Carry trade: entenda por que a queda de juros no Brasil está derrubando o real hoje

Diferença entre a taxa de juros dos EUA e a do Brasil está cada vez menor, o que reduz a atratividade do real

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – A redução dos juros promovida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira (18) deixou os investidores muito animados, tanto que a Bolsa sobe chegou a subir 1% hoje. Contudo, o real tem, neste momento, o pior desempenho entre todas as moedas de países emergentes.

O dólar comercial fechou em alta de 1,5% a R$ 4,1622 na compra e a R$ 4,1642 na venda.

Por mais contraditório que pareça, esse é um efeito bastante comum, esperado até, para situações como a de ontem, em que a nossa Selic foi cortada em 0,5 ponto percentual para sua mínima histórica, a 5,5% ao ano, mas o Federal Reserve – o banco central dos Estados Unidos – reduziu os juros em apenas 0,25 ponto percentual, para uma banda entre 1,75% e 2% ao ano.

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Como o mercado financeiro é globalizado e o investidor faz sempre um balanço de risco e retorno, quanto menor for a diferença entre as taxas de juros pagas nos títulos de dívida de um país emergente e aquelas que são praticadas nos Estados Unidos (que possuem os títulos mais seguros do mundo), menor é a atratividade desse país.

O fenômeno conhecido como carry trade ocorre com a combinação entre fazer uma posição vendida em moeda com taxa de juros mais baixa e outra comprada em moeda com juro mais alto. Além da diferença entre os juros, o investidor também lucra com a variação cambial implícita.

Claramente, se não houver tanta diferença entre as taxas, a operação fica menos rentável, afastando os investidores.

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No caso do Brasil, há o agravante que o corte de ontem não será o último, enquanto o Fed não deixou claro se irá ou não continuar reduzindo as taxas nos EUA.

Os economistas Arthur Carvalho e Thiago Machado e os estrategistas Andrés Jaime, Iona Zamfir e Gilberto Hernandez-Gomez, do Morgan Stanley, acreditam que os juros brasileiros chegarão a 4,25% no começo de 2020.

Eles destacam que o Banco Central deixou a porta aberta para aprofundar o relaxamento monetário apesar da fraqueza do real frente ao dólar. “De fato, a inflação está se comportando bem e o crescimento econômico ainda precisa se acelerar, o que sinaliza que a política monetária deve se manter em campo acomodatício.”

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Com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – medidor oficial de inflação do governo – devendo terminar o ano em 3,45% (estimativa mediana do mercado de acordo com o Relatório Focus do BC), a taxa de juros real paga pelos títulos do Tesouro brasileiro atrelados à Selic está chegando cada vez mais perto de 0,5%.

Os analistas do Morgan Stanley entendem que isso cria riscos fortes ao real, que já está sofrendo com o baixo carry trade. Ou seja, para eles, há mais desvalorização do real no horizonte.

Por outro lado, há também quem considere que o cenário mais positivo com as reformas e melhora da atividade, os ganhos do dólar podem ser mais restritos, apesar da redução do carry trade, conforme ressaltou à Bloomberg Jayro Rezende, chefe de tesouraria do Banco da China.

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De qualquer forma, no curtíssimo prazo, a expectativa é de que o real repercuta às decisões de política monetária levando em conta a maior agressividade do BC no corte de juros, associado ainda ao ambiente internacional ainda turbulento por conta da disputa comercial entre China e Estados Unidos.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.