BRF (BRFS3) tem trimestre para ser esquecido e ação cai forte, mas fecha longe das mínimas: vale ter a ação no radar?

Analistas destacam principalmente o número bem abaixo do estimado para o Ebitda, cerca de 80% menor do que as previsões

Felipe Alves Lara Rizério

Sadia: marca de referência da BRF é uma das mais desejadas pelo mercado (Divulgação/BRF)
Sadia: marca de referência da BRF é uma das mais desejadas pelo mercado (Divulgação/BRF)

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Os analistas de mercado já não esperavam bons números do primeiro trimestre de 2022 para a BRF (BRFS3). Contudo, os dados divulgados na noite da última quarta-feira (4) foram ainda piores do que o esperado. Com isso, os ativos fecharam a sessão pós-balanço em baixa de 6,52%, a R$ 12,77. Porém, ainda assim, os ativos fecharam longe da mínima, que foi de baixa de 13,84%, a R$ 11,77.

A processadora de aves e suínos, dona da Sadia e Perdigão, registrou um enorme prejuízo no primeiro trimestre, com a inflação pesando sobre o sentimento do consumidor e aumentando os custos operacionais em seu mercado doméstico. As perdas no período foram de R$ 1,58 bilhão, ante lucro de R$ 22 milhões no mesmo período do ano anterior.

Contudo, o número que foi visto como mais negativo foi o de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado, que atingiu R$ 121 milhões, queda de 90,2% na base anual, 86% abaixo do consenso do mercado e 84% menor em relação às estimativas do Itaú BBA. Os analistas do banco apontaram que a BRF teve um “trimestre para ser esquecido”.

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A operação brasileira foi a responsável pela maior parte da surpresa negativa, avaliam os analistas, já que seu Ebitda ajustado atingiu a marca histórica de R$ 411 milhões negativos (contra uma estimativa positiva de R$ 335 milhões).

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“Já tínhamos uma visão conservadora sobre a história de investimentos de curto prazo da BRF, mas esse resultado traz um potencial negativo significativo para nossas estimativas. Revisaremos nosso modelo assim que tivermos maior visibilidade do ritmo de recuperação após os impactos na cadeia de suprimentos da BRF”, afirmam os analistas. O Itaú BBA tem, no momento, recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado) para a ação, com preço-alvo em R$ 24, ainda um potencial de alta de 79,5% frente o último fechamento.

A XP destacou que, com a pressão de custos e reajustes na cadeia de produção, as margens da BRF chegaram aos piores níveis da história.

Os analistas da XP apontaram que já esperavam resultados fracos, mas foram surpreendidos pelo lado negativo. Contribuíram para isso uma demanda abaixo do esperado no início do ano, reajustes na cadeia produtiva para aumentar os volumes, o aumento dos custos impulsionado pela inflação global e a perspectiva macroeconômica mais fraca no Brasil.

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“Embora reconheçamos que parte dos custos crescentes não são recorrentes devido a reajustes da cadeia produtiva, continuamos céticos em relação à recuperação dos resultados da BRF em 2022, pois esperamos que os preços do milho e da soja permaneçam em níveis elevados, enquanto a perspectiva macro brasileira permanece fraca”, afirma a XP. A recomendação da casa é neutra para a ação da BRF.

O Goldman Sachs apontou o começo de ano difícil com um conjunto fraco de resultados, com um Ebitda 83% abaixo do esperado pelo banco.

Embora a gestão tenha sugerido uma melhoria sequencial no desempenho do Brasil ao longo do trimestre, o Goldman Sachs acredita que as condições macroeconômicas permanecem desafiadoras e podem adicionar mais riscos negativos.

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Com alavancagem de 2,8 vezes o Ebitda, os analistas não veem muita flexibilidade para a BRF absorver a inflação de custos em curso e ser competitiva em preços, o que pode acabar em novas perdas de market share (participação de mercado) para a JBS (JBSS3) através da Seara nos próximos meses. O Goldman Sachs reitera a recomendação de venda para BRF com preço-alvo de R$ 14,50, ainda uma alta de 6,15% na comparação com o fechamento da véspera.

O Credit Suisse, por sua vez, reforçou a avaliação de que os resultados foram fracos, com rentabilidade baixa, vendas fracas e a divisão brasileira sendo mais impactada por conta da dolorosa pressão de custos em diferentes frentes.

Mas após um trimestre muito desafiador, o Credit Suisse acredita que o consenso reduzirá significativamente suas estimativas para refletir o novo cenário inesperado. “A cadeia produtiva da empresa é longa e complexa, o que demanda alguns trimestres para voltar aos trilhos”, destacam os analistas.

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Até lá, a redução da produção deve levar a uma diluição não ideal dos custos fixos, o que, aliado a um mix de vendas mais fraco e pressão de custos ascendentes, naturalmente manterá a lucratividade em níveis baixos e provavelmente trará estimativas de alavancagem da empresa acima de 4 vezes a relação entre dívida líquida e Ebitda.

Porém, o Credit Suisse acredita que a BRFS3 pode oferecer uma porta de entrada única para novos investidores. Na visão dos analistas, e em contraponto aos do Goldman, os resultados foram realmente fracos, mas melhoraram gradualmente ao longo do trimestre, o que traz uma leitura interessante para os próximos trimestres.

A visão foi destacada em teleconferência da companhia, com a BRF avaliando que, no mês de abril, a empresa já notou melhoras nas margens, vendas e vislumbra um 2022 mais positivo, ainda que dentro de um contexto desafiador.

“Não pretendemos nos antecipar a uma discussão que provavelmente ocorrerá no segundo semestre, mas acreditamos que vale a pena manter a BRFS3 no radar”, afirmam os analistas. A recomendação do banco para a ação é outperform (desempenho acima da média do mercado) com preço-alvo de R$ 30, ou potencial de alta de 120% em relação ao último fechamento.

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