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SÃO PAULO – Mais do que uma mudança de humor do mercado em relação ao novo governo de Michel Temer, o que o temos visto no câmbio está atrelado a uma combinação de eventos que dão força ao real, que apesar do susto com o “Brexit” no fim da última semana, voltou a cair e segue renovando suas mínimas desde o julho do ano passado. Nesta quarta-feira (29), às 15h34 (horário de Brasília), o dólar comercial recuava 1,86%, cotado a R$ 3,2432 na compra e R$ 3,2445 na venda.
Desde que entrou no Banco Central, Ilan Goldfajn tem influenciado bastante o mercado ao ressaltar um discurso de câmbio flutuante. Ou seja, o economista defende uma menor intervenção da autoridade no mercado, o que tem levado o mercado a testar até onde o BC está disposto a deixar o câmbio ir.
Enquanto isso, a cautela do Federal Reserve em elevar os juros nos Estados Unidos e o referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia, também levaram os investidores a manterem seus investimentos no Brasil, favorecendo ainda mais as quedas do dólar.
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Em seu relatório desta quarta, o diretor de câmbio da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, listou 6 motivos que explicam porque o dólar pode ir até R$ 3,00, confira abaixo:
1) Alta de juros nos EUA
Até pouco tempo, o mercado estava discutindo se o Fed iria elevar os juros em junho ou julho, mas isso mudou completamente e, mesmo após a reunião deste mês decidir pela manutenção, o cenário sofreu mais alterações. Com o comunicado de duas semanas atrás, analistas passaram a acreditar que a autoridade só teria espaço para uma elevação este ano, provavelmente em dezembro.
Porém, com o “Brexit” tudo mudou e a cautela do Fed em relação ao cenário econômico deve postergar a alta de juros por mais tempo. Segundo Júnior, o mercado agora projeta elevação das taxas apenas para janeiro de 2018. Tudo isso porque os efeitos da saída do Reino Unido podem ser devastadores na economia global.
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2) Repatriação de ativos
Criada em janeiro deste ano, a lei que autoriza a regularização de recursos não declarados no exterior é um tema que está sendo pouco comentado por enquanto, mas que deve ter um grande impacto no dólar. O prazo vence em outubro, mas Júnior acredita que há chances de uma extensão neste limite.
A ideia da medida é regularizar quem tem algum dinheiro que não foi declarado e isto só será possível mediante o pagamento de imposto e multa. Com isso, há a expectativa de uma entrada de recursos no País. “Com a confirmação do impeachment de Dilma, há um grande potencial de entrada [de recursos] importante. E, mesmo que não entre muitos dólares, há chances de boa receita tributária ainda não prevista no Orçamento”, explica o analista.
3) Manutenção da Selic
Com Ilan no Banco Central, o mercado esperava um corte rápido da Selic, mas suas falas recentes reforçam que ele pode fazer deste processo algo mais lento. Júnior espera um corte dos juros no segundo semestre, mas as quedas deverão ser mais graduais do que pensavam os analistas anteriormente.
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Segundo Alexandre Schwartsman, sócio da Schwartsman & Associados e ex-diretor do BC, o dólar caiu ontem por que o BC indicou que não vai cortar os juros. É uma resposta à ideia de manutenção de taxa de juros que está influenciando, disse, em entrevista à Bloomberg.
4) Redução dos swaps
Com os inúmeros leilões de swap feitos pelo Banco Central ainda antes da troca de governo, a autoridade monetária reduziu fortemente sua exposição no mercado. Hoje são cerca de US$ 62 bilhões em swaps, o que representa a metade do que o BC tinha em março.
Júnior explica que a retirada dos swaps tem um efeito de curto prazo, porque a sua zerada indica que as reservas cambiais do governo estão totalmente livres, aumentando o seguro contra momentos ruins.
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5) Estímulos do BC
Apesar dos sinais de menor intervenção no mercado, Ilan já deixou claro que irá atuar quando achar necessário. Além disso, o BC e o ministério da Fazenda ressaltaram que o País está preparado para conter eventuais riscos por conta do “Brexit”.
Neste momento, segundo Júnior, o Brasil está muito atrativo para os estrangeiros, dado, por exemplo, que as taxas de juros da Alemanha de 10 anos estão em -0,12% ao ano e do Japão de 10 anos em -0,24%. “Se o dólar atingir R$ 10,00 em 2026, ainda assim a aplicação aqui seria melhor que na Alemanha ou no Japão. Este exemplo hipotético mostra o quanto estamos atrativos”, afirma.
6) Alta das commodities
Mesmo após o referendo no Reino Unido, commodities como o petróleo e o minério de ferro seguem em alta, o que favorece a perda de força do dólar, principalmente contra moedas de países fortemente ligados com estes ativos, como é o caso do Brasil. “Se continuarem subindo, o dólar contra o real seguirá fraco”, afirma Júnior.
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