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As plataformas de criptomoedas adotaram uma estratégia de marketing bem conhecida do mercado tradicional: contratar celebridades, influencers e esportistas de renome para fazer a publicidade de suas marcas, produtos e serviços.
A ideia é atrair um público que normalmente não olharia para o mercado cripto ou tem certo receio de entrar no setor. De acordo com um levantamento recente do Instituto FSB Pesquisa, a falta de confiança é uma das principais barreiras para os brasileiros alocarem recursos em ativos digitais.
O último famoso a embarcar no universo cripto foi o jogador argentino Lionel Messi, que hoje joga no Paris Saint-Germain. Na semana passada, o craque fechou parceria com a Bitget, exchange de criptomoedas com sede em Cingapura, para ajudar a empresa no processo de expansão na América Latina. A região vive um “boom” e atraiu investimento recorde de capital de risco para o setor cripto em 2021.
“A América Latina é um mercado com forte potencial de crescimento para nossos negócios e gostaríamos de colocar mais foco na região e entender melhor esse mercado”, disse Gracy Chen, diretora-geral da Bitget, a 70ª maior exchange do mundo em volume negociado, segundo o agregador CoinMarketCap.
Além de Messi, a corretora cripto também tem acordos com outros grupos esportivos, como o clube de futebol italiano Juventus e a Team Spirit, principal organização de eSports da Rússia. “Estamos formando alianças com equipes ou jogadores de credibilidade para aumentar ainda mais a adoção e desenvolver uma melhor compreensão pública sobre as criptomoedas”, falou Gracy.
Nos últimos anos, famosos como a supermodelo brasileira Gisele Bündchen, o jogador de futebol americano Tom Brady, o atleta português Cristiano Ronaldo e o ator norte-americano Matt Damon também fecharam parcerias com projetos cripto.
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Gisele Bündchen e Brady, seu ex-marido, viraram acionistas da exchange FTX – a terceira maior do mundo em volume negociado – em junho do ano passado. A modelo brasileira, uma das mais bem pagas do mundo segundo a Forbes, também assumiu o cargo de chefe de iniciativas ambientais e sociais da corretora, conhecida por ter um forte trabalho social.
Cristiano Ronaldo, que ganhou cinco vezes o troféu de melhor jogador do mundo, se uniu à Binance, maior corretora cripto do mercado, em junho deste ano. Juntos, conforme release divulgado na época, eles vão lançar coleções de tokens não-fungíveis (NFTs) e projetos para a Web 3.0.
Já Damon fez um comercial para a corretora Crypto.com no final de 2021. A propaganda viralizou e chegou a entrar nos trending topics do Twitter. Nem todos os comentários, no entanto, foram positivos.
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Outro lado
Marcas procuram exposição por famosos para atrair um público que normalmente não olharia para o mercado cripto, mas a presença das celebridades nesse setor acumula já acumula um histórico que inspira cautela por parte do investidor. Não faltam casos de projetos cripto promovidos por influencers que podem ser considerados, no mínimo, polêmicos.
No início deste mês, por exemplo, a atriz e influencer Kim Kardashian teve que pagar uma multa milionária para a Securities and Exchange Comission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários do Estados Unidos) por divulgar uma criptomoeda desconhecida e não revelar que foi paga para fazer isso.
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O presidente da SEC, Gary Gensler, disse no Twitter no início deste mês que o caso “é um lembrete de que, quando celebridades ou influenciadores endossam oportunidades de investimento, incluindo criptoativos, isso não significa que esses produtos de investimento sejam adequados para todos os investidores”.
No Brasil, esportistas e celebridades de vez em quando também embarcam em projetos cripto duvidosos.
Em 2020, o ex-jogador Ronaldinho Gaúcho virou réu em uma ação coletiva contra uma empresa chamada Ronaldinho 18k, que prometia pagar lucros de 2% ao mês com aplicações em ativos digitais. Na época, a defesa de Ronaldinho disse para a reportagem do UOL que ele era apenas o garoto-propaganda.
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Em 2018, o ator Cauã Reymond e a apresentadora Tatá Werneck fizeram propaganda para a Atlas Quantum, uma empresa cripto que em 2019 foi proibida pela CVM de ofertar títulos ou contratos de investimento coletivo. Já os apresentadores Rodrigo Faro e José Luiz Datena fizeram propaganda para a empresa Investimento Bitcoin, que prometia lucros fixos por meio de criptoativos, mas não honrou com as promessas e acabou entrando na mira das autoridades.
A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) está de olho nos influenciadores do setor de criptomoedas, uma das categorias dentro dos nomes que falam sobre renda variável, responsável por 95% das postagens em redes sociais, segundo relatório da entidade publicado na última terça-feira (25).
Segundo levantamento da Anbima divulgado neste mês, os influenciadores falaram mais sobre criptomoedas do que ações no primeiro semestre deste ano – 12.349 contra 11.591 citações nos perfis monitorados.
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No Brasil, segundo o advogado criminalista Beno Brandão, da Beno Brandão Advogados, não existe uma unanimidade sobre a questão da responsabilidade de celebridades na divulgação de projetos envolvendo criptomoedas. Segundo ele, há algumas posições, e a primeira decorre do artigo 38 Código de Defesa do Consumidor.
“Esse artigo diz que o ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina. Ou seja, o ofertante do produto ou do serviço. As empresas que são contratadas para fazer a divulgação estão isentas e muito mais as celebridades que anunciam”.
Por outro lado, falou ele, existe um precedente no Superior Tribunal de Justiça (STJ), julgado em 2012, envolvendo uma agência de publicidade que estava anunciando um banco falido (lembrando que hoje em dia alguns bancos digitais também oferecem cripto). “Então, nesse caso específico, se entendeu que ela (a agência) tinha uma responsabilidade pelo anúncio”.
Como a legislação, em muitos casos, isenta a responsabilidade da celebridade que divulga projetos cripto, e a presença delas não é garantia da confiabilidade de um produto ou serviço, especialistas costumam recomendar que as pessoas, antes de alocarem qualquer recurso em ativos digitais, façam sua própria investigação.
Na prática, isso significa verificar quem são os criadores (o anonimato, por exemplo, nunca é um bom sinal, com exceção do Bitcoin); averiguar se os responsáveis fizeram algum projeto antes que teve resultado; conversar com outras pessoas; fazer pesquisas em fóruns e sites; e, no caso de plataformas brasileiras, vale ainda pesquisar se há reclamações em plataformas de Defesa do Consumidor, como o Reclame Aqui, e processos nos sites dos tribunais de Justiça.