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Uma brasileira está chamando a atenção de empresas como NASA, Google e Coca-Cola por oferecer soluções inovadoras para o uso racional da água no agronegócio. Mas, apesar de toda essa atenção vinda de empresas norte-americanas, o foco é melhorar o uso da água no Brasil e em regiões como a América Latina e a África.
Mariana Vasconcelos é a CEO e fundadora da Agrosmart, empresa sediada em Campinas e focada no cultivo inteligente. A companhia criou um aplicativo que permite monitorar com precisão onde há a necessidade de adicionar água ou não nas lavouras. O monitoramento, feito tanto via imagens de satélite quando por sensores espalhados na fazenda, ocorre em tempo real e fica à disposição na tela do celular do produtor.
Ao cruzar informações de 14 variáveis, o aplicativo elabora as recomendações de como irrigar em cada área da fazenda. Isso é muito diferente do que é feito atualmente, em que muitas vezes os produtores usam a mesma quantidade de água em toda a plantação e sofrem com problemas como excesso de irrigação. “Hoje, a tomada de decisão é muito baseada na intuição, então o produtor tem a necessidade de estar no campo para tentar inferir o que precisa fazer”, explica. “O agricultor confia muito no que sempre fez, no que é passado de geração em geração, copia muito o vizinho.”
Mariana Vasconcelos/Divulgação
Crescida em uma fazenda em Minas Gerais, ela lembra que a própria família se amparava na intuição e na observação para a tomada de decisões. Tudo começou a mudar quando a empreendedora deu início a um trabalho com Internet das Coisas com seus dois sócios, Raphael Pizzi e Thales Nicoleti, e a pensar em como aplicar essa tecnologia no agronegócio.
Ao testar diferentes sensores, o trio chegou à conclusão de que era possível criar uma fazenda conectada, colhendo dados e os enviando para a internet, independentemente dos desafios apresentados pela infraestrutura no Brasil. “Escolhemos a irrigação como foco porque tivemos uma crise hídrica absurda, e essa era uma área que conseguíamos trazer um retorno rápido para o produtor”, explica.
Ao transformar esse processo até então subjetivo em decisões baseadas em fatos concretos, o aplicativo consegue gerar economia de até 60% da água utilizada na fazenda. Ao utilizar menos recursos, o produtor também consegue diminuir os custos com energia elétrica em até 40%, além de combustível e tempo. Com isso, a produtividade do campo consegue ganhos de até 15%.
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Os resultados podem variar bastante entre os clientes, porque dependem de uma série de fatores, como as lavouras que estão sendo cultivadas, quanto da fazenda já utiliza de tecnologia, entre outras variáveis. A empreendedora cita um case, no entanto, em que conseguiu 30% de redução no consumo de água em uma fazenda de sete pivôs de irrigação, o que gerou uma economia equivalente ao abastecimento diário de 70 mil pessoas. “A irrigação é a principal ferramenta no Brasil para combater a mudança climática e aumentar a produtividade”, comemora.
De fato, os números referentes ao uso da água no meio rural impressionam. A irrigação nas fazendas responde por 70% da utilização de água no mundo, e estima-se que mais de 40% desse uso é perdido no processo, seja por conta de perdas no transporte ou excesso de água nas lavouras. Os números são de um estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) formulado em 2011.
Google, NASA e Coca-Cola
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Justamente por conseguir resultados expressivos, em pouco tempo o aplicativo já alcançou reconhecimento em nível internacional. Em 2015, o projeto foi o vencedor de um concurso da Singularity University, instituição do Vale do Silício que abriu as portas para a Agrosmart participar de um programa de transferência de tecnologia com a NASA. Foi a partir dessa experiência que a empreendedora conseguiu acesso aos satélites. No mesmo ano, Mariana também participou de um programa de pós-aceleração do Google, o Launchpad Accelerator, em que uma das maiores empresas de tecnologia do mundo ajudou a brasileira a aprimorar as funcionalidades do aplicativo.
O Agrosmart também chamou a atenção da Coca-Cola. Após vencer um programa de inovação da companhia nesse ano, a empresa brasileira está montando uma rede de pequenos produtores da marca Leão, responsável por produzir sucos e chás, que terão acesso à tecnologia, gerando economia compartilhada. Para a Coca-Cola, a ideia é que esse projeto agregue valor à cadeia, dando um passo em direção ao cumprimento da meta para reduzir a relação da quantidade de água utilizada por litro de bebida produzida para 1,68 até 2020.
Internacionalização
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Para 2017, o foco é se consolidar comercialmente. Com 50 mil hectares que utilizam a tecnologia atualmente, esse número deverá subir para 400 mil hectares já no começo do ano, devido a negócios que foram fechados mas que ainda devem ser instalados.
No início desse ano, a startup recebeu o apoio financeiro da SP Ventures para aprimorar o produto e reforçar a equipe – que atualmente conta com 18 pessoas, incluindo engenheiros agrônomos, meteorologistas, comercial, TI, entre outros –, e agora busca uma nova rodada de investimentos em 2017 para expandir com mais força e dar início à internacionalização. “Já temos demanda de outros países, então queremos investir e desenvolver os canais nessas localidades”, explica Mariana, citando interesse na maioria dos países da América Latina, bem como nos de língua portuguesa da África.
Essas regiões não são escolhidas à toa. Elas apresentam, sobretudo, semelhanças no clima. E, nesse ponto, o Brasil leva vantagem no mercado interacional, destacando-se por ser a primeira potência agrícola de clima tropical, além de manter atuação inovadora e de liderança nesse tipo de clima. Agora, a Agrosmart trabalha para manter essa imagem no exterior. “Acreditamos que temos potencial para virarmos líder de mercado nesses países”, diz Mariana.