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Nesta semana, o Brasil e a Argentina, de acordo com o Financial Times, anunciarão que estão iniciando trabalhos preparatórios para o desenvolvimento de uma moeda comum, em um movimento que poderá eventualmente criar o segundo maior bloco econômico com uma divisa do tipo do mundo.
Segundo o veículo, as duas maiores economias da América do Sul discutirão o plano em um encontro em Buenos Aires.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, viaja para a Argentina ainda neste domingo (22). Um anúncio oficial sobre o projeto é esperado durante a visita.
O foco inicial dos estudos será sobre como uma nova moeda, que o Brasil sugere chamar de “sur” (sul), poderia aumentar o comércio regional e reduzir a dependência do dólar americano. Ela funcionaria inicialmente em paralelo com o real brasileiro e o peso argentino, principalmente em fluxos financeiros e comerciais. Posteriormente, outros países da região serão convidados a integrarem o projeto.
Na terça-feira, ainda na Argentina, acontece a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), que reunirá os novos líderes de esquerda da região pela primeira vez desde que uma onda de eleições no ano passado revertesse a tendência de direita. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, deve participar, juntamente com o chileno Gabriel Boric e outras figuras mais polêmicas, como o presidente socialista revolucionário da Venezuela, Nicolás Maduro e o líder cubano Miguel Díaz-Canel.
“Haverá uma decisão de começar a estudar os parâmetros necessários para uma moeda comum, o que inclui tudo, desde questões fiscais até o tamanho da economia e o papel dos bancos centrais”, disse o ministro da economia argentino, Sergio Massa, ao Financial Times. “Seria um estudo de mecanismos de integração comercial. Eu não quero criar expectativas falsas, é o primeiro passo de um longo caminho que a América Latina deve percorrer”.
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Na noite deste sábado, Lula assinou um artigo em conjunto com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, em um jornal do país vizinho.
“Decidimos avançar nas discussões sobre uma moeda comum sul-americana que possa ser usada tanto para os fluxos financeiros como comerciais, reduzindo os custos operacionais e nossa vulnerabilidade externa”, defendem.
De acordo com economistas que assessoram o projeto, a América Latina tem economias fortes e há a possibilidade de encontrar instrumentos que substituam a dependência da moeda americana nas transações locais. Especialistas defendem que o mais provável é que o projeto se tratará, justamente, apenas de uma moeda digital usada em negociações, e não de forma corrente.
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A Argentina enfrentou em 2022 uma inflação de 100%, com o Banco Central do país imprimindo dinheiro para bancar gastos públicos. Durante os três anos de mandato do atual presidente do país, Alberto Fernández, o total de pesos em circulação quadruplicou e as reservas de dólar, minguaram. O país está isolado dos mercados de dívida internacionais desde o seu default em 2020 e ainda deve mais de US$ 40 bilhões ao FMI de um resgate de 2018.
As declarações repetidas sobre uma possível moeda única, e não comum, segundo fontes, seria muito mais uma tentativa do governo argentino de aumentar sua popularidade em um ano de eleições e da busca de sinalizações à população de formas de resolver a questão da desvalorização do peso.