BRF (BRFS3): o que a aquisição “fora do núcleo de negócios” indica para a companhia

BRF acertou compra de participação em empresa de gelatina e colágeno

Felipe Moreira

BRF Natal (Foto: BRF)
BRF Natal (Foto: BRF)

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O frigorífico BRF (BRFS3) anunciou na última terça-feira (17) a aquisição de 50% na Gelprime, empresa especializada na produção, comercialização e distribuição de gelatina e colágeno, localizada em Londrina (PR), marcando a terceira aquisição da BRF nos últimos 3 meses, com investimentos totais de quase R$ 1 bilhão.

Embora não representem um movimento transformacional para a BRF, os investimentos ressaltam que o crescimento está totalmente de volta à mesa, especialmente agora que o balanço e as restrições operacionais da companhia foram endereçados.

Na visão da XP, o negócio de gelatina e colágeno, embora próximo da indústria de abate devido às suas matérias-primas (ou seja, peles de bovinos e suínos), deve ser analisado sob a perspectiva da demanda, uma vez que segue padrões farmacêuticos e de alimentos saudáveis, ambos distantes do mundo das commodities.

“Temos uma visão positiva sobre esse M&A, já que, além de um perfil de baixa volatilidade e sem ciclicidade, esse negócio possui uma margem Ebitda (Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações/receita) de cerca de 30% — conforme informado por um veículo de notícias — e está previsto para crescer no futuro previsível.”, avalia. A Gelprime tem uma pequena participação de mercado global de 2%, portanto, essa M&A deve ser um acréscimo para as margens e perspectivas de crescimento da BRF.

A XP vê o movimento como inesperado e fora do núcleo de negócios da BRF, mas é positivo. Ao contrário dos resultados ruins de tentativas de diversificação por equipes de gestão anteriores, a Unidade de Negócios de Ingredientes da BRF já está bem estabelecida, então essa decisão recente não arrisca distrair a alta administração, avalia. Além disso, com a BRF como acionista da Gelprime, há espaço para parcerias sinérgicas. “Poderíamos esperar contratos de longo prazo para fornecimento de matéria-prima da BRF e Marfrig, assim como fornecimento de escala de peixes dos clientes de ração animal da BRF”, aponta.

Do ponto de vista estratégico, segundo BBI, a aquisição da Gelprime está em linha com os planos da BRF de diversificar seu fluxo de receita adicionando maior exposição a produtos de valor agregado.

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À primeira vista, as sinergias de produção com as operações da BRF parecem menos óbvias do que os acordos recentes, dado que matérias-primas bovinas são usadas para produzir os produtos da Gelprime. No entanto, a sinergia comercial com o alcance internacional da BRF Ingredients é indiscutivelmente o que as empresas estão apostando, com artigos de imprensa mencionando que a Gelprime tem uma participação de mercado global de 2% e uma meta declarada de expandi-la para 5%.

O BBI lembra que a Marfrig vendeu um curtume (operações de processamento do couro cru) de R$ 100 milhões para o Grupo Viva (atual dono da Gelprime) há apenas um mês, cujos ativos de couro bovino e integração com a Gelprime podem estar por trás das observações da BRF de que a disponibilidade de matérias-primas é uma vantagem competitiva neste negócio.

Ainda assim, o BBI reiterou recomendação neutra para as ações da BRF, pois continua sem visibilidade sobre onde os valuations ficariam com base nas margens de meio de ciclo, embora continue acreditando que os resultados de curto prazo da empresa permanecerão fortes, uma vez que o ciclo avícola ainda não mostrou sinais mais claros de uma inflexão.

Embora reconheça os méritos estratégicos da estratégia de volta ao crescimento da BRF, o Goldman Sachs acredita que o ritmo recente de aquisições pode potencialmente impactar a percepção dos investidores em relação à geração de fluxo de caixa livre no curto prazo e aos retornos aos acionistas.

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Com isso, o Goldman manteve recomendação neutra para as ações da BRF, com preços-alvo de 12 meses de R$ 25,90 para as ações locais e US$ 4,45 para os ADRs, baseados em uma avaliação por partes, onde nosso múltiplo-alvo de saída Valor da Firma (EV)/EBITDA para o período é de 7,0 vezes.

A Genial Investimentos, por sua vez, comenta que a aquisição é estratégica, consolidando o foco da BRF em produtos processados e de maior valor agregado, segmento responsável por 70% do portfólio atual.

Para a Genial, a operação deve impulsionar margens, oferecendo resiliência frente à volatilidade das commodities, em linha com os resultados robustos reportados no 3T2. Além disso, a elevação do rating pela S&P Global fortalece a percepção positiva sobre a alocação disciplinada de capital e a redução da alavancagem, que atingiu 0,94 vezes Dívida Líquida/Ebitda, a menor do setor de frigoríficos no Brasil.

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A Genial manteve recomendação de compra e preço-alvo de R$ 29.