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O Ibovespa fechou o mês de setembro com uma modesta alta de 0,71%, com as decisões de política monetária aqui e no exterior sendo o tema de destaque durante boa parte das sessões.
Apesar do índice fechar em alta, algumas importantes ações dele fecharam em baixa expressiva. O setor de varejo foi destaque, contando com 4 das 5 maiores baixas de setembro. Já empresas ligadas a commodities corresponderam à boa parte dos ganhos do período.
A história se repetiu no acumulado do terceiro trimestre, com as ações de GPA (PCAR3), Casas Bahia (BHIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) entre as maiores perdas do trimestre, com baixas respectivas de 81,29%, 70,7% e 51,04% no período.
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Já entre as maiores altas, PRIO (PRIO3), Petrobras (PETR3;PETR4) e São Martinho (SMTO3) subiram entre 17% e 27% de julho a setembro com alta de quase 30% do petróleo no período e alta dos preços do açúcar.
Confira abaixo os destaques do mês:
Maiores baixas
Grupo Casas Bahia (BHIA3): ação fecha em queda de 50,39%
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Apesar da alta registrada das ações na última sessão do mês, as ações do Grupo Casas Bahia (BHIA3) foram destaque de baixa do Ibovespa em setembro.
Setembro, por sinal, foi marcado por uma expressiva mudança no grupo. A Via mudou seu nome para Grupo Casas Bahia, em mais um movimento da sua recém anunciada reestruturação.
Contudo, resultados negativos, diluição de acionistas com follow ons, posição de caixa não muito saudável e a dúvida de investidores quanto à reestruturação levaram desconfiança com relação à tese na varejista.
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Nesta semana, houve ainda a renúncia de Abel Ornelas Vieira do cargo de Vice-Presidente Comercial e de Operações, posição que estava há quatro anos. Para o JPMorgan, a decisão, contudo, não surpreendeu.
“No geral, sua saída não surpreende, dadas as dificuldades enfrentadas pela empresa tanto operacionalmente quanto em seu balanço”, fala o time do banco americano, liderado por Joseph Giordano.
Do outro lado, os analistas ponderam que Ornelas era o único executivo da empresa com ampla experiência no varejo, com mais de 30 anos de atuação no setor. Renato Franklin, diretor executivo (CEO) da antiga Via, que assumiu no começo do ano, veio da Movida (MOVI3), de locação de carros.
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“Esperamos que as ações continuem sob pressão, principalmente agora que um novo chefe comercial provavelmente será nomeado em meio a um desafiador processo de recuperação”, diz o time do JP.
Franklin, contudo, disse em entrevista que afirmou que pretende ocupar a posição deixada por pelo menos um ano.
O JP Morgan, atualmente, tem recomendação underweight para os papéis (abaixo da média do mercado, equivalente à venda), com preço-alvo em R$ 0,75.
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GPA (PCAR3) em baixa de 29,15%
O GPA, que opera a marca Pão de Açúcar, seguiu em forte queda após a baixa de mais de 40% em agosto. No mês passado, a baixa se deu por uma combinação do efeito cisão do Grupo Éxito (EXCO32) – com os acionistas da varejista brasileira também recebendo BDRs da empresa colombiana -, mas também por incertezas sobre a estruturação da companhia.
As incertezas se seguiram em setembro. Na semana passada, o research do Santander rebaixou a recomendação da varejista de compra para neutro. Na visão dos analistas, após o spin-off do Grupo Éxito (EXCO32), a empresa passa por um momento desafiador de lucros. O preço-alvo foi cortado de R$ 35 para R$ 5,70.
“A rentabilidade abaixo do ideal da empresa e os resultados financeiros pressionados devido à elevada alavancagem financeira deverão continuar pesando sobre as ações no curto prazo”, avaliam os analistas.
Segundo eles, a queda do preço-alvo é efeito do spin-off do Éxito, mas também ocorreu por conta das significativas revisões baixistas dos lucros nas operações brasileiras do GPA. “Com as altas despesas financeiras sobrepondo o potencial aumento da lucratividade da empresa, esperamos que o lucro líquido do GPA permaneça negativo nos próximos anos”, completa a equipe de análise.
O Bank of America, por sua vez, reduziu o preço-alvo das ações PCAR3 de R$ 15 para R$ 3,50 após a cisão do controle acionário no Éxito, seguindo com recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado).
Os analistas do banco americano disseram prever melhoras operacionais, mas estrutura de custo elevada, perda de escala e pressão da concorrência nos próximos anos. Disputas trabalhistas também são citadas, o que poderia ofuscar receitas de patrimônio.
Magazine Luiza (MGLU3) termina setembro em queda de 23,19%
Outra varejista a registrar forte queda do mês é o Magazine Luiza. O cenário macro ajuda a entender esse movimento, apesar da nova queda de juros feita pelo Comitê de Política Monetária (Copom) neste mês em 0,5 ponto percentual. Isso por conta da sinalização mais clara do Banco Central de que não deve acelerar o passo dos cortes, ao mesmo tempo em que a pressão de juros altos nos EUA por um período mais longo de tempo eleva a percepção de que o Copom não deve acelerar o passo.
Leia também: MGLU3 a R$ 2 é oportunidade de compra? Entenda o que esperar pela análise técnica das ações de Magazine Luiza
Isso acaba afetando o setor de varejo em geral, já que juros mais altos “seguram” a economia e também inibem o crédito.
Além disso, investidores seguem bastante cautelosos com o operacional de diversas empresas de consumo e varejo, incluindo Magalu.
Em conversa com investidores locais, o Goldman Sachs destacou que o interesse deles no segmento de bens duráveis, de empresas como Magazine Luiza e Casas Bahia era limitado.
Vamos (VAMO3) em queda de 16,82%
A Vamos, de locação de caminhões, máquinas e equipamentos, registrou um mês também de expressiva queda.
No começo de setembro, o JPMorgan cortou a recomendação para os ativos, então recém-chegados no Ibovespa, de equivalente à compra para neutra, cortando também o preço-alvo de R$ 19,50 para R$ 18.
O banco americano apontou ter menor visibilidade de resultados no curto prazo, com questões na execução do seu plano estratégico após números fracos no primeiro semestre, vendo a necessidade de maior desembolso de capital para a companhia atualizar sua frota de caminhões para modelos Euro VI.
“No entanto, continuamos a gostar das perspectivas de longo prazo para aluguel de máquinas pesadas, vendo as ações a preços atrativos”, avaliou. De qualquer forma, a falta de gatilhos de curto prazo levou a casa a preferir exposição em Movida (MOVI3) e Localiza (RENT3).
Já no fim deste mês, o Itaú BBA destacou, após reunião realizada com mais de 40 investidores e Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas da divisão Volkswagen Trucks & Buses (VWCO), ter uma leitura apontando sinais contraditórios para a Vamos.
Isso porque: i) os preços dos caminhões deverão continuar subindo, pressionando a Vamos a repassar esses custos aos clientes; ii) a janela de oportunidade para aquisição pode estar próxima do fim, dada a expectativa de aceleração das vendas em 2024; e iii) a diferença de descontos entre a Vamos e os grandes clientes não parece tão grande quanto se poderia esperar.
Lojas Renner (LREN3) cai 15,44%
Além dos fatores macroeconômicos, outros também levaram a mais uma varejista, a Renner, a registrar forte queda em setembro.
Dentre eles, a adesão de empresas estrangeiras ao Remessa Conforme (programa da Receita Federal que muda as regras de taxação de compras feitas em lojas do exterior sendo que, com ele, é possível obter a isenção do imposto de importação para compras online de até US$ 50; apesar do imposto zero para importação, é cobrado 17% de ICMS sobre cada remessa enviada ao país) e discussões sobre reforma tributária.
O Goldman destacou que, durante a conversa com investidores, a Renner dividiu opiniões, com alguns expressando preocupações sobre a visibilidade ainda relativamente limitada dos lucros no curto prazo e algumas desvantagens adicionais nas estimativas de consenso.
“Alguns investidores também estavam interessados em discutir qual deveria ser um múltiplo justo para a ação da Lojas Renner, com alguns defendendo um ‘de-rating’ mais estrutural, enquanto outros foram mais construtivos devido à inflexão dos lucros passar para a linha de visão do mercado”, observaram, citando que a preocupação em torno da concorrência externa ainda prevalece.
Enquanto isso, o Bradesco BBI ressaltou que Renner não está imune a manchetes negativas do setor, mas que o valuation atualmente descontado (10 vez o múltiplo P/L, ou preço sobre lucro, para 2024) e as manchetes potencialmente negativas mais improváveis a partir de agora levam a equipe de análise a pensar que a assimetria agora deveria estar mais inclinado para cima (ou seja, mais chances de notícias que levem a surpresas positivas do que negativas).
“Vale lembrar que a Lojas Renner ainda desfruta de uma posição de destaque dentro de um mercado de vestuário altamente fragmentado, onde tem mais escala, mais rentabilidade e um balanço mais sólido entre os concorrentes locais, o que em última análise deverá lhe conferir um piso de valuation”, aponta.
Na mesma linha, a XP ressalta que alguns investidores com quem conversou ainda possuem Lojas Renner, porque continuam a vê-la como uma companhia de alta qualidade, com melhor dinâmica de resultados.
Confira as 5 maiores baixas do Ibovespa em setembro:
Empresa | Ticker | Preço | Variação percentual |
Grupo Casas Bahia | BHIA3 | R$ 0,63 | -50,39% |
GPA | PCAR3 | R$ 3,50 | -29,15% |
Magazine Luiza | MGLU3 | R$ 2,12 | -23,19% |
Vamos | VAMO3 | R$ 9,74 | -16,82% |
Lojas Renner | LREN3 | R$ 13,70 | -15,44% |
Maiores altas
CSN Mineração (CMIN3) avança 13,32% no mês
A visão mais positiva para o minério de ferro, apesar de sinais de fraqueza da China, guiou a alta das ações da CSN Mineração (CMIN3) em setembro.
Em relatório do último dia 20, o Morgan Stanley elevou a recomendação para as ações CMIN3 de equalweight (exposição em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) para overweight (exposição acima da média, equivalente à compra). O preço-alvo teve leve elevação de R$ 5 para R$ 5,50.
“As ações de minério de ferro têm registrado uma performance pior à da commodity no ano até o momento; acreditamos que elas ainda não precificaram os preços elevados do minério de ferro no curto prazo”, diz o Morgan Stanley.
A análise destaca que a forte produção de aço da China, apoiada pelas altas exportações líquidas e a oferta fraca de minério de ferro no primeiro trimestre de 2024, sazonalmente, impactam as perspectivas para o minério de ferro no curto prazo.
BRF (BRFS3) em alta de 12,72%
O mês de setembro foi marcado por novas elevações de participação da Marfrig (MRFG3) na BRF (BRFS3) sendo que, na última segunda-feira (25), informou ter elevado a fatia para 40,05%.
A Guide Investimentos apontou que o aumento de participação já era esperado. A Marfrig e o fundo árabe Salic foram os maiores compradores de ações da BRF na última oferta de ações, realizada em julho e que levantou R$ 5,4 bilhões.
A casa de análise ressalta que o aumento da participação visa aumentar o poder de controle a Marfrig na BRF, algo que começou em 2021.
Para o Bradesco BBI, o o cenário mais provável é que a Marfrig aumente sua participação para 50% na BRF e o Salic para 25% (atualmente, o fundo possui uma fatia de 10,7%), enquanto os minoritários ficariam com 25%.
O BBI ainda especula sobre o prazo para que isso ocorra, esperando que a Marfrig provavelmente atinja 50% da BRF nos próximos 12 meses.
A limitação da Salic deter no máximo 25% da BRF pelos próximos sete anos, por um lado, sugere um prazo potencialmente mais longo.
Além disso, a Marfrig enfrenta margens mais baixas no mercado de carne bovina nos Estados Unidos, que podem durar mais um ano, limitando seu fluxo de caixa.
Contudo, os analistas avaliam ser importante considerar que a Marfrig vendeu recentemente R$ 7,5 bilhões em ativos para a Minerva (BEEF3), quantia que poderia financiar o potencial de R$ 1,7 bilhão necessário para atingir a participação de 50% na BRF.
Para os analistas, caso o cenário de a Marfrig atingir 50% da BRF se concretize, isso pode ser positivo para o preço das ações da BRF, visto que a pressão compradora poderá elevar o preço dos papéis. Para a Marfrig, pode haver alguma cautela dos investidores quanto à alavancagem financeira, embora os especialistas entendam que a empresa tem tomado medidas para permitir um balanço saudável (por exemplo, venda de ativos).
Hapvida (HAPV3) sobe 10,33%
A visão mais positiva do mercado com a Hapvida (HAPV3) se seguiu em setembro, com as ações entre os destaques de alta do benchmark da Bolsa brasileira.
No último dia 6 de setembro, o Goldman Sachs elevou a recomendação para HAPV3 de neutro para compra, elevando o preço-alvo de R$ 5,50 para R$ 6.
Na visão dos analistas, os resultados do segundo trimestre de 2023 (2T23) da Hapvida apresentaram sinais consistentes de que a empresa está começando a dar frutos com sua recuperação de rentabilidade, pois veem reajustes de preços de dois dígitos e racionalização do portfólio de provedores compensando (ou pelo menos atenuando) as pressões de custos devido à maior frequência.
“Embora reconheçamos o impacto negativo dessa abordagem na sua base de associados, acreditamos que a gestão da Hapvida está abordando corretamente a principal preocupação do mercado na tese, que é a disciplina na recuperação da rentabilidade”, avalia o Goldman.
Juntamente com isso, os analistas esperam ver outros catalisadores para a expansão das margens no futuro, como i) um nível mais eficiente de despesas com pessoal (por exemplo, maiores sinergias com a NotreDame Intermédica, ou NDI); ii) amadurecimento dos investimentos em uma estrutura mais verticalizada, especialmente na regional I; iii) despesas de vendas mais baixas, apoiadas pela unificação das políticas comerciais com o NDI e uma potencial melhora da Provisão para Despesas Administrativas (PDA), caso a situação macroeconômica melhore.
Já em meados do mês, o Itaú BBA reforçou a Hapvida como a sua indicação de “compra”, além de preferência pela empresa no setor de saúde. “Aproveitamos também para elevar nosso preço-alvo para R$ 7 por ação ao final de 2024 (de R$ 6 por ação para o final de 2023)”, apontou.
Os analistas revisaram as projeções para cima após resultados robustos do segundo trimestre.
Petrobras (PETR3) avança 9,70%
As ações da Petrobras tiveram mais um mês de ganhos, em um trimestre que foi marcado pela alta de 28% do petróleo. Entre os motivos para a alta do petróleo, estiveram o corte de produção da Opep+ e proibição temporário de exportação feita pelo governo da Rússia.
Apesar das ações da Petrobras subirem com a alta do petróleo, ao mesmo tempo em que mais casas passaram a ficar otimistas com a gestão da estatal (caso do Jefferies, juntando-se a várias casas que elevaram recomendação para o papel da companhia para compra em agosto), os preços da commodity em alta também geram uma fonte de pressão.
A disparada dos preços do barril do petróleo no mercado internacional nesta última quarta (ainda que seguida de duas quedas) elevou a defasagem dos valores dos combustíveis vendidos pela companhia no Brasil ante os praticados no exterior, ampliando pressão para um novo reajuste nas refinarias da petroleira estatal, disseram analistas.
O cenário ocorre em momento em que já havia uma avaliação de que a companhia precisaria reajustar o diesel em breve, uma vez que a Rússia — atualmente a principal fornecedora externa do combustível ao Brasil — decidiu restringir as exportações do produto, que vinha chegando ao país com preços mais baixos do que o praticado por outros fornecedores mais tradicionais.
Em fala recente, Jean Paul Prates, CEO da estatal, disse que a companhia não deve mexer nos preços dos combustíveis no momento, mas avalia de perto o movimento do mercado para não perder a rentabilidade.
De acordo com o presidente da estatal, os reajustes virão se o patamar de preço do petróleo for consolidado, como ocorreu no último aumento de 16 de agosto. Para ele, se a commodity atingir US$ 100, como está sendo previsto para outubro, “será uma barreira psicológica importante”.
São Martinho (SMTO3) em alta de 8,66%
Os motivos para a alta das ações da São Martinho (SMTO3) encontram consonância com os movimentos registrados em agosto. A alta dos preços de açúcar por conta do El Niño.
Historicamente, o fenômeno climático provoca seca nos países asiáticos, o que resulta numa redução entre 6% a 8% na produção global de açúcar em comparação com a colheita anterior. Isto provoca aumento entre 50-60% nos preços internacionais, apontou a Ágora em relatório.
O Brasil é responsável por cerca de 40% do total das exportações de açúcar; com o aumento dos preços internacionais, as exportações tornam-se mais atrativas, como aconteceu em 2015/16, colocando assim uma pressão altista sobre os preços internos.
A Guide também apontou a São Martinho como uma das empresas mais beneficiadas com a alta do açúcar.
A redução da produção de açúcar pela Índia não é novidade. Os preços do açúcar estão em alta, principalmente a partir do 2S22 quando uma combinação de safra ruim na Índia e migração pra etanol ganhou força. “Acreditamos que os preços do açúcar devem continuar elevado por pelo menos mais alguns meses (enquanto não houver sinais claros de aumento da produção), favorecendo os produtores de açúcar na bolsa”, apontou.
Confira as 5 maiores altas do Ibovespa em setembro: