Novo nome, mesmas preocupações: por que Brava cai tanto na B3 e o que fazer com ação?

Grande questão do mercado é: a Brava Energia, resultante da fusão entre 3R e Enauta, algum dia estará totalmente funcional?

Lara Rizério

Décio Oddone (ao centro) e a diretoria-executiva da Brava Energia em toque simbólico da campainha na B3 (Crédito: InfoMoney)
Décio Oddone (ao centro) e a diretoria-executiva da Brava Energia em toque simbólico da campainha na B3 (Crédito: InfoMoney)

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Fruto da fusão entre 3R Petroleum e Enauta, a Brava Energia (BRAV3) não registra um bom desempenho desde a sua estreia na Bolsa com o novo ticker BRAV3, em 9 de setembro. Desde esse pregão até o fechamento desta sexta-feira (20), os papéis já caíram 20,51%. Contando o histórico ajustado pré-fusão, os papéis caem 31,05% no acumulado do mês, a maior queda do Ibovespa no período, enquanto registram baixa de 30% no acumulado do ano.

Uma queda especialmente acentuada se deu na última quinta, quando os ativos tiveram baixa de 9,40% em meio ao anúncio de manutenção estendida do campo de Papa-Terra até o início de dezembro.

Para o Bradesco BBI, a forte reação negativa do mercado se deu com o mercado se fazendo a mesma pergunta de sempre: a Brava algum dia estará totalmente funcional?

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Conforme aponta o Bradesco BBI, como todos os ativos foram transferidos da Petrobras (PETR4) para a empresa, uma série ininterrupta de manutenção nas instalações e integridade nunca permitiu que a empresa atingisse seu potencial máximo de produção.

“As enormes dificuldades que a empresa está enfrentando para se tornar totalmente funcional estão alimentando o crescente ceticismo do mercado em entender as explicações”, avalia o BBI.

De qualquer forma, o entendimento do banco é que a Brava atenderá a todos os requisitos de segurança da ANP (em relação a barcos de emergência e pessoas a bordo) nos próximos 10 dias.

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No entanto, dada a recente reorganização da gestão (especialmente no segmento offshore, onde a gestão mudou quase 90%), a Brava decidiu manter o campo fechado para inspeções adicionais de tanques de armazenamento.

Embora não haja nenhum investimento incremental material, com Papa-Terra fechada por mais 2 meses, isso significa outros quase US$ 35 milhões (cerca de R$ 190 milhões pela cotação do dólar de quinta-feira) de impacto na geração de caixa em 2024.

O banco também destacou ter feito atualizações sobre a operação do navio-plataforma FPSO Atlanta. Embora as suas primeiras expectativas de petróleo anteriores fossem para o início de outubro, a probabilidade aumentou para novembro, representando mais um atraso.

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Entre outros fatores de preocupação, o banco recebeu ainda algumas perguntas de investidores sobre os covenants (cláusulas contratuais que limitam as atividades de um devedor e protegem os interesses de um credor) de dívida da Brava devido a esses atrasos.

O BBI destaca que os covenants de dívida atualmente variam de 2,8 vezes a 3,5 vezes a relação Dívida Líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). Assumindo que os novos FPSOs de Papa-Terra e Atlanta começarão a operar apenas em 2025, e o petróleo terá uma média de US$ 75,00/barril até o final do ano, vê a empresa encerrando este ano mais perto de 2,5 vezes, ainda sem violar nenhum covenant.

Levando tudo em conta, a forte reação negativa das ações mostra que ainda há uma forte falta de credibilidade da administração vinculada à tese de investimento da Brava, aponta o BBI.

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“Entendemos que a nova gestão prioriza a segurança, embora, da perspectiva do mercado, as ações continuarão sofrendo até que a empresa se torne totalmente funcional com onshore, Papa-Terra e Atlanta. O mercado também monitorará se mais acionistas de referência compram mais ações, dados os níveis de preços extremamente deprimidos”, aponta o banco.

Sobre uma possibilidade de a própria Brava realizar um programa de recompra de ações, o BBI entende que as recompras de ações não são permitidas pelos estatutos de dívida existentes. O banco tem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para BRAV3, com preço-alvo de R$ 40 (potencial de valorização de 112% frente o fechamento de quinta).

O que fazer com as ações?

Em meio á forte queda das ações, a Genial Investimentos publicou relatório mesmo sem as estimativas completas da empresa resultante da fusão Enauta+3R, mas destacando as suas percepções sobre os recentes movimentos.

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A casa de research tem recomendação de compra para BRAV3, sem preço-alvo definido. A Genial ressalta que, se por um lado as recentes notícias podem ser consideradas decepcionantes, é importante mencionar que a entrada operacional do FPSO do Campo de Atlanta estimada pela casa ainda em 2024 (pelo menos 20-25 mil barris por dia, bpde, versus produção de cerca de 56k bpde em agosto pela empresa como um todo), anúncio da apropriação de sinergias, retorno operacional de Papa-Terra neste ano e possível interesse em desinvestimentos anunciado pelo novo CEO podem trazer algum alento ao case.

“Sendo assim, vender o ativo aos atuais níveis de preço e em meio ao atual fluxo de notícias pode também ser considerado um erro em meio a tantos gatilhos que consideramos relevantes acontecendo ainda em 2024” aponta Vitor Sousa, analista que assina o relatório.

Ele menciona que a empresa deve ainda anunciar uma reunião com investidores em dezembro de 2024 ou janeiro de 2025, quando maiores informações sobre a tese da empresa deve ser divulgada.

Como principais riscos ao case, considera: I) novas postergações no retorno operacional de Papa-Terra ou na entrada operacional da FPSO do Campo de Atlanta, II) deterioração no cenário macroeconômico global, com impactos negativos no preço do brent, III) patamar de endividamento tendo em vista a atual produção e brent mais fraco e IV) plano de investimentos agressivo em meio a uma produção claudicante.

Sousa menciona que a Genial tem a BRAV3 em sua carteira Top Ações com uma participação de apenas 2% no portfólio por entender que é um case “alto risco/alto retorno”. “Temos essa exposição exatamente por julgarmos um case cujo a tese ainda precisa se provar para uma exposição mais expressiva em nosso portfólio”, avalia.

Recentemente, vale destacar, o Safra cortou o preço-alvo para o ativo de R$ 86 para R$ 35, ainda que seguindo com recomendação de compra. O banco vê múltiplos atrativos para ação, mas vê empecilhos para empresa crescer. Barreiras de integração das operações são um fator que podem atrapalhar o processo de expansão: isso porque uma a base de ativos da empresa que nasce da fusão de duas petroleiras atualmente está dispersa, com operações em seis bacias.

Nesta semana, o JPMorgan também reiterou recomendação de compra, mas cortou preço-alvo de BRAV3 de R$ 56 para R$ 42. A sua preferência é por PRIO (PRIO3).

A equipe de research do JPMorgan vê a Brava como a empresa mais diversificada entre as juniores brasileiras, mas também com maior risco operacional no desenvolvimento de campos maduros. Segundo relatório, a Brava oferece um atrativo potencial orgânico com um Balanço Patrimonial sólido para explorar as melhores oportunidades.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.