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A expectativa já era por números fracos, e o Grupo Casas Bahia (BHIA3) divulgou um resultado do terceiro trimestre de 2023 (3T23) ainda pior do que o esperado. Com isso, as ações já abriram a sessão desta quinta-feira (9) em queda, fechando com baixa de 12,28%, a emblemáticos R$ 0,50. Cabe ressaltar a forte variação percentual dos ativos devido ao baixo valor de face de BHIA3.
A companhia, que passa por um momento de reestruturação, registrou no terceiro trimestre de 2023 um prejuízo 311% maior que no mesmo período do ano passado e fechou em R$ 836 milhões. É o quinto trimestre consecutivo que os resultados líquidos da empresa são negativos. O último em que registrou lucro foi no segundo trimestre de 2022, de R$ 16 milhões.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado neste trimestre também foi negativo, em R$ 66 milhões, o que fez reverter o resultado positivo na comparação anual. A receita líquida teve leve queda de 6,3% em relação ao terceiro trimestre de 2022, e fechou em R$ 6,590 bilhões.
“O Grupo Casas Bahia reportou resultados muito fracos no 3T, com o macro fraco impactando faturamento, enquanto as medidas de reestruturação levaram a um Ebitda negativo”, aponta a XP.
Os analistas da casa ainda destacam que o volume bruto de mercadoria (GMV) alcançou R$ 9,81 bilhões, queda de 4,1% ante igual período do ano anterior, impactado por um macro ainda desafiador, investimentos menores em B2B e fechamentos de 11 lojas nos últimos 12 meses.
O GMV de mercadoria própria (1P) recuou 6,3%, para R$ 8,5 bilhões, enquanto o de terceiros (marketplace, ou 3P) teve alta de 13,8%, para R$ 1,3 bilhão. O faturamento bruto das lojas físicas teve baixa de 2,7% em base anual, para R$ 4,98 bilhões no terceiro trimestre de 2023, enquanto a receita das lojas on-line alcançou R$ 2,85 bilhões, queda de 9,7%.
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A XP reforça ainda que a rentabilidade foi o destaque negativo dos resultados, fortemente impactada por custos de reestruturação.
A margem bruta contraiu 7,7 pontos percentuais (p.p.) na base anual, impactada pela atividade promocional para redução de estoques e uma provisão de R$ 100 milhões sem efeito caixa, relacionada a performance abaixo do esperado na parceria para cartões co-branded, que combinadas com o maior pagamento de processos trabalhistas (+74% ano a ano) levaram o Ebitda ajustado a patamares negativos, mais que compensando otimizações de despesas com menores investimentos em marketing e redução de funcionários.
“Já o prejuízo alcançou R$ 836 milhões por conta de resultados operacionais pressionados, combinados com uma alavancagem financeira ainda elevada, enquanto o fluxo de caixa livre (FCF) veio positivo em R$ 955 milhões, principalmente por estoques (R$ 760 milhões) e recebíveis (R$ 600 milhões), apesar de parcialmente compensados pelo pagamento de demandas judiciais (-R$ 350 milhões) e fornecedores (-R$ 550 milhões)”, reforça a XP.
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A Genial também reforçou que o resultado de Casas Bahia se consolidou aquém de suas expectativas, com a liquidação de estoques corroendo a margem bruta de forma acima do esperado (23,0% de margem bruta versus estimativa de 24,7% da casa).
“Diante desse carrego negativo em relação às nossas expectativas, somada a linha de Outras Despesas quase 70% superior ao projetado, o Grupo Casas Bahia consolidou um prejuízo contábil quase bilionário, em R$ 836 milhões (+69,9% ao ano e 21,4% além da projeção da Genial)”, aponta a casa.
O Citi também reforçou a visão de números consideravelmente abaixo do que esperava, todos conectados à “limpeza” dos estoques. As vendas totais ficaram 2% abaixo do que o Citi esperava devido às piores vendas no 1P (8% abaixo da projeção do ano), enquanto as lojas físicas ficaram em linha com o que a instituição financeira esperava.
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“A Casas Bahia apontou dois grandes impactos pontuais de custos: (i) R$ 309 milhões relacionados a esforços promocionais para compensação de estoques e (ii) R$ 100 milhões relacionados à parceria de marca conjunta – aparentemente ela teve que reconhecer custos após perder certas metas de vendas estabelecido na parceria”, avalia, enquanto SG&A (custos de vendas, gerais e administrativos) ficou 9% acima do que o Citi esperava. Já o prejuízo líquido de R$ 837 milhões foi consideravelmente superior ao à projeção do banco de resultado negativo de R$ 595 milhões.
Depois da “limpeza” do balanço, o que esperar?
Apesar dos números pressionados, o Bradesco BBI apontou que já era esperado que o Grupo Casas Bahia apresentasse números ruins, fortemente ajustados pelos efeitos da reestruturação. “Pensando nisso, os números do 3T23 não trazem nenhum grande movimento de tendência em relação às expectativas atuais”, avalia.
Assim, os analistas ficam de olho na condução do processo de reestruturação e no que está por vir.
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A XP ressalta que na véspera, a companhia lançou um FIDC – fundo de investimento em direitos creditórios – de R$600 milhões, que deve melhorar a flexibilidade do Grupo da concessão de crédito. Além disso, o plano de transformação da companhia está dentro do esperado, com oportunidades adicionais de até R$ 500 milhões mapeadas.
A diretoria destacou que a geração de caixa ainda é insuficiente para cumprir com as obrigações enquanto a companhia antecipou cartões para compensar o menor apetite por crédito por parte dos bancos. Além disso, de acordo com notícias do Brazil Journal, a companhia descontinuou 23 categorias de produtos que não eram rentáveis.
Sobre o FIDC, a Genial destacou que, apesar de ter havido uma evolução nas notícias em relação ao tema, reitera não acreditar que o fundo estará implementado a tempo hábil da Black Friday, o que deve resultar em uma menor alavancagem operacional em um trimestre sazonalmente importante para o varejo.
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“Com dois resultados consecutivos vindo abaixo de nossas expectativas, entendemos que o 4º trimestre será crucial para definirmos uma possível mudança de recomendação em Casas Bahia”, avalia a Genial que, por ora, mantém recomendação neutra e preço-alvo em doze meses em R$ 0,60 – upside de apenas 5,3% em relação ao fechamento de quarta-feira, quando encerrou o dia a R$ 0,57.
A XP também tem recomendação neutra para o ativo, com preço-alvo de R$ 0,70 (ainda um upside de 23%, dado o baixo valor de face dos ativos), assim como o Citi.
O Goldman Sachs, por sua vez, tem recomendação de venda, com preço-alvo de R$ 0,50, ou queda de 12,3% frente o fechamento da véspera.
“Embora as iniciativas de curto prazo da administração em torno de estoque, número de funcionários, despesas de marketing e redução das lojas devam permitir que a empresa entre em 2024 com uma configuração mais enxuta e lucrativa, continuamos a acreditar que a capacidade financeira da empresa para investir estrategicamente e defender iniciativas num mercado altamente competitivo permanecem limitada”, avalia.
Ana Paula (Popy) Tozzi, CEO da AGR Consultores, explica que a empresa busca entrar 2024 mais enxuta e eficiente. com menos lojas, e que está em processo de transformação.
“Existe um longo caminho para somar as variáveis não controláveis, por exemplo as condições do mercado, com as variáveis controláveis, eficiência de gestão e leveza e flexibilidade da gestão operacional. Enxergamos um desafio enorme, uma vez que os concorrentes estão na mesma toada de transformação”, fala.
Executivos falam sobre reestruturação
Sobre o FIDC, em teleconferência de resultados realizada hoje, o diretor executivo do Grupo Casas Bahia noticiou que o primeiro produto foi lançado ontem – já contando com algumas vendas.
“Aos poucos iremos fazer um roll out para todas as lojas E vamos liberar balanço, dando flexibilidade para o nosso liability management”, falou. “Muita gente falou que o lançamento, em novembro, estava em um cronograma muito apertado. Foi o maior desafio em termos de complexidade, mas foi bem executado”, explicou, ao ser indagado sobre o maior risco da reestruturação.
Segundo o executivo, plano da varejista é começar a distribuir mais produtos do tipo no próximo ano para chegar em janeiro com quase todas as lojas operando nesse sistema. Se atrasar, pode ser jogado para fevereiro. “É um risco que há na mesa”, contextualizou.
Ele ainda destacou que a operação dará muita flexibilidade para o balanço da empresa, com benefícios no caixa e nas vendas.
“Estamos perdendo espaço no crediário para as vendas, por estarmos conservadores com a disciplina de caixa, trabalhando mais com o crédito pré-aprovado”, respondeu, ao ser indagado sobre a possibilidade da mudança impactar as vendas da varejista. “Vemos, com a transferência, espaço para melhorar vendas por conta do maior acesso a crédito dos clientes”.
Quanto ao crédito e provisões, eles comentaram também que a política da empresa, por agora, é “não deixar nada para depois”, ao mencionar o caso dos cartões co-branded.
“Ficamos abaixo das estimativas. Vimos que fazia sentido fazer uma provisão. Em outubro, tivemos números mais fortes. Lançamos um novo cartão com a Elo, com alavancas que indicam que vamos voltar para a meta”, falou o diretor executivo. “Fizemos provisão para não pegarmos os resultados do primeiro e segundo trimestre e jogar para frente. Sendo conservadores, estamos mantendo o princípio: vamos corrigir os problemas do passado agora para entrar em 2024 limpos e com potencial apenas de upside”.
Em outros pontos operacionais, a companhia também deve continuar fazendo sacrifícios para limpar o seu balanço.
“2023 é para arrumar a casa. Quarto trimestre é um período normalmente melhor. Mas, para gente, não vai servir como referência. Ainda temos ajustes”, disse Franklin. Segundo o executivo, a companhia segue fazendo saldões e diminuindo estoques, o que vai continuar deteriorando suas margens. “Estamos preocupados com a posição de caixa. Redução de estoque já deu resultado. Vamos continuar nos preparando para entrar em 2025 com boa posição. Vamos transformar o Grupo Casas Bahia”.