Caixa estuda fazer IPO de seu banco digital, Caixa Tem, em dual listing: na B3 e Nasdaq, diz Pedro Guimarães

Ao InfoMoney, Pedro Guimarães falou que IPO da Caixa Seguridade deve ter forte participação do varejo e que estuda IPO da Caixa Asset e Caixa Cartões

Priscila Yazbek

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SÃO PAULO – Em entrevista ao InfoMoney, Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, afirmou que a oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) do Caixa Tem, o banco digital da Caixa, pode ser ser feita em um formato de dual listing, ou seja, em uma dupla listagem, com as ações sendo negociadas, ao mesmo tempo, na Bolsa brasileira e em outra no exterior.

“Nós deveremos, tendo essas autorizações todas para realizar o IPO, realizar, sim, fora do Brasil, mas podemos ter o que nós chamamos de dual listing, ou seja, uma listagem fora do Brasil e uma listagem paralela aqui no Brasil”, disse Guimarães em live realizada na tarde desta sexta-feira (9) (veja a entrevista completa no player acima).

Após o IPO da Caixa Seguridade, dentre as próximas vendas de subsidiárias previstas, o presidente da Caixa disse que o grande destaque é justamente o IPO do Caixa Tem, que engloba o app que hoje operacionaliza o pagamento do auxílio emergencial. “A grande operação seria do banco digital, estamos conversando com o Banco Central para as aprovações”, afirmou.

Ele disse que não há um prazo definido para que o BC autorize a operação, mas ressaltou que a autoridade monetária tem agido com velocidade nesse tipo de processo.

“Em havendo essas autorizações, o IPO deve acontecer fora do Brasil, pode ser na Nasdaq [bolsa tecnológica americana], ou na bolsa de Nova York [Nyse], mas é importante que tenhamos os investidores de tecnologia. Podemos até fazer uma listagem lá e aqui na B3, até porque o Gilson [Finkelsztain], presidente da B3, meu amigo há muito tempo, já conversou comigo e disse que a B3 já teve várias aberturas de capital com precificações que envolvem essa questão de tecnologia”, disse Guimarães.

Caixa Tem revitalizado

O presidente da Caixa explicou que o Caixa Tem deve se posicionar como o “maior banco digital brasileiro voltado à população mais carente”. E sua estrutura deve ser baseada em três grandes pilares. O primeiro, já ativo, é o de pagamento de benefícios sociais, como o auxílio emergencial, que já conta com 30 milhões de usuários ativos por mês, número que chegou a bater 107 milhões na primeira rodada de pagamento do auxílio.

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O segundo pilar é uma nova operação focada em microcrédito, que foi detalhada por Guimarães em primeira mão ao InfoMoney na entrevista: “Nós teremos a maior operação de microcrédito do Brasil, que será feita exclusivamente pelo banco digital. Entre 10 a 30 milhões de brasileiros terão acesso à essa operação de microcrédito pelo banco digital”, afirmou.

Ele acrescentou que as operações serão pré-aprovadas pelo celular e os empréstimos terão taxas de 3% a 3,5% ao mês. O objetivo seria atrair o cliente que usa linhas automáticas de crédito, como cheque especial e rotativo do cartão de crédito, que possuem taxas de juros que passam de 10% ao mês.

O terceiro pilar do Caixa Tem seria o financiamento imobiliário voltado à população de baixa renda, segmento no qual a Caixa tem 99% de participação de mercado, segundo Guimarães. “Esses três produtos são produtos que têm o perfil de um banco digital para a população mais carente, onde a Caixa basicamente é única, está presente de uma maneira muito forte.”

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Ele também destacou que apesar de ser um banco digital, o Caixa Tem vai contar com o apoio de lojas físicas. “Nenhum outro banco digital tem 26 mil pontos físicos para ajudar, porque como vimos com o auxílio, as pessoas mais carentes em algum momento precisam de ajuda. Então será um banco digital com apoio de 26 mil pontos de venda, 4.200 agências, 13 mil lotéricas e 8.500 correspondentes exclusivos, com cobertura em 99% das cidades do Brasil”, disse.

Vendas de outras subsidiárias

O presidente da Caixa disse ainda que outros projetos de privatização de subsidiárias da Caixa estão no radar, como o IPO da Caixa Asset, a gestora de recursos do banco, e o da Caixa Cartões. Ele lembrou ainda que qualquer IPO da Elo seria feito sob o guarda-chuva da Caixa Cartões.

Nesta semana, inclusive, o Bradesco afirmou que a Elo negocia a compra da sua própria marca. Hoje a marca Elo pertence à holding Elopar. A Elopar, por sua vez, pertence ao Bradesco, que tem 50,01% do capital social, e ao BB, com 49,99%. Já a holding Elopar tem 56,96% da Elo, enquanto o Bradesco tem outros 6,14%, e a Caixa 36,88%

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A marca Elo seria vendida por R$ 400 milhões. Essas iniciativa abre caminho para uma abertura de capital da companhia. O objetivo, de acordo com rumores de mercado, seria listar a Elo no exterior, possivelmente na Nasdaq.

Pedro Guimarães afirmou ainda que o IPO das Loterias Caixa, por enquanto, é o que está mais distante de acontecer, por uma questão jurídica.

“A única discussão que seguramos foi a da Caixa Loterias porque existe uma incerteza jurídica, se nós podemos ou não abrir o capital. É uma discussão jurídica sobre se o que nós temos de monopólio, basicamente as loterias, só pode existir sendo operacionalizado 100% pela Caixa. Essa é uma discussão que temos há dois anos e efetivamente não existe ainda, de uma maneira clara, uma opinião.”

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Assim, o presidente da Caixa disse que, dado o “tempo exíguo” é mais racional focar nas vendas sobre as quais já se tem alguma decisão mais clara.

IPO Caixa Seguridade

Sobre o IPO da Caixa Seguridade (CXSE3), Guimarães não pôde fazer comentários, devido ao período de silêncio que faz parte das regras impostas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) às vésperas de estreias de empresas na Bolsa, mas destacou a forte participação dos investidores individuais na compra das ações.

“O que eu posso falar [sobre Caixa Seguridade], que é totalmente público, é que nós poderemos ter uma participação sensível do varejo, provavelmente deve ser, pode ser a maior [participação do varejo], isso é dado público. Isso é importante porque a Caixa é o banco de todos os brasileiros e tem grande participação do varejo. É algo que faz parte da nossa estratégia, como eu venho falando há dois anos e meio”, disse.

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Nesta semana, fontes disseram à Reuters que a Caixa venderá uma fatia menor do que a pretendida originalmente no IPO da Caixa Seguridade, repetindo o modelo usado com o Banco Pan de alienar participação em etapas e abrir caminho para vender outros ativos.

“O modelo de venda de participação em tranches deve ser repetido na Seguridade”, disse a fonte à Reuters sob condição de anonimato.

O banco controlado pelo governo federal publicou na terça-feira (6) o cronograma do IPO da Caixa Seguridade, que deve movimentar cerca de R$ 5 bilhões, levando em conta o ponto médio da faixa estimada pelos coordenadores. Isso representa menos do metade do que o banco pretendia quando pediu registro para a oferta no ano passado, de R$ 10 a R$ 15 bilhões.

Segundo a fonte, por ser altamente rentável – em 2020 a companhia teve rentabilidade sobre o patrimônio de 35% – a ação deve ter um grande apelo entre investidores de varejo que buscam papéis de empresas boas pagadoras de dividendos. O plano da Caixa é vender cerca de 40% do IPO para esse público.

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Priscila Yazbek

Editora de Finanças do InfoMoney.