Carrefour: parcelado em 3 meses sem juro derruba ação; temor do mercado se justifica?

Queda ocorre devido a preocupações sobre potenciais consequências da nova política de parcelamento de 3 meses sem juros, que levaram à alta do faturamento, mas geraram preocupação sobre dívida

Lara Rizério

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Desde a divulgação dos resultados do segundo trimestre de 2024 (2T24), as ações do Carrefour Brasil (CRFB3) registram uma derrocada de cerca de 17%, apesar dos números considerados positivos por analistas, puxados por forte desempenho da receita no atacarejo

Mas o que tem afetado as ações? Para o mercado, justamente um dos pontos fortes do próprio balanço. O Bradesco BBI aponta que a queda ocorre devido a preocupações sobre potenciais consequências da nova política de parcelamento de 3 meses sem juros, que levaram à alta do faturamento.

Durante reunião com a alta gerência do Carrefour Brasil em 23 de julho, os analistas destacaram que a empresa não atribuiu o forte crescimento de dois dígitos da receita a nenhuma “solução mágica”, mas observou que um conjunto de fatores contribuiu, como a implementação de certos serviços e a iniciativa do parcelamento de 3 meses sem juros. Eles também observaram que uma melhor dinâmica de capital de giro é fundamental para este último.

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Na visão dos analistas do BBI, a economia unitária de curto prazo parece acumulativa: o banco vê uma forte contribuição de 4-5 pontos percentuais (pp) para o crescimento do 2T24 da política de parcelamento de 3 meses e uma margem EBT (lucro antes de tributo sobre receita) de caixa incremental de aproximadamente 7%.

As necessidades negativas de capital de giro no Cash & Carry podem levar a um ROIC (retorno sobre o capital investido) incremental positivo, mas condicionado a vendas incrementais positivas (ou seja, nenhuma canibalização de vendas existentes).

Diante disso, o banco vê a liquidação das ações como parcialmente justificada, pois a recuperação das vendas da empresa foi financiada por uma dívida maior devido a desconto de recebíveis, enquanto a iniciativa pode desencadear o que vê como o principal risco: deterioração da dinâmica competitiva.

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O Bank of America destaca em relatório que a expansão nacional das políticas de parcelamento com juros zero do Carrefour Brasil no Atacadão deve provavelmente se manter. Essa medida adicionaria cerca de R$ 2,1 bilhões em financiamento incremental a um custo anual de mais de R$ 250 milhões, considerando as taxas de juros vigentes. “O custo adicional e o afastamento da exposição mais simples ao conceito de baixo custo/preço baixo geraram uma ampla decepção no mercado e uma acentuada queda subsequente nas ações do CRFB3 e de seu maior concorrente no segmento de atacarejo, o Assaí (ASAI3)”, reforça o banco.

Por outro lado, aponta o BofA, um pequeno aumento nas vendas pode levar a um aumento no lucro.
O BofA ressalta que as altas taxas de juros do crédito ao consumidor evidenciam a maior adesão aos planos de pagamento parcelado no Brasil. “O plano 0+3 vezes do Atacadão também deve contribuir para estimular a experimentação nas lojas recentemente abertas e melhoradas, além de contribuir para cestas de compras maiores”, avalia o banco.

Os analistas estimam ainda que níveis relativamente modestos de melhoria nas vendas poderiam cobrir as despesas de juros adicionais e há potencial para aumento no lucro por ação (LPA).

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Além disso, apontam que os recebíveis de cartão de crédito brasileiros são altamente negociáveis, apresentam risco de contraparte de qualidade bancária e podem ser facilmente retirados do balanço.

O banco americano também ressalta que a modalidade de pagamento do Atacadão segue movimentos regionais no Norte e Nordeste. “Esperamos que os requisitos de capital de giro criem pressão adicional para pequenos e regionais concorrentes nos conceitos de atacarejo e supermercado, que não conseguem financiar ou igualar os custos de capital de giro, acelerando a consolidação do mercado”, avalia.

Para o BofA, se as taxas de juros aumentarem drasticamente, o CRFB3 provavelmente deve encerrar os planos de pagamento parcelado. No entanto, aumentos modestos nas taxas de juros podem pressionar a lucratividade ou levar a administração a repassar os custos mais altos aos consumidores. Um aumento de 1 ponto percentual nas despesas de empréstimos adicionais teria um impacto de menos de 1% no lucro por ação, caso o Atacadão absorvesse totalmente as despesas adicionais.

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Compra segue para as ações

O BofA reiterou recomendação de compra para as ações do Carrefour Brasil, assim como o BBI, mesmo em meio às dúvidas sobre a companhia. Por enquanto, o BBI introduziu uma estimativa de crescimento de receita mais forte no 2S24 para o Atacadão (+9% versus cerca de 7,5% anteriormente), enquanto também manteve suas premissas para 2025-26 em torno de 10%. Por outro lado, elevou os resultados financeiros líquidos devido a recebíveis de factoring mais altos, limitando as revisões do lucro líquido. “Em geral, mantemos nosso preço-alvo esperado para 2025 de R$ 17,00, dada a assimetria de valor considerando o atual múltiplo P/L projetado”, aponta.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.