Briga entre X e STF pode afastar investidores do Brasil? Especialistas divergem

De um lado, há quem diga que o conflito pode gerar insegurança juídica; do outro, há quem afirme que tudo não passa de exagero e bobagem

Lucas Gabriel Marins

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Bill Ackman, fundador da Pershing Square Capital, disse no final de semana que a suspensão do X no Brasil e o congelamento das contas da Starlink vão espantar investimento estrangeiro do país, assim como ocorreu na China. Entre analistas, gestores e estrategistas brasileiros, parte faz coro com o megainvestidor, parte não.

Milton Rabelo, analista de investimentos na VG Research, é do grupo que concorda com Ackman, responsável por gerir uma carteira de US$ 10,4 bilhões. Segundo Rabelo, o atrito entre o STF e o bilionário Elon Musk pode gerar consequências negativas para o mercado financeiro e para a economia real porque aumenta a percepção de risco sobre o Brasil.

“Esse aumento da percepção de risco faz com que os investidores passem a exigir taxas de retorno maiores para continuar investindo no Brasil, seja através de ativos financeiros ou por meio da economia real, já que existe a possibilidade de interferências indevidas por parte do poder público que podem impactar negativamente e geração de caixa e lucro das companhias em operação no país”, falou.

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Matheus Nascimento, analista da Levante, acredita que o risco de ingerência política generalizada acaba tornando o país mal precificado do ponto de vista de risco e pode gerar a saída de investidores da bolsa, dando início a um efeito dominó em ações, câmbio e juros.

“Quando a gente olha para a Bolsa nos últimos 10 ou 15 anos, mais de 50% do fluxo do Ibovespa foi feito por investidores estrangeiros que ficam operando aqui no Brasil. Mas se esse fluxo sai do Brasil, você tem uma Bolsa com nível de liquidez menor, os níveis de volatilidade caem e há impacto no câmbio e nos juros”, disse.

“Exagero” e “bobagem”

O estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, disse que houve um exagero, tanto na fala de Ackman quanto na história entre o STF e as empresas de Musk.

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“Acho que a pior coisa que o investidor quer no país é insegurança jurídica, onde está em risco o tempo todo, mas o Brasil não é esse país. A gente não viu casos no país que colocassem em risco alguma empresa estrangeira, como aconteceu na Bolívia e na Venezuela com alguns ativos da Petro”, falou.

Laatus disse que, se o bloqueio tivesse realmente afetado os investimentos, a Bolsa teria caído e o dólar disparado, o que não aconteceu. “A fala dele (Ackman) é uma fala de alerta, mas não é uma fala realista, pois se fosse a gente estaria vivendo um estresse gigantesco”, disse.

Para o especialista, todo empresário estrangeiro tem que seguir as regras do país e, a partir do momento que não fizer isso, está sujeito a medidas que não vão ser muito positivas para essa empresa.

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A história toda também ganhou repercussão no Twitter. Alexandre Fogliano, diretor na Terra Investimentos, disse na rede social que a briga não vai afetar em nada as decisões dos investimentos estrangeiros no Brasil e as pessoas precisam esquecer as paixões políticos.

“Cada um defenda o lado político que quiser, mas investidor estrangeiro de longo prazo não é bobo. Essas coisas só afetam mesmo as decisões do capital especulativo que o Ackman representa e já já eles esquecem tudo isso preocupados com a próxima manchete do dia. O resto é bobagem”, escreveu.

Apoiador de Donald Trump, Ackman é conhecido no mercado financeiro por suas opiniões fortes e por travar diversas brigas corporativas. Uma das mais batalhas famosas foi contra a empresa de suplementos alimentares Herbalife, acusada por ele de pirâmide financeira.