Brasil vira o maior mercado da marca Heineken – e aumenta a dor de cabeça dos acionistas da Ambev

Mercado brasileiro está cada vez mais competitivo com os consumidores aprovando as marcas estrangeiras

Ricardo Bomfim

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Correção: ao contrário do afirmado anteriormente, o Brasil virou o maior mercado somente da marca Heineken (sem considerar os demais portfólios de produtos da companhia holandesa) e não da Heineken como um todo. A matéria foi alterada às 18h30. 

SÃO PAULO – A Ambev (ABEV3) já reinou absoluta no mercado de cervejas brasileiro, mas essa realidade está mudando cada vez mais rápido. Embora ainda seja líder de mercado, sua principal concorrente já começa a assustar.

No quarto trimestre de 2019, o volume consolidado de vendas de cerveja pela Heineken subiu 4,1% no mundo, alta atribuída aos crescimentos de dois dígitos em Brasil, Vietnã e Camboja. As marcas Amstel e Devassa são as principais responsáveis pelo aumento nas vendas no mercado brasileiro, informou a empresa.

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Com o avanço, o Brasil se tornou o país com o maior mercado da marca Heineken (que não inclui os demais produtos) no mundo todo, apesar de não ter divulgado números específicos sobre a operação no país. No total, o lucro líquido da companhia aumentou em 13% no ano passado em comparação com 2018, atingindo 2,16 bilhões de euros.

A holandesa reportou um crescimento de 4,1% no volume de vendas globais nos últimos três meses do ano, com os aumentos mais fortes no Brasil, Vietnã e Camboja. Ao considerar somente a marca Heineken, o crescimento do volume de vendas nos três últimos meses do ano atingiu 12%, acumulando alta de 8,3% no ano passado, o melhor resultado em uma década.

“O Brasil é agora o maior mercado mundial da marca Heineken e, com a adição do Reino Unido e da Nigéria, agora 12 mercados vendem mais de 1 milhão de hectolitros da marca” [100 milhões de litros], destacou a companhia. Com os números fortes, os ativos da companhia subiram 5,21% na bolsa de Amsterdã, a 102,85 euros.

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Mas o que isso significa para a Ambev? Betina Roxo, analista da XP Investimentos, aponta que a Heineken representa um risco à Ambev, líder do mercado de cervejas no Brasil. “Os volumes surpreendentemente fortes da Heineken corroboram o cenário competitivo desafiador e por isso, temos uma leitura negativa para Ambev”, escreveu em relatório.

A XP tem recomendação neutra para as ações da cervejaria brasileira, estabelecendo preço-alvo de R$ 21,00 para os papéis ordinários ABEV3.

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A Ambev reportará seu resultado referente ao quarto trimestre do ano passado no dia 27 de fevereiro, e Betina espera por números pouco animadores, como um crescimento de 2% no volume de cerveja no Brasil após a queda de 2,8% no trimestre anterior. “Vale ressaltar que a estratégia de posicionamento das marcas da empresa continua em foco”, aponta.

Já Carolina Ujikawa, chefe da equipe de análise da Mauá Capital, afirmou, durante evento “Super Clássicos da Bolsa” promovido pela XP, que a competição tem sido difícil para a Ambev, que perdeu a preferência do público. Para ela, os retornos do negócio tendem a ser menores para a companhia. “Não se sabe como será o prêmio daqui para frente, pois o consumidor está cada vez menos fiel a uma marca só”, avalia.

Carolina entende que a grande escala da cervejaria tornará mais difícil o processo que vem se tornando essencial no negócio de cervejas no Brasil de inovar frequentemente e colocar os novos produtos com rapidez nos supermercados.

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“Tenho dúvidas sobre qual será o retorno em um mundo como esse. O que eu tenho certeza é de que não vai ser a mesma coisa. A empresa será obrigada a investir mais em inovação com menos espaço de tempo”, explica.

Ricardo Alves, analista do Morgan Stanley, escreveu em relatório que os números da Heineken corroboram a visão de que a Ambev perdeu participação de mercado no quarto trimestre de 2019. “Baseado em nossas recentes conversas com agentes do mercado estamos surpresos em ver o principal concorrente da Ambev elevando volumes em dois dígitos no Brasil. Vale lembrar que esperamos que os volumes da Ambev cresçam em um dígito baixo no mesmo período”, destaca.

A visão do analista é de que apesar das projeções de que o cenário macroeconômico será mais favorável nos próximos anos, a expansão do volume da Ambev poderia ser parcialmente ofuscada por uma perda de 300 pontos-base no market share até 2022. “Continuamos preocupados com o poder da Ambev de fazer preços”, ressalta.

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O Morgan Stanley também tem recomendação neutra para as ações ABEV3, com preço-alvo de R$ 18,00.

No Bradesco BBI, os analistas Leandro Fontanesi, Tiago Mello e João Grandi, acreditam que a Ambev revelará, além de uma perda na sua fatia de mercado, um aumento de preços abaixo da inflação, girando em torno de 3% em 2019 contra os 4,3% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

“Apesar da Heineken ter dito em sua teleconferência de resultados que planeja elevar preços assim que possível, provavelmente indicando um foco maior em rentabilidade, mantemo-nos preocupados com a pressão competitiva para a Ambev em 2020, já que tanto a Heineken quanto a [cervejaria] Petrópolis [dona da Itaipava] devem aumentar suas capacidades de produção a partir da metade do ano”, comentam.

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O Bradesco BBI tem recomendação neutra para a Ambev, com preço-alvo de R$ 18,50 para as ações da empresa.

Esse quadro mostra que a controlada da maior cervejaria do mundo, a AB Inbev, terá que se esforçar no futuro se quiser frear a invasão holandesa que ocorre atualmente no mercado brasileiro de cerveja. O desafio é saber como retomar a preferência dos consumidores sem perder escala, agilidade e competitividade de preços.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.