Brasileiras entram em ranking de aéreas que mais perderam valor de mercado no mundo

Crise do coronavírus derrubou o setor como um todo, e empresas precisam de ajuda governamental para sobreviverem

Anderson Figo

Foto: Divulgação
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SÃO PAULO — As brasileiras Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) estão no ranking das 20 companhias aéreas que mais perderam valor de mercado no mundo em 2020, segundo um levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney. O setor foi fortemente impactado pela pandemia de coronavírus.

Em dólares, o valor de mercado da Gol passou de US$ 3,245 bilhões no final do ano passado para US$ 431,88 milhões até ontem.  Já o da Azul foi de US$ 4,941 bilhões a US$ 795,18 milhões. A queda reflete a derrocada de 87% e 84%, respectivamente, dos papéis de ambas as companhias no mesmo período, em dólares.

Vale lembrar que, nesta sexta-feira (20), as ações chegaram a registrar forte alta de mais de 20%, reduzindo os ganhos no fechamento para 15,29%, no caso da Azul, e 16,48% a Gol — mas, ainda assim, o desempenho em dólares continua bastante negativo no acumulado em 2020.

Na lista das 20 aéreas que mais perderam valor de mercado no mundo, em dólar, a predominância é de empresas dos Estados Unidos. Há também companhias da Ásia, Irlanda, México, Colômbia e Chile (a Latam, fruto da fusão da LAN com a brasileira TAM). Veja o levantamento abaixo.

Em reais, o valor de mercado da Gol e da Azul também despencou neste ano. No caso da primeira, foi de R$ 13,081 bilhões no fim do ano passado para R$ 2,221 bilhões ontem. Já o valor de mercado da Gol passou de R$ 19,917 bilhões para R$ 4,091 bilhões.

É importante ressaltar que o levantamento da Economatica considera apenas as empresas de capital aberto (com ações listadas em Bolsa), cujas informações sobre o valor de mercado (preço das ações multiplicado pela quantidade de papéis) são públicas.

Operações em risco

As operações da Azul e da Gol foram drasticamente prejudicadas pela escalada do coronavírus no mundo e, principalmente, aqui no Brasil. Ambas as companhias aéreas anunciaram uma redução de 70% em suas operações por conta da doença, que limitou o deslocamento das pessoas.

A Gol disse que a redução de até 70% de sua capacidade total de operação será feita até meados de junho. A redução no mercado internacional será entre 90% e 95%, enquanto no mercado doméstico será na faixa de 50% a 60%.

A empresa afirma que mantém seus planos de negócio para médio e longo prazo, mas não descarta outras ações para tentar atravessar esse momento complicado no setor.

A Azul anunciou que suspenderá suas operações em 11 cidades onde se localizam algumas de suas bases, em função da queda na demanda gerada pela propagação do coronavírus.

Em termos de operações, a empresa informou que reduzirá sua capacidade consolidada de 20% a 25% no mês de março, e entre 35% a 50% em abril e meses seguintes, até que a situação se normalize.

A Latam também reduzirá sua capacidade em 70%, dos quais 90% são uma redução nas operações internacionais e 40% correspondem a voos domésticos.

Rating e socorro

A Moody’s rebaixou o rating da Azul e da Latam de B1 para Ba3 em razão da “rápida e crescente disseminação do surto de coronavírus”. Já o rating da Gol entrou em revisão para um possível rebaixamento.

“O setor de transporte aéreo de passageiros tem sido um dos setores mais afetados, dada a sua exposição a restrições de viagens e sensibilidade à demanda e sentimento do consumidor”, afirmou a agência de risco.

Com o setor aéreo agonizando por causa da crise do coronavírus e com vendas para voos internacionais próximas a zero, o presidente da Latam no Brasil, Jerome Cadier, afirmou que a sobrevivência das empresas dependerá das medidas do governo federal.

A Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), que reúne as 300 maiores companhias do setor ao redor do mundo, afirmou que as aéreas do planeta inteiro vão precisar de um montante entre US$ 150 bilhões e US$ 200 bilhões em ajuda governamental para não quebrarem com a crise do coronavírus.

Ontem, o Diário Oficial da União (DOU) publicou a Medida Provisória 925/2020, que dispõe sobre ações emergenciais para a aviação civil brasileira em razão da pandemia da covid-19.

As medidas para aliviar o caixa das empresas durante a crise previstas na MP incluem prazo estendido para reembolso das passagens e a postergação do pagamento das outorgas dos aeroportos concedidos.

Avaliações

Apesar do cenário desafiador para as companhias aéreas do mundo inteiro, o Itaú BBA manteve sua recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para a Azul.

Em relatório divulgado ontem a clientes, o banco afirmou que conversou com o diretor financeiro da companhia (CFO), Alex Malfitani, que observou que a preservação de dinheiro é a principal mentalidade para enfrentar a redução nos fluxos de caixa.

“Os cortes de capacidade anunciados recentemente pela Azul parecem ser o mínimo, deixando espaço para a empresa implementar reduções adicionais, se necessário. Em relação ao plano de renovação da frota, as entregas de aeronaves estão suspensas”, disse o Itaú.

O banco destacou ainda que poucos números foram fornecidos, o que é compreensível, mas Malfitani observou que a Azul tem recebido muito apoio das partes interessadas, como investidores, que manifestaram vontade de ajudar.

“Embora a demanda possa diminuir ainda mais, Malfitani acredita que a Azul pode sobreviver a vários trimestres em um cenário de paralisação total. Entre as medidas anunciadas pelo Ministério da Infraestrutura, a Azul se beneficiará do adiamento de tarifas de navegação e do reembolso de passagens de clientes”, afirmou o banco.

Para o Bradesco BBI, as medidas de ajuda anunciadas pelo governo nesta semana ajudarão, mas não serão suficientes para solucionar os problemas do setor aéreo brasileiro.

“Primeiro, as companhias aéreas pagarão taxas de aeroporto de março a junho de 2020 no segundo semestre deste ano, mas a maioria são custos variáveis que naturalmente diminuiriam com o cancelamento de voos”, disse o banco.

“Segundo, o período de 12 meses para reembolso de passageiros proporcionará alívio nas posições em dinheiro e as companhias aéreas podem descontar esses recebíveis para melhorar a liquidez em dinheiro”, completou o Bradesco.

Para o banco, o surto de Covid-19 exigirá linhas de crédito específicas para ajudar as companhias aéreas a financiar capital de giro e reestruturar a dívida e alternativas para reduzir os custos de mão-de-obra durante esse período, com uma queda maciça nos voos domésticos e internacionais.

“Mantemos nossa preferência pela GOL (desempenho acima da média do mercado) e Azul (desempenho acima da média do mercado) sobre a Latam Airlines (desempenho neutro)”, completou o Bradesco BBI.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.