Carrefour (CRFB3) e Assaí (ASAI3): com forte queda no ano, é hora de comprar ações? Analistas divergem

Enquanto JPMorgan destacou visão mais cautelosa e tem recomendação neutra para ativos, Morgan segue com visão positiva para papéis

Vitor Azevedo

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As ações do Carrefour (CRFB3) e do Assaí (ASAI3) vêm tendo performances consideravelmente piores do que o Ibovespa em 2023 e analistas, por enquanto, estão divididos se as coisas irão ou não melhorar.

Enquanto o principal índice da Bolsa brasileira sobe mais de 3% no ano, as ordinárias do Carrefour recuam quase 31% e as do Assaí, quase 38%. A equipe de research de dois dos maiores bancos do mundo, nesse momento, discordam se o momento é de manter a cautela ou uma oportunidade de compra.

O JPMorgan, na última semana, apontou em relatório alguns dos possíveis motivos para o recuo do setor de atacarejo – que até pouco tempo era um dos favoritos dos investidores.

Primeiramente, o principal índice de inflação brasileira, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acumula em abril de 2023 4,18% nos últimos doze meses, alta bem menor do que os mais de 11% registrados em junho do ano passado. O avanço dos preços, contudo, sempre foi um aliado dos atacarejos. A variação em si, normalmente, já impulsiona a receita e traz alguma margem de ganhos como por exemplo com valorização de produtos em estoque. Além disso, com suas rendas comprometidas, as pessoas acabam procurando mais essas opções, que oferecem produtos a preços menores.

“A desaceleração da inflação de alimentos deve continuar prejudicando a receita até o final de 2023, com queda de faturamento e o crescimento das vendas mesmas lojas [SSS, na sigla em inglês]”, fala o time do JP Morgan, encabeçado por Joseph Giordano.

Mas, provavelmente, a origem da maior dor de cabeça para as companhias, na visão do JP, seja a competição.

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Maior competição

De março de 2022 para março deste ano, o Carrefour aumentou o número de unidades do Atacadão de 252 para 346. O Assaí foi um pouco mais modesto, tirando 32 novas lojas do papel, chegando a 217. E o processo de mudança ainda continua, com os dois grupos ainda realizando conversões neste ano. De acordo com a pesquisa NIQ Ebit, foram mais de 400 novas lojas abertas no último ano.

“O mercado tornou-se mais competitivo no ano passado, com vários players abrindo uma quantidade considerável de lojas de atacarejo no período, colocando uma pressão extra na margem bruta, que se soma à menor alavancagem operacional”, fala o JP. “Há riscos significativos de queda das expectativas de consenso. Dados da Nielsen mostram que as vendas mesmas lojas do atacarejo para abril já estão em terreno negativo em São Paulo e no Rio de Janeiro, principais mercados do Brasil”.

De acordo com a pesquisa em questão, houve retração de 1,5% das vendas mesmas lojas em São Paulo no primeiro trimestre, enquanto no Rio de Janeiro o número avançou 0,4%. Em abril, contudo, tanto na primeira região quanto na segunda o índice caiu, respectivamente, 3,9% e 2,7%.

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Fora o recuo das vendas em mesmas lojas, com consumidores se dividindo entre as unidades, a competição também causa impacto no faturamento pelo lado das promoções, com os atacarejos tentando tornar suas unidades mais atrativas.

Tudo isso acontece ainda após um período de bonança para o Carrefour e o Assaí, o que traz pressão na base comparativa.

“Ambos enfrentarão a maior base de comparação do ano no segundo trimestre, o que combinado com a inflação de alimentos mais lenta pode significar uma desaceleração ainda maior para as vendas mesmas lojas, com boa probabilidade de ficar negativo e a produtividade da área de vendas cair ano a ano”, menciona o time de Giordano.

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Todo esse pior cenário, por fim, ainda vem em um momento em que as ações das duas companhias estão com entraves para subir. O Carrefour, por conta da aquisição do Grupo BIG, está com uma dívida elevada, tendo inclusive refinanciado parte dela com sua controladora francesa. No caso do Assaí, o temor é que o Casino, importante acionista, venda novas fatias da companhia, como já sinalizou anteriormente.

Morgan Stanley tem visão mais positiva para Carrefour e Assaí

Para os analistas do Morgan Stanley, liderados por Andrew Ruben, no entanto, ainda há motivos para acreditar que o setor de atacarejo brasileiro irá avançar.

A equipe do banco cita, como motivos para a queda recente, também a inflação, a expansão das companhias e os juros mais altos. Do outro lado, entre as razões para manter a confiança, está, por exemplo, a possibilidade do atacarejo ganhar mercado nas vendas de alimentos.

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De acordo com dados do setor e nas estimativas do banco, o atacarejo brasileiro hoje é responsável por 19% da venda de alimentos diretamente para consumidores (B2B) e 25% na venda para outros negócios (B2B).

“Do ponto de vista da estrutura de mercado, vemos ainda mais espaço para ganhos na penetração do modelo de cash & carry”, falam os analistas. “Ao analisar a penetração de formatos de desconto em outros mercados, vemos mais espaço. Dados do Euromonitor mostram que as empresas de cash & carry têm uma participação acima de 35% na Noruega, Dinamarca, Alemanha e Polônia, por exemplo”.

Para o banco, as recentes expansões, tanto do Assaí quanto do Carrefour, são parte dos esforços dos grupos em capturar a expansão desse mercado  – e apesar das unidades abertas nos últimos tempos, há espaço para mais, com o atacarejo ganhando espaço frente a hipermercados, a supermercados tradicionais e ao mercado informal.

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Fora isso, Assaí e Atacadão tem, para o Morgan Stanley, outro diferencial, que é o benefício de preço, devido a escala dos dois grupos.

“Dentro do canal de atacado e autosserviço, observamos que o Atacadão possui uma participação de mercado de 33% e o Assaí, 29%; fora desses dois principais operadores, o mercado se torna altamente fragmentado. Em um segmento orientado pelo preço, vemos a escala do Atacadão e do Assaí como uma vantagem competitiva sustentável e estrutural em relação aos concorrentes”, debatem.

Por fim, as ações, para o banco, devem se beneficiar de uma provável melhora do cenário macroeconômico e do fim das conversões. No caso do Carrefour, a administração antecipou o cronograma de conversão da rede BIG para ser concluído no segundo trimestre. O Assaí, por sua vez, já concluiu 70% das conversões do Extra.

“Vemos impulsos positivos provenientes do amadurecimento das lojas e da superação de períodos de despesas pré-abertura elevadas”, explicam. “Do lado dos lucros, os dois grupos sofrem pressão por conta da combinação entre dívidas feitas durantes as aquisições e as elevadas taxas de juros no Brasil. No segundo trimestre, essas pressões persistirão, no entanto, acreditamos que elas diminuirão a partir do meio do ano”.

De um lado, o JPMorgan se mantém neutro para as ações do Carrefour e do Assaí, com preços-alvos para as ações ordinárias em R$ 13, upside de 33,4% frente ao fechamento de ontem, e R$ 13,50, upside de 20,4%. O Morgan Stanley, como contraponto, tem recomendação overweight (performance acima da média do mercado, equivalente à compra), com alvos, na mesma sequência, em R$ 17,5, upside de 79,6%, e R$ 27, upside de 140,8%.