Câmbio deve ser decisivo para o futuro da Selic, diz economista-chefe da XP

Caio Megale afirma que o pacote de estímulo da China e queda dos juros nos EUA corroboram com a tese

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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Há uma discussão no mercado sobre até onde pode ir o novo ciclo de aperto monetário promovido pelo Banco Central. Para Caio Megale, economista-chefe da XP, que participou nesta sexta-feira (27) do Morning call da XP, há algumas questões a serem consideradas, especialmente em relação ao dólar.

“A grande variável que pode ser decisiva nesse jogo é o câmbio. Se a taxa de câmbio se valorizar um pouco, em resposta à alta dos juros aqui e ao corte de juros do Fed (Federal Reserve) nos EUA, ela contrarresta (neutraliza) o efeito da atividade mais forte e ajuda a controlar a inflação”, disse.

Câmbio a R$ 5,40

“Nós achamos que isso vai acontecer. Nossa projeção de câmbio é de R$ 5,40 (para esse ano). A gente acha que vai ficar nesse patamar estável, mais valorizado, que vai ajudar o BC a parar em 12% (a Selic)”, afirmou.

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Para o economista, um tema que ajuda muito essa tese é o pacote de estímulos à economia lançado no início da semana pela China. “A China forte tende a ajudar as commodities – minérios, grãos, petróleo -, o que tende a ajudar o Brasil e o real”, comentou.

“Com a China forte e o Banco Central reagindo, subindo os juros, e o Fed cortando (os juros), vai ganhando caldo o real, que pode ficar um pouco mais valorizado, até abaixo de nossa expectativa de R$ 5,40”, acrescentou.

Para Megale, isso ajudaria o BC a não precisar subir os juros acima dos 12%, como está sinalizado no relatório de inflação divulgado esta semana.

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Selic até 12%

“A sinalização de que o BC dá no seu relatório (de inflação) é de que o aperto não vai ser de um ponto, um ponto e meio, mais talvez até 12% – como a nossa projeção. E, dependendo, até um pouco mais”, afirmou.

Caio Megale avalia que o “Banco Central fez uma avaliação da atividade econômica bastante interessante, em que via capacidade ociosa na economia para crescer sem pressionar a inflação, e essa capacidade praticamente acabou”. Nesse aspecto, “o crescimento quando é muito forte pode gerar pressões de inflação lá na frente”.

“Tem muita demanda, pouca oferta, os preços vão subir, isso vai gerar inflação. O Banco Central vê chance de transbordar (o que geraria inflação)”, destacou.

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Inflação comportada

No entanto, os dados de inflação, que seria o resultado desse processo, estão vindo abaixo do esperado. “O IPCA-15 (de setembro divulgado esta semana) veio como um todo comportado. Essa é a grande discussão: será que essa análise de superaquecimento está correta e vai gerar inflação mesmo”, questionou.

O economista da XP disse que há uma dissonância dos investidores locais e globais sobre o Brasil. “Os brasileiros estão muito focados no dia a dia, com o fiscal, inflação acima da meta”, comentou.

“Já para o investidor estrangeiro, que vê vários países ao mesmo tempo, o Brasil comparado com outros tem até uma inflação relativamente comportada e o Banco Central está reagindo (à pressão da atividade). Tem discussões sobre o fiscal (no Brasil), mas o fiscal está ruim em vários outros lugares. Os investidores globais tendem a relativizar esses temas”, afirmou.

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“Mas a verdade é que a inflação continua rodando acima do topo da banda”, pontou. Megale, no entanto, não vê “situação de crise, sem controle, mas está numa situação de que alguns botões precisam ser apertados para reequilibrar o balanço da economia”.