês ainda não imprimiu esforços especificamente contra o setor, os aplicativos DeFi parecem se tornar a alternativa ideal para o potencial mercado de bilhões de usuários de criptomoedas que o bloqueio estatal tenta suprimir.

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Paulo Barros

Editor de Investimentos