BRF (BRFS3): Credit Suisse diz que pior ficou para trás e reforça recomendação de compra para ação

Equipe de análise reduziu preço-alvo, mas segue vendo ação a preços atrativos e com um bom potencial de valorização; na sexta, ação saltou 10%

Lara Rizério

Sadia: marca de referência da BRF é uma das mais desejadas pelo mercado (Divulgação/BRF)
Sadia: marca de referência da BRF é uma das mais desejadas pelo mercado (Divulgação/BRF)

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Os resultados do primeiro trimestre de 2022 da BRF (BRFS3), divulgados em 4 de maio, não agradaram os investidores e as ações da companhia fecharam em queda de 6,52% no dia 5. Contudo, os papéis encerraram o pregão longe da mínima do dia naquela sessão, que chegou a ser de baixa de 13,84%. Analistas, como os do Credit Suisse, analisaram logo na sequência do resultado que essa forte queda dos ativos poderia oferecer um ponto de entrada; no acumulado de 2022, os papéis caem cerca de 40%, entre as 5 maiores quedas do Ibovespa no ano.

A visão foi reforçada em relatório no último fim de semana; cabe destacar que, na última sexta-feira (13), os papéis dispararam cerca de 10%. Já nesta segunda, BRFS tem, às 11h55 (horário de Brasília), queda de 2,31%, a R$ 13,56.

O Credit revisitou o seu case de investimento da BRF (BRFS3) para incorporar os últimos resultados da empresa e as novas perspectiva à frente. Consequentemente, os analistas reduziram o preço-alvo de R$ 30 para R$ 22 por ação. Contudo,ainda há um sólido potencial de valorização de 58,5% em relação ao fechamento de sexta-feira, o que justifica a recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) dos analistas para as ações.

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Cabe ressaltar que, antes da disparada de 10,33% da última sexta, as ações fecharam na quinta a R$ 12,58, um upside de 75% destacado pelos analistas, valores considerados “atrativos tendo em vista a valorização descontada e
provavelmente melhorando a dinâmica da margem daqui para frente, o que ajuda a sustentar nossa visão construtiva”, apontam.

Os analistas ressaltam que tinham um dos calls mais cautelosos com BRF nos últimos anos, mas agora estão na outra ponta.

Eles observam que a cadeia de produção da BRF é longa e complexa e normalmente demora alguns trimestres para voltar ao trilho. Porém, o pior ficou pra trás com um ajuste de oferta no primeiro trimestre de 2022.

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“Os nossos cálculos de rentabilidade já indicam uma melhora no segmento de frango, com um aumento médio de 34% nos preços de produtos congelados e frescos no mercado doméstico, somado a uma redução de 6% no preço de grãos”, apontam os analistas. Já a rentabilidade nominal parece estar mais próxima do terceiro trimestre de 2021, quando a empresa entregou um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) considerado razoável.

Leia também: Como BRF (BRFS3), JBS (JBSS3), Minerva (BEEF3) e Marfrig (MRFG3) lidaram com alta de custos, cenário externo e queda no consumo interno?

Já com relação aos suínos, também veem um alívio, com alta dos preços em 11% desde o primeiro trimestre que, quando somado com a redução de preço de grãos, traz um respiro para os produtores. “O cenário ainda não está fantástico, mas acreditamos que as margens devem melhorar gradualmente”, apontam.

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O Credit Suisse ressalta que a BRF é uma empresa com grandes promessas e que decepcionou investidores algumas vezes no passado. No entanto, com a ação próxima a mínimas históricas, acreditam que não é preciso ver a empresa “reinventando a roda” para ela se tornar uma tese de investimento atraente.

“Obviamente, há questões a serem abordadas e processos a serem simplificados (a política de hedge de commodities, altamente criticada nos resultados do 1T22, pode ser um bom exemplo). Nessa frente, acreditamos que a empresa nunca teve uma oportunidade tão significativa de lubrificar seus engrenagens”, avaliam os analistas apontando que, no passado, as relações entre a administração, o conselho de administração e os acionistas eram um tanto conflitantes, o que levou a um abalo de pessoal e, consequentemente, mudanças na direção da empresa.

Eles mencionam que a alta rotatividade na equipe de gestão tem sido um fator negativo constante para a BRF. Nos últimos dez anos, a empresa teve quase 60 nomes diferentes em 12 cargos seniores. Esse é um problema que o novo conselho de administração provavelmente abordará.

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“Em nossa opinião, ter a Marfrig MRFG3 como investidor de referência confere aos diretores executivos recolocar a BRF nos trilhos, por mais amargo que seja o remédio. Isso, combinado com uma dinâmica de rentabilidade crescente, sustenta nossa visão positiva sobre BRFS3″, apontam. Já entre os riscos ao call, estão: novos aumentos nos preços de grãos (insumo mais importante para a empresa), valorização do real, demanda fraca no mercado interno, mix ruim de alimentos processados ​​no Brasil, deterioração das margens Halal e ambiente competitivo mais acirrado.

Existem vários componentes mundiais que impactam o desempenho dos negócios da BRF, o que torna o “case de investimento fascinante”, avalia o Credit.

Entrando nos cenários, o base do Credit está na linha de que a BRF ainda não deve rodar a todo vapor nos próximos trimestres. Mas, olhando para o passado, a dinâmica de margem negativa não dura tanto quanto a maioria dos investidores chega a temer e na maioria das vezes converge para a média.

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“As últimas declarações da empresa já têm ido na linha um pouco mais construtiva para abril e incorporarmos um retomada na margem Ebitda [Ebitda sobre receita líquida], mas ainda abaixo da média histórica que orbita entre 12% e 13%”, apontam os analistas da casa.

Eles ainda apontam não pretenderem antecipar uma discussão que provavelmente acontecerá no final do segundo trimestre “mas, se o nosso cenário base se materializar, vemos 50% de potencial de valorização para BRFS3, o que ajuda a explicar nossa visão construtiva sobre a tese”, avaliam.

Já no cenário conservador, os analistas reconhecem que o mercado tende a extrapolar os resultados negativos do primeiro trimestre de 2022 para vários trimestres. “Isso aconteceu muitas vezes na história da BRF (idem para Sadia e Perdigão). Nesse cenário, o Ebitda seria revisto para R$ 3,5 bilhões, levando a um aumento da dívida líquida para R$ 15 bilhões que, em última análise, levaria a uma redução no preço das ações para R$ 12 por ação, gerando um potencial de queda. Não achamos provável, pois, como destacamos, as margens começaram a melhorar com os ajustes de oferta”, apontam.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.