Carrefour (CRFB3): boicote faz ação cair; como afeta a visão sobre companhia?

A depender dos próximos desdobramentos, impacto pode ser limitado, mas analistas veem que o noticiário pode causar volatilidade para as ações

Lara Rizério

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As notícias sobre o boicote ao Carrefour Brasil (CRFB3) ganharam forças nos últimos dias, com analistas atentos aos possíveis desdobramentos sobre os números da varejista de alimentos. A visão é de ruído e volatilidade para os ativos, com as ações caindo 4,37%, a R$ 6,35, às 10h19 (horário de Brasília) desta segunda-feira (25). Os papéis chegaram a amenizar as perdas, mas ainda seguindo com queda de cerca de 2%.

Durante o fim de semana, diversos veículos de imprensa noticiaram que os principais produtores de carne bovina do Brasil, incluindo JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e MasterBoi, pararam de fornecer carne bovina para todas as lojas do Carrefour Brasil. O boicote é uma resposta à declaração do CEO global do Carrefour na França para interromper as compras de carne da região do Mercosul, que supostamente não estavam aderindo aos padrões franceses.

O boicote dos produtores brasileiros começou na última sexta-feira (22), com estimativas indicando que mais de 100 lojas Carrefour, Atacadão e Sam’s Club no Brasil foram impactadas, o que sugere escassez de carne bovina em breve em algum momento. Os produtores brasileiros de carne bovina estão aguardando uma retratação do Grupo Carrefour para possivelmente suspender o boicote.


A declaração do CEO global do Carrefour tem como pano de fundo o acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia assinado em 2019 e previsto para ser implementado em 6 de dezembro de 2024, na próxima reunião do Mercosul. Este acordo gerou protestos em países da UE. Na semana passada, a situação se agravou na França, com fazendeiros franceses protestando, bloqueando estradas e queimando equipamentos públicos para pressionar o governo contra o acordo Mercosul-UE.

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No final de outubro, o CFO da Danone disse à Reuters que havia parado de comprar soja do Brasil, mas depois a empresa publicou uma nota negando a declaração. Outro varejista francês, a Les Mousquetaire, dona das redes Intermarché e Netto, também disse que não venderia carne do Mercosul, apoiando fazendeiros franceses locais.

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Para o Bradesco BBI, a notícia é negativa para CRFB3. “Estimamos que a carne bovina seja responsável por cerca de entre 4% e 5% das vendas totais do Carrefour, correspondente a um Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] de um dígito baixo e, especialmente, é uma categoria importante para direcionar o tráfego para varejistas de alimentos”, avalia o banco.

Nesta fase, avalia o banco, ainda é muito cedo para avaliar o impacto total do boicote, pois os níveis reais de falta de estoque nas lojas Carrefour e a velocidade com que eles podem aumentar permanecem incertos. No momento, o banco tem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra), com preço-alvo de R$ 10, ou potencial de alta de 51% frente o último fechamento.

O JPMorgan reforça que a JBS teria aderido à interrupção e, neste contexto, a Friboi (marca da companhia) é a maior marca de carne bovina do Brasil e ancora os serviços de açougue das lojas Atacadão, ao mesmo tempo em que tem geladeiras dedicadas na maioria dos formatos. Cerca de 30% a 40% das lojas do Carrefour estariam mostrando sinais de escassez de carne bovina, em meio ao ainda ruído limitado em produtos de frango ou carne suína. Já o Carrefour Brasil negou qualquer escassez em suas lojas.

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Para o JPMorgan, a volatilidade das ações deve aumentar em meio ao fluxo de notícias. Olhando para as principais lojas de cash&carry, ou atacarejo (correspondente a 70% das vendas), o banco estima que as proteínas (como um todo, não apenas a carne bovina, que parece ser a categoria mais afetada) representam cerca de 25% das vendas totais, sendo a segunda macrocategoria mais relevante atrás de alimentos secos (cerca de 40%).

“No entanto, sinalizamos que o Carrefour ainda está aumentando os serviços de açougue em suas lojas de cash&carry (com 151 de 374 locais), enquanto a maior parte dos volumes de proteína vendidos são congelados ou secos. Enquanto isso, os serviços de açougue normalmente operam com 5 a 7 dias de estoque”, aponta o JPMorgan.

Assim, limitam os impactos materiais de curto prazo se uma solução for encontrada em breve – que a princípio seriam desculpas formais do presidente-executivo global da gigante francesa, Alexandre Bompard, em nome do Grupo Carrefour.

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Ainda assim, como o nível de ruído permanece elevado, isso coloca em risco a campanha promocional da Black Friday e a esperada aceleração das vendas nas mesmas lojas (SSS) em meio ao aumento da inflação de alimentos no 4T24 (quarto trimestre de 2024). O JPMorgan tem recomendação neutra para os ativos CRFB3.

Já a Genial Investimentos ressalta que a retaliação dos frigoríficos, apoiada pelo governo brasileiro, reflete poder de barganha em um período sazonal favorável, com baixa dependência da França (cerca de 1% das exportações). Para os analistas, embora represente um risco de desabastecimento e rupturas no Carrefour, o impacto no fluxo de caixa dos frigoríficos deve ser limitado, enquanto a medida reforça sua posição perante outros clientes e parceiros comerciais.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.