Carrefour (CRFB3), Assaí (ASAI3) e GPA (PCAR3): Inflação impulsiona atacarejo e varejistas buscam formas de manter margens

Inflação alta leva clientes a procurarem atacado e varejistas procuram soluções para melhorarem suas margens

Vitor Azevedo

Alimentos em supermercado (Foto: Divulgação/Pão de Açúcar)
Alimentos em supermercado (Foto: Divulgação/Pão de Açúcar)

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Na última semana, as principais companhias do setor de varejo de alimentos vieram a público com seus balanços do segundo trimestre de 2022. De maneira geral, a inflação alta atingiu todos os negócios, sendo positiva para alguns e forçando outros a buscarem alternativas para melhorarem suas lucratividades.

O Assaí (ASAI3), por exemplo, teve seu resultado elogiado por analistas, bem como o braço de atacado do Carrefour (CRFB3), o Atacadão. O GPA (PCAR3), que não oferece produtos nos mesmos moldes, do outro lado, foi o que mais sofreu.

“O resultado positivo do Assaí é fruto da maior procura pelo canal de atacarejo, frente a um cenário macroeconômico desafiador”, avaliam os analistas da Eleven sobre os números trazidos pela companhia. “O retorno das vendas a outras empresas (business to business), o bom desempenho em datas comemorativas e a forte expansão orgânica dos últimos 12 meses também impulsionaram”, completam.

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Com a alta dos preços, as pessoas vêm buscando opções mais baratas, buscando economizar – e os atacados, ou atacarejos, conseguem oferecer esse serviço.

Mesmo em rentabilidade, que vem sendo pressionada pela alta dos preços, o Assaí conseguiu trazer um bom resultado, implementando, segundo analistas, uma estratégia comercial agressiva – a companhia optou por diminuir sua margem bruta em 0,7 ponto percentual na base anual, para 16,1%, mas compensou isso pela alta do faturamento, de 33% na mesma comparação, chegando a R$ 13,2 bilhões, com maior número de vendas.

Carrefour tem bom desempenho no atacado e no varejo

“Devido à forte elasticidade da demanda, a aceleração da receita vista no trimestre foi suficiente para diluir as despesas, levando a uma rentabilidade operacional (margem Ebitda) mais forte”, apontou o Itaú BBA em relatório.

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No Carrefour (CRFB3), o Atacadão também foi destaque. “Resultado de um formato mais competitivo em preço, performance na campanha de aniversário da bandeira e boa execução de seu plano de expansão de lojas”, comentaram os especialistas da Eleven.

A XP, por sua vez, menciona que o braço de atacado do Carrefour viu suas vendas crescerem 30% no ano, com bom desempenho do crescimento orgânico, responsável por 22,4% da alta, e boa performance também na frente inorgânica – ambas foram mais do que suficientes para remediar o aumento dos gastos, com margem Ebitda recuando apenas 0,2 ponto percentual.

Mesmo no varejo, o Carrefour, segundo a corretora, trouxe um resultado positivo. Sua alavancagem operacional, com a alta de 16% das vendas, compensou parcialmente o recuo de 1,4 ponto percentual da margem bruta e, com isso, a margem Ebitda veio acima do esperado pelos analistas, em 5,8% (apesar de ter caído 0,7 ponto no ano).

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A situação do GPA foi a mais delicada. Sem exposição ao atacado, o grupo viu seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) cair 8,9% no ano, para R$ 706 milhões, mesmo com sua receita tendo crescido 9,4% na mesma comparação, para R$ 10,1 bilhões.

“A companhia reportou mais um trimestre de resultados fracos, mesmo com o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ligeiramente acima de nossas estimativas”, comentaram os analistas da XP em relatório. “A rentabilidade continua pressionada pelo cenário macro e ajustes que estão sendo feitos em seu modelo de negócios pós-Extra”, explicam.

Companhias buscam formas para driblar mau momento da economia

Com a inflação deteriorando margens, as empresas do setor vêm buscando formas de aumentar suas lucratividades.

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O modelo de negócios do Assaí e do Atacadão, este do Grupo Carrefour, vem se mostrando vencedor. Com isso, estes não devem, no futuro próximo, apresentar grandes mudanças em seus negócios.

Nas teleconferências de resultados, os executivos do Assaí afirmaram que seguirão apostando no modelo na abertura de novas lojas. A projeção atual da companhia é inaugurar 52 lojas em 2022, porém, durante a teleconferência de resultados, Belmiro Gomes, diretor executivo (CEO) do grupo, definiu o número como conservador e espera poder entregar ainda mais pontos de vendas até o final do ano.

O Carrefour foi na mesma linha “Tivemos 13 lojas BIG convertidas para Atacadão e três para Carrefour. Agora, a próxima onda de conversões começa em setembro. Estamos muito focados nessa transação e estaremos mais bem posicionados para oferecer aos clientes as melhores ofertas e para gerar mais valor para nossos acionistas”, comentou o CEO, Stephane Maquaire, em teleconferência , mencionando a transformação dos 80 pontos de venda adquiridos do Grupo BIG.

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Além da expansão do número de lojas, o Carrefour vê também no digital uma forma de melhorar sua lucratividade, tanto no atacado quanto no varejo.

“O modelo digital do Atacadão já é rentável. Temos margem e vendas adicionais. Estamos utilizando uma estrutura de delivery já pronta no modelo business to business e contando com um ticket médio muito alto”, explicou o diretor financeiro (CFO) da companhia, David Murciano, em reunião com analistas. No varejo, a inovação chamada In Store Picking, que consiste na compra pelo aplicativo do Carrefour, teve penetração de 43% em todas as lojas do grupo.

Por último, o GPA aposta também no e-commerce para aumentar suas margens no futuro próximo. O grupo está, por exemplo, expandindo os seus horários de entregas de pedidos online para além das 18h, que era o limite antigo, e para os sábados e domingos. Além disso, agora os clientes podem pedir executar compra de produtos pelo WhatsApp.

A utilização dos dados gerados pelos aplicativos do Pão de Açúcar também são iniciativas para a expansão de margens, em um momento de cenário macroeconômico mais desafiador.

“Vimos um crescimento do número de clientes e de fluxo, mas com menor tíquete médio”, explicou Pimentel. Para remediar isso, afirmou ele, a companhia vem trabalhando de forma conjunta com análise de dados e marketing. “Nosso foco hoje é colocar um produto a mais na cesta do cliente que visitou nossa loja. Nós estudamos os clientes através do trabalho que fazemos de CRM (Pão de Açúcar Mais), onde nós não apenas oferecemos ofertas genéricas mas também personalizadas”.

O grupo, no físico, aposta nas chamadas lojas de proximidade e também na venda de produtos premium, como vinhos, carnes e por ai vai. Segundo os executivos, essas unidades de negócio vêm mostrando bons resultados por permitirem a cobrança de melhores preços do clientes.

“Para expansão no curto prazo, vemos uma oportunidade maior nas lojas de proximidade, principalmente no estado de São Paulo”, comentou Marcelo Pimentel, diretor executivo (CEO) do GPA em teleconferência realizada nesta quinta. “Estamos comprometidos para expansão da frente premium e do Minuto Pão de Açúcar. Vemos que há possibilidade de expansão nos dois formatos”.

Segundo o executivo, essas unidades de negócio vêm mostrando bons resultados por permitirem a cobrança de melhores preços do clientes – nas unidades de proximidade, o Pão de Açúcar oferece a facilidade de compra, com unidades situadas em lugares estratégicos, e no segmento premium, uma maior qualidade dos produtos.

A XP tem as ações ordinárias do Assaí como sua favoritas do setor, com recomendação de compra e preço alvo em R$ 20, bem como a Eleven, que vê a ação chegando a até R$ 21. O Itaú BBA prefere a exposição ao Carrefour, devido à exposição aos dois negócios (atacado e varejo), com preço-alvo de R$ 24.

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