CFO troca Vibra (VBBR3) por Alpargatas (ALPA4): o que a mudança indica para o futuro das companhias?

Analistas têm leitura ruim sobre impacto para Vibra e veem riscos de mudança estratégia, enquanto mudança é bem recebida na Alpargatas

Lara Rizério

Publicidade

Na noite da última quarta-feira (8), uma notícia surpreendeu os investidores: André Natal, CFO (Chief Financial Officer, ou diretor financeiro) da Vibra (VBBR3),  deixará a distribuidora de combustíveis a partir do dia 31 de março e assumirá, a partir de 1 de abril, o mesmo cargo na Alpargatas (ALPA4), dona da Havaianas.

A Vibra buscará outro profissional para o cargo. Após a efetiva saída de André Natal, o atual diretor de Finanças, Rodrigo Guimarães Galvão, ocupará interinamente a posição até a conclusão do processo sucessório.

Natal liderou as áreas de Finanças, Compras e RI da Vibra desde 2019. “Nesse período, o executivo teve um papel fundamental na transição da empresa que a consolidou como líder em seu setor e com avanços relevantes no campo da transição energética”, disse a Vibra. Nos últimos meses, atuou ainda como presidente interino, até a chegada de Ernesto Pousada, que assumiu o cargo de CEO em 1 de fevereiro.

Continua depois da publicidade

Analistas destacaram que a saída de Natal é negativa para a Vibra, principalmente levando em conta o fato de ele ser peça-chave na virada da empresa, ter vasta experiência no segmento de distribuição e se comunicar muito bem com os agentes de mercado, conforme apontou o Bradesco BBI.

Na mesma linha, os analistas do Citi afirmaram que a saída de Natal é negativa, uma vez que ele liderava o processo de reestruturação da companhia desde 2019 como diretor financeiro.

Além de ter sido essencial no processo de turnaround da empresa desde a privatização, o Credit Suisse também ressalta que o novo CEO acabou de assumir. Desta forma, a mudança geral nos cargos de alta gestão aumenta o risco de alguma disrupção no negócio. Por enquanto, Rodrigo Guimarães Galvão ocupará interinamente a posição até a conclusão do processo sucessório.

Continua depois da publicidade

O Bank of America também ressalta que a mudança acrescenta alguma incerteza adicional sobre a estratégia da empresa, o que pode causar algum nervosismo no mercado no curto prazo.

“Durante a gestão de Natal, a Vibra passou por uma grande transformação. Ele liderou um grande aumento de eficiência, auxiliado por amplo corte de custos, o que gerou, a nosso ver, ganhos significativos de produtividade. Esses esforços ajudaram a elevar as margens da Vibra de abaixo de seus pares para líder do mercado. Nos últimos anos, a empresa fez grandes avanços para se tornar líder em transição energética”, avalia.

Apesar da visão negativa, o BBI, o Citi e o Bank of America mantêm recomendação equivalente à compra para os ativos, com preços-alvo respectivos de R$ 34 (upside de 107% frente o fechamento da véspera), R$ 27 (upside de 64%) e R$ 26 (upside de 58%).

Continua depois da publicidade

“A Vibra parece estar bem posicionada para ter um bom desempenho em um ambiente mais desafiador”, conseguindo manter as margens em níveis positivos em relação aos seus pares, aponta o BofA.

Enquanto a visão é negativa sobre a saída de Natal para a Vibra, o cenário é visto como positivo para a Alpargatas.

Na visão do Citi, o ex-presidente interino da Vibra traz “know-how” que apoia a estratégia de longo prazo, ressaltando que Natal tem histórico de diálogo consistente com o mercado, além de ter participado do processo de reestruturação de custos da Vibra, o que pode ajudar a Alpargatas a melhorar sua estrutura.

Continua depois da publicidade

Já em termos estratégicos, a Alpargatas ainda precisa elevar as receitas no Brasil e expandir negócios internacionais (cabe ressaltar que os últimos balanços da companhia foram mal recebidos pelo mercado). A chegada do executivo não altera a percepção do banco sobre a tese de investimentos da companhia ou estrutura de governança.

Para o JPMorgan, no geral, a mudança é uma surpresa, mas os analistas do banco não esperam nenhum impacto material na estratégia da empresa, que continua sendo liderada por seu CEO, Roberto Funari. Já do ponto de vista operacional, não veem nenhuma necessidade material de gestão de passivos.

Ainda assim, a saída do CFO segue outras mudanças na equipe sênior (incluindo liderança internacional) ao longo do último um ano e meio com a saída/renúncia de 4 pessoas-chave; isso implica em uma rotatividade de cerca de 36% na equipe de liderança, em um período em que a empresa decepcionou as expectativas do mercado e enfrentou problemas de execução/estratégicos em seu plano de internacionalização.

Continua depois da publicidade

Tanto o Citi quanto o JP possuem recomendações equivalentes à compra também para a Alpargatas, com o Citi tendo preço-alvo de R$ 21 para ALPA4 (upside de 69%) e o JP com target de R$ 26 (upside de 109%).

Às 14h45 (horário de Brasília) desta quinta, por sua vez, as ações de ambas as companhias tinham baixa, refletindo também a maior aversão ao risco do mercado como um todo. VBBR3 caía 4,38%, a R$ 15,70, enquanto ALPA4 tinha baixa de 3,13%, a R4 12,06.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.