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(MIAMI) – Para Arthur Kroeber, sócio-fundador da consultoria chinesa Gavekal Dragonomics, o mundo está superestimando os riscos em relação à economia chinesa. Mesmo que o presidente americano Donald Trump endureça a relação e comece a retaliar a China comercialmente, o país asiático teria várias formas de se defender. Na verdade, o risco realmente perigoso seria uma escalada do conflito entre os dois países para o campo militar – o que por ora é algo improvável. Autor de livros sobre o gigante asiático, Kroeber é um dos maiores especialistas em traduzir a China para os países ocidentais. Leia a seguir trechos da entrevista concedida por ele ao InfoMoney e de palestra feita na Expert Latin America Conference 2017, promovida pela XP Securities em Miami:
A China continua bem
A economia chinesa foi muito bem em 2016, com o crédito fluindo para os setores imobiliário e de infraestrutura. Neste ano a economia deve ir bem de novo. O PIB chinês não é muito confiável. Ultimamente o governo só tem divulgado números próximos a 6,5%. Acho que a média é correta, mas eles subestimam a volatilidade. Em 2015 outros indicadores sugerem que a economia chegou a crescer abaixo de 5%. Acredito que o segundo semestre de 2015 foi o fundo do poço. No ano passado os estímulos fizeram com que a China começasse a crescer 7% a 7,5%. E o governo quer manter a economia assim. A não ser que haja um choque nas exportações para os EUA, eles vão conseguir manter um crescimento próximo a 6,5% neste ano e em 2018. Tem um ciclo político que vai terminar em outubro e novembro, quando acontece o congresso do Partido Comunista. Pela tradição Xi Jinping deve ganhar um novo mandato para continuar como líder do país por mais 5 anos. Acredito que o governo continuará a dar incentivos econômicos e monetários até lá. Os riscos locais para a China estão sendo superestimados. O governo quer restringir práticas que gerem risco financeiro. A dívida está crescendo, mas é financiada domesticamente pelos bancos. Acredito que os próximos dois anos serão tranquilos.
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Risco Trump
A única coisa que vejo de risco para a China é Donald Trump. Mas o maior risco não é econômico. As exportações respondem por 20% da economia chinesa. E 20% das exportações chinesas vão para os EUA. Se as barreiras comerciais impostas pelo Trump forem elevadas e os dois países entrarem em uma guerra comercial, a China pode perder entre 0,5% e 1% do PIB, mas não mais que isso. Acho mais provável que o Trump adote políticas antidumping para proteger os segmentos mais importantes politicamente, mas sem uma guerra comercial. Os EUA dificilmente vão defender a tese que a China manipula a moeda porque outros países também fazem o mesmo. Já se os impostos para os produtos chineses subirem muito, a China pode responder com pressões regulatórias. Há US$ 250 bilhões em investimentos de empresas americanas na China. O governo pode responder atrasando licenças ou dificultando novos investimentos. Essas empresas americanas vão fazer lobby contra medidas de Trump. É importante ter em mente que a China é muito mais forte que o México. O Trump está implementando medidas específicas contra o México que prometeu na campanha, como o muro ou o aumento de impostos. Agora o Trump nunca prometeu algo específico em relação à China. Sempre foi um discurso de endurecer a relação, mas sem muitas ações práticas. Trump e sua equipe veem a China como um risco estratégico para o status quo americano em termos econômicos e militares. Mas o que tende a se materializar são medidas comerciais de baixo impacto. A China sabe que se Trump tomar as medidas erradas, pode perder apoio político. A China pode deixar a administração Trump se autodestruir nos próximos meses. Meu grande temor é que o conflito evolua para o campo político e os EUA comecem a questionar o território chinês. Se houver uma confrontação militar no mar da China, a gente deveria se preocupar. Mas não acho que eles queiram um conflito que escale para o lado militar.
Queda das reservas
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Há alguma preocupação com a queda das reservas internacionais da China, que caíram abaixo de US$ 3 trilhões. Mas não está acontecendo um grande movimento de envio de dinheiro ao exterior. Na verdade, há uma queda no volume de dinheiro que entra na China. A explicação é que os exportadores não estão trazendo os dólares das exportações de volta para a China. Como eles estão com a sensação que o renminbi [uma das moedas da China] pode cair, eles preferem deixar uma parte maior do dinheiro em dólares. Também é importante lembrar que se as reservas continuarem caindo, o governo chinês pode tomar medidas para restringir ainda mais a saída de recursos. Há uma grande onda de diversificação geográfica das empresas chinesas, que vão continuar comprando empresas estrangeiras. Mas o que acho que pode acontecer é que, devido à queda das reservas, o governo chinês coloque restrições para essas aquisições. Uma empresa chinesa de energia vai poder comprar outra que atua também em energia no Brasil. Mas se uma empresa chinesa do setor de construção quiser comprar uma empresa de petróleo na América Latina, talvez o governo comece a colocar dificuldades para a realização do negócio.
Sem guerra cambial
Acho que o renminbi vai continuar se depreciando bem devagar. De 6,9 por dólar, acho que pode ir para 7,2. Ainda não sei se medidas americanas podem afetar o câmbio na China porque precisamos ver o que o Donald Trump vai fazer. Se os EUA aumentarem os impostos para a importação de produtos da Ásia, as moedas terão de se desvalorizar. Agora na China a pressão aduaneira pode não gerar necessariamente a uma desvalorização da moeda devido ao maior controle do câmbio. A China não tem interesse na rápida desvalorização do renminbi para não acelerar a perda de capital. Eles também têm a opção de ajudar os exportadores para compensar as barreiras dos EUA, dando financiamento a baixo custo. Além disso, uma desvalorização de 20% na moeda chinesa seria uma declaração de guerra aos EUA. E ninguém sabe onde isso acaba. Acho que a única chance de uma queda brusca do renminbi é se eles não conseguirem conter a queda das reservas nem com duras restrições de capital.
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Commodities
Com um crescimento do PIB próximo a 6,5% e com a construção em expansão, acho que a economia vai dar suporte ao preço das commodities. O minério de ferro deve se estabilizar próximo a US$ 70 por tonelada. No patamar atual [mais próximo de US$ 90], os produtores chineses podem voltar ao mercado, fornecendo minério de qualidade mais baixa que a Vale, a BHP e a Anglo American. Isso poderia jogar os preços de volta para baixo.
Veja a cobertura completa da Expert Latin America Conference 2017
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