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O preço da celulose passou, no quarto trimestre de 2023, por um pico de preço após um mini rali, sustentado pela reposição de estoques na China, com os compradores se preparando para o Ano-novo chinês, que aconteceu na segunda semana de fevereiro. A percepção, no entanto, era de que, passando o evento, os preços realizariam. No entanto, a commodity vem mostrando força – e sustentando um certo otimismo para o 2024.
Na última sexta, o preço da tonelada de BEKP (fibra curta) fechou sendo negociada US$ 653, praticamente estável frente ao começo do ano. Analistas ouvidos pelo InfoMoney explicam os motivos para a manutenção. De forma geral, o que ajuda a manter a cotação é uma demanda mais resiliente tanto na China quanto na Europa. A Suzano (SUZB3) chegou a, no começo de fevereiro, anunciar um aumento de US$ 30 para o produto.
“O aumento de preço da Suzano para celulose surpreendeu o mercado. E, pelo que vimos conversando com os participantes, com traders, parece que o ambiente de preços é propício para a implementação”, diz Daniel Sasson, analista do Itaú BBA. “Todo mundo estava esperando uma queda razoável a partir de março, abril. Isso porque, a partir do segundo semestre do ano, a Suzano vai começar a operar sua nova planta, do Projeto Cerrado”.
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De acordo com Sasson, é normal os traders chineses diminuírem suas compras com a aproximação da entrada de nova capacidade de oferta, como a de Cerrado. Como o aumento de volume derruba os preços, eles passam a esperar a movimentação. Mas isso não está acontecendo desta vez.
Parte disso, o especialista explica, se dá pela dinâmica que está sendo vista na Europa. O continente, que também consome bastante a commodity, vinha com sua demanda desaquecia no ano passado e os produtores, por isso, acabaram direcionando suas produções para a China. No entanto, um aumento das compras, bem como a crise no Mar Vermelho, mudou o cenário.
“Na Europa, hoje há uma sensação de baixa disponibilidade de celulose. Como a demanda por lá esteve fraca no segundo semestre do ano passado, os produtores passaram a mandar mais volumes para a Ásia, fazendo toda a programação para isso. Demora uns meses até voltar. É necessário, por exemplo, contratar navios”, contextualiza o analista do BBA.
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Lucas Laghi, analista da XP Investimentos, vai no mesmo sentido. “O mercado da Europa está retomando após um 2023 fraco. Já a China foi muito forte no segundo semestre de 2023 e a realização sinaliza para a manutenção do preço em níveis mais altos do que o esperado”, fala.
Ele acrescenta que a demanda no Velho Continente “tem sido potencialmente ajudada pela crise no Mar Vermelho”. Os países europeus, usualmente, importam mais papel da China, mas, com a crise na região, devido aos ataques dos piratas houthis, por onde o papel vindo do país asiático passa para chegar à Europa, eles estão comprando mais celulose para sustentar a produção local.
“A China é uma balizadora de preços. Eles importam muitas celuloses, mas também têm muitas papeleiras integradas, parecidas com a Klabin (KLBN11). Quando o preço de celulose está muito alto, a China acelera produção de celulose via integradas. Quando o preço está baixo, ela aumenta a importação. Vai equilibrando o mercado”, explica.
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Para ele, é esperado que os preços caiam após a Shangai Pulp Week, que acontece na próxima semana, mas não como no ano passado. Mas, mesmo assim, há quem esteja mais otimista.
O Bradesco BBI, em relatório, por exemplo, menciona que os produtores e comerciantes estão vendo um “outro clima para o evento deste ano” – enquanto, nos anteriores, ele foi marcado por quedas após o seu fim. “Os produtores estão mencionando livros de encomendas cheios antes do evento. Além disso, os crescentes problemas do lado da oferta na Europa, com crise do Mar Vermelho e greves nos portos da Finlândia, também levaram a um maior ímpeto de preços na região”, diz o time do banco.
A equipe do banco ainda menciona que recebeu executivos do setor, incluindo os CEOs da Suzano e da Klabin, nas últimas semanas, que sinalizaram otimismo. “Em geral, um ‘primeiro semestre melhor que o esperado’ ecoou em nossas reuniões, com as empresas sinalizando um ano mais forte em termos de volumes, preços e custos”, diz.
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No segundo semestre a visão é de uma correção, mas menor do que a esperada anteriormente. De qualquer forma, para além da visão para o curto prazo, a percepção dos analistas é positiva para o longo prazo. Os próximos anos, preços ainda longe das máximas e o custo de capital alto (por conta dos juros em patamares elevados) devem afastar investimentos em novas capacidades do lado da oferta.
Ao mesmo tempo, há teses de que a demanda vai aumentar, com a higienização global crescendo elevando a demanda por produtos, por exemplo. Mesmo com a economia chinesa desacelerando e ameaçando o valor das commodities, por conta da crise do real state, o papel e a celulose estão muito mais ligados ao consumo (que deve ser estimulado por lá, de acordo com o último Plano Quinquenal).
Com isso, por fim, tanto a XP quanto a BBA têm a Suzano como sua top pick. “A Suzano tem 85% do seu Ebitda associado à celulose e ainda vamos ver a geração de caixa melhorar depois que o projeto Cerrado começar, com Capex caindo e geração de Ebitda pela planta”, comenta Sasson, sendo que a Klabin, como já mencionado, tem maior exposição ao papel. “Um dos pontos que gostamos da Suzano é que há uma capacidade de oferta para o segundo semestre, só que é ela mesmo que está entrando, com o projeto Cerrado. Por mais que possa pressionar preços, pelo lado da oferta, o faturamento entra para eles – e isso com um custo de produção muito baixo. Deve ser transformacional”, complementa o analista da XP.
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