BHIA3: “turnaround” segue, mas grande desafio permanece; ação cai após salto no mês

Prejuízo líquido ainda é impactado por elevados custos financeiros e analistas seguem cautelosos

Lara Rizério

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Com a ação em disparada de mais de 100% no mês até o fechamento da última quarta-feira (12), o grupo Casas Bahia (BHIA3) divulgou seu resultado do quarto trimestre de 2024 (4T24) na noite da véspera ainda com um prejuízo, mas menor na comparação anual (de R$ 452 milhões ante perda de R$ 1 bilhão apurada um ano antes).

A visão geral é de melhora progressiva nas tendências, com aumentos na receita líquida e no desempenho operacional, mas com alavancagem ainda afetando a última linha do balanço. Com isso, a ação caía 4,03%, a R$ 5,24, às 10h47 (horário de Brasília), mas revertendo apenas parte das fortes altas recentes.

“O Grupo Casas Bahia apresentou resultados mistos, com tendências de crescimento de receita e de rentabilidade, mas ainda pressionada pela alavancagem alta”, aponta a XP Investimentos em relatório.

O GMV (volume bruto de mercadorias) Total Consolidado cresceu 10%, com a recuperação das lojas físicas (vendas mesmas lojas, ou SSS, em +17%) e a aceleração do marketplace, ou 3P (+24% versus +18% no 3T) mais do que compensando o estoque próprio, ou 1P (-10%), uma vez que a empresa continuou otimizando as vendas B2B (business to business) e ajustando seu mix de produtos. Como resultado, as vendas brutas consolidadas cresceram +8% anualmente, impulsionadas principalmente pela recuperação das vendas de mercadorias (+7% versus -7% no 3T), aliada à força dos serviços e crédito (+17% e +21%, respectivamente).

“A rentabilidade foi novamente o destaque, com a margem bruta expandindo 320 pontos-base (bps) anualmente, refletindo a maior qualidade dos estoques, o mix de produtos e o aumento da penetração de serviços e soluções financeiras (+1,2 p.p. anualmente)”, avaliam os analistas da XP.

Isso, somado à alavancagem operacional e ao rígido controle de despesas de vendas, gerais e administrativas, ou SG&A (-2,5% ano a ano), sustentou a expansão da margem Ebitda ajustada para 8% (+5,8 p.p. na base anual).

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Além disso, o prejuízo líquido ainda é impactado por elevados custos financeiros.

A Genial Investimentos, na mesma linha, destaca a melhora operacional, mas ressalta que a linha do resultado líquido (mostrando prejuízo) ainda deixa a desejar.

O resultado mostra uma consistente evolução na performance de lojas físicas, impulsionado pela sazonalidade positiva (Black Friday e Natal) somada a um crescimento muito maior do que o esperado para carteira de crédito neste trimestre (+17% na base anual, versus estimativa da Genial de alta de 10%).

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A Genial ainda aponta que, com um faturamento 3,8% superior ao projetado, a diluição de despesas fixas acabou se consolidando mais forte que o esperado, levando a uma margem Ebitda (Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações/receita líquida) que não era vista desde 2017 (para um 4º trimestre), quando a companhia registrou uma rentabilidade de 8,3%. “Esse avanço reforça a recuperação operacional da companhia e a execução do plano de transformação iniciado em 2023”, avalia.

A Genial ressalta que a fotografia de curto prazo parece promissora. Entretanto, pondera que a carência de juros da dívida (e principal) dão um certo conforto à Casas Bahia em acelerar o crédito para impulsionar o faturamento e levar o operacional a uma curva de crescimento mais rápido do que o cenário esperado.

Para os analistas da casa, o verdadeiro teste virá em 2025 e questionam se a Casas Bahia conseguirá sustentar essa margem operacional sem comprometer a qualidade do crédito. “Monitorar essa evolução será essencial, especialmente considerando um ambiente macroeconômico mais desafiador no segundo semestre, com inflação pressionada e Selic ainda maior do que foi em 2024”, aponta.

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O time de análise também chama a atenção para o aumento do fornecedor convênio (famoso risco sacado, que ficou conhecido pelo caso Americanos [AMER3]), que vem evoluindo a taxas de 20% há dois trimestres consecutivos.”

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“Apesar dos alardes após o eventos Americanas, frisamos que não existe problema nenhum em realizar esse tipo de operação, afinal é uma ferramenta fundamental para a gestão de capital de giro no varejo, principalmente em empresas que operam com ciclo de caixa longo, como a Casas Bahia”, pondera.

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Levando tudo isso em conta, a Genial avalia que a tese de turnaround avança, mas a consistência da recuperação será o fator-chave para consolidar a confiança do mercado. “O grande desafio para 2025 permanece sendo a alta alavancagem financeira (1,9 vez) e incertezas em relação ao 2º semestre de 2025, o que podem retardar o crescimento do lucro operacional e, consequentemente, geração de caixa livre do grupo”, avalia a casa, que tem recomendação equivalente à venda para os ativos.

O Morgan Stanley também segue com recomendação equivalente à venda para os ativos (underweight, exposição abaixo da média) para os ativos. O banco aponta que, apesar do progresso operacional e com o reperfilamento da dívida (prazo médio de 22 meses para 72 meses), em meio ao aumento das taxas de juros no Brasil, vê o caminho para o lucro líquido positivo permanecendo pressionado ao longo de 2025″, aponta a equipe de análise.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.