Conteúdo editorial apoiado por

Brasil deve perder espaço em índice de emergentes e ver fluxo de investimentos cair

Com gestão passiva ganhando força ano após ano, B3 pode ter fluxo de investimentos ainda menor

Vitor Azevedo

Publicidade

O fato de o Ibovespa ter um dos piores desempenhos entre seus pares no mundo, com uma queda de 19,5% em dólares no primeiro semestre, pode levar os ativos brasileiros a perderem espaço no MSCI Emerging Markets. Se isso sair do papel, segundo especialistas, deve haver impactos negativos para os ativos de risco brasileiro.

Atualmente, o Brasil representa 4,66% do MSCI EM (mas já chegou a representar mais de 10%, anos atrás). Um rebalanceamento, contudo, está previsto para meados de agosto. E as perspectivas são de que as empresas brasileiras percam espaço – sobretudo diante de um cenário ainda desafiador para o segundo semestre.

“O rebalanceamento sempre busca manter o índice o mais fiel e aderente possível ao desempenho dos mercados emergentes, à abrangência e ao peso dos setores em cada país, e, consequentemente, na carteira do MSCI EM”, explica Marcelo Vieira, head da mesa de renda variável da Ville Capital. 

Baixe uma lista de  10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de crescimento para os próximos meses e anos

Brasil perdendo espaço entre emergentes

As companhias nacionais, com o mau momento, estão perdendo valor de mercado por causa das quedas — principalmente em dólar. Empresas de outros emergentes, porém, têm uma maré melhor e sobem na média geral geral.

É o caso da China e da Índia, dois países que já têm as maiores fatias dentro do MSCI EM. O Shangai, um dos principais índices da China, avança cerca de 1% em 2024. Já o NIFTY 50, da Índia, sobe mais de 11%

Continua depois da publicidade

Com isso, já que o índice tenta rebalancear é natural que os ativos brasileiros recuem frente aos demais, perdendo espaço. 

“Periodicamente, o Morgan Stanley, responsável pelo MSCI, faz uma reavaliação e uma nova composição dos índices, de acordo com vários fatores: liquidez, relevância, o tamanho dos mercados… Tudo isso é levado em conta. Então, em um cenário em que o Brasil, eventualmente, tenha uma importância menor do que outros emergentes ele deve perder espaço”, diz Fernando Bento, sócio e CEO da FMB Investimentos.

Fora a questão da perda de valor, o especialista da Ville Capital menciona que a queda do volume negociado no Ibovespa – que vem sofrendo com esta liquidez baixa desde o começo do ano – e o desempenho dos setores também deve pesar.

Continua depois da publicidade

A B3 tem seu volume caindo 27% no ano e empresas de commodities, como a Vale (VALE3), vem registrando um 2024 negativo, enquanto as de tecnologia (muito presentes na China, por exemplo) sobem.

Gestão passiva representa fluxo cada vez maior

A questão é que cada vez mais os ETFs que replicam índices como o MSCI Emerging Markets são responsáveis por criarem fluxos de investimentos mundo afora. Só o ETF da iShares, o principal que replica o índice, tem hoje uma capitalização de mais de US$ 19 bilhões. Mas há outros grandes como os da Amundi e o Xtracker.

A chamada “gestão passiva”, com investidores colocando dinheiro nesses papéis, vem ganhando força frente à gestão ativa (que conta com gestores escolhendo ações, por exemplo) por conta das performances parecidas e pelo fato de os primeiros terem, usualmente, menores taxas.

Continua depois da publicidade

“Como existem vários fundos que acabam seguindo esse índice, o MSCI EM, é possível que a Bolsa brasileira acabe entrando numa espiral negativa. Uma participação menor aqui do Brasil vai fazer os fundos que seguem o investimento de mercados emergentes acabarem alocando menos em Brasil, o que pode impactar o próximo rebalanceamento e por ai vai”, diz Fernando Bento.

Em 2023, os chamados “fundos passivos” representaram mais de 53% dos ativos sob gestão domiciliados nos Estados Unidos. E as projeções mostram que esse número pode chegar a 60% ainda em 2024.

“Qualquer mudança no percentual de alocação na carteira de EM causa um ajuste de posição em todos os países que constam no índice, para que os ETFs e fundos que o espelham fiquem exatamente nos mesmos percentuais” explica Vieira, da Ville. 

Continua depois da publicidade

“Isso quer dizer que quando se aumenta o peso de um país, há uma entrada de recursos nele, e quando se diminui o peso, há, portanto, a saída de recursos”, completa.

Como consequência, a B3, até o final de junho, já registrava um fluxo de saída de mais de R$ 40 bilhões de estrangeiros.