Bradesco (BBDC4): resultado é fraco, mas supera projeções e ação sobe 5%; números reacendem debate sobre banco

Enquanto alguns analistas destacam dados como negativos e com deterioração até pior do que o esperado, outros apontam números menos preocupantes

Lara Rizério

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As expectativas já não eram positivas para o Bradesco (BBDC4) no primeiro trimestre de 2023, com analistas ainda projetando uma qualidade fraca dos ativos. Os resultados foram divulgados na noite da última quinta-feira, com o banco registrando um lucro recorrente de R$ 4,3 bilhões no período, uma queda de 37,3% na comparação anual, mas acima do consenso Refinitiv, que previa lucro líquido de R$ 3,596 bilhões.

Com isso, as ações operaram voláteis em boa parte da sessão desta sexta-feira (5), entre leves perdas e ganhos, para depois engatarem alta tendo em vista o maior ânimo do Ibovespa como um todo. O papel BBDC4, mais líquido, subiu 4,98%, a R$ 14,77.

A XP destaca que o número representa um aumento de 16% em relação à sua estimativa e ao consenso do mercado. No entanto, considera que o desempenho geral do banco no trimestre foi fraco.

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A pressão sobre as provisões, o aumento da inadimplência em 80 pontos-base sequencialmente, para 5,1% (com maior deterioração no segmento de pessoas físicas e pequenas e médias empresas) e a redução do índice de cobertura (que representa a proporção que a provisão para risco de crédito é capaz de cobrir os créditos inadimplentes) foram os principais fatores que contribuíram para essa fraqueza. Apesar das maiores provisões, a taxa de cobertura caiu para 182,4% (baixa de 21,8 pontos percentuais na comparação trimestral).

Enquanto isso, o lucro líquido foi impactado positivamente pela menor alíquota efetiva de Imposto de Renda. Do lado positivo, o receita líquida de juros (NII) com o mercado melhorou e o segmento de seguros manteve seu momento positivo.

No lado do portfólio de crédito, o ritmo de crescimento desacelerou e encerrou o trimestre abaixo do guidance para 2023. “Dito isso, esperamos uma reação negativa para a ação e mantemos nossa visão conservadora sobre o banco”, apontou.

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Também para o Itaú BBA, os números reportados pelo banco na véspera foram negativos. “O lucro líquido do Bradesco no 1T23 de R$ 4,3 bilhões ante o consenso de R$ 3,5 bilhões não é algo que os mercados devam receber bem, em nossa opinião”, avaliam os analistas.

“As despesas de provisões abaixo do esperado, de R$ 9,5 bilhões, causaram toda a surpresa. A parte dissonante é que todas as métricas aparentes de qualidade de crédito se deterioraram significativamente. Despesas com provisões ficaram R$ 2,5 bilhões abaixo do ritmo do NPL formation (ou “evolução da inadimplência”, que sinaliza como a qualidade do crédito está evoluindo)”, avaliam os analistas do banco. Assim, destacam a queda do índice de cobertura para 182%, devido ao consumo das provisões previstas.

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Outros elementos do trimestre também foram fracos. As receitas totais caíram cerca de 4% no trimestre, com a carteira de empréstimos caindo 1% e as NIIs dos clientes em baixa de 3%.  Os seguros ainda lutam com sinistros e despesas, enquanto as receitas de serviços ficaram 3% abaixo das previsões.

Para o BBA, os poucos pontos positivos foram uma menor perda nos resultados de tesouraria e despesas operacionais bem contidas.

“No geral, os resultados do 1T23 trazem risco negativo para as estimativas de 2023, em nossa opinião, apesar do guidance inalterado do banco. As receitas e despesas com provisões seguirão pressionadas”, avaliam os analistas da casa, que possuem recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado, equivalente à venda) para as ações BBDC4.

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Outro pessimista, e com recomendação undeperform para os ativos é o Credit Suisse, que destaca uma piora acima do esperado da qualidade dos ativos do primeiro trimestre, também apontando alta da inadimplência e queda do índice de cobertura.

“Embora reconheçamos que o modelo de provisionamento de perda esperada possa ter antecipado parte das provisões, a qualidade dos ativos pior do que o esperado pode sustentar um nível de provisionamento elevado por mais tempo. O crescimento dos empréstimos ano/ano ficou abaixo do guidance, ante um apetite reduzido, além de uma postura mais cautelosa no atacado”, avaliam os analistas do banco suíço.

O JPMorgan, por sua vez, avalia que este não foi um bom trimestre, mas com algumas tendências de melhora.

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“Não é segredo que o Bradesco se tornou uma das poucas histórias de investimento muito debatidas no Brasil nos últimos tempos. Diferentemente do Itaú (ITUB4) e do BTG Pactual (BPAC11), em que vemos investidores majoritariamente comprados, no Bradesco vemos fortes opiniões de ambos os lados”.

Este trimestre não será diferente, avalia, com o lucro bem à frente dos R$ 3,315 milhões esperados pelo JP e do consenso da Bloomberg de R$ 3,692 bilhões (11 estimativas).

Os analistas do banco trazem dois lados sobre os resultados. “Os pessimistas argumentarão que o aumento da inadimplência foi substancial e que a formação de novos NPLs foi de aproximadamente R$ 12 bilhões, acima dos R$ 10 bilhões provisionados no trimestre, reduzindo o índice de cobertura e ajudando o lucro”, avaliam. Já os otimistas dirão que a tendência está melhorando para a instituição.

O JPMorgan lembra que, notavelmente, o lucro do 4T22 ficou abaixo das estimativas em mais de 50% e levou a um ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) de 4%, enquanto neste trimestre o Bradesco superou a projeção do JP e o ROE subiu para 10,6%. Os empréstimos subiram 5% ao ano, suportados por pessoas físicas, em alta anual de 10%, com destaque para os cartões de crédito que ainda subiram 22% ano a ano.

O NII ficou praticamente estável no trimestre e 1% abaixo do esperado pelo JP, com s perdas de tesouraria começando a melhorar. O lucro antes de juros (Ebt) superou a projeção do JP em 19% e os impostos mais baixos levaram a um número superando as projeções ainda mais, em 29%.

“No geral, um trimestre não de qualidade, mas menos preocupante do que o 4T22”, resume o JPMorgan, que segue com recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para os ativos do banco.

Em uma linha parecida, a Genial Investimentos destaca que o Bradesco registrou resultado abaixo do seu potencial, mas em recuperação.

“Apesar do lucro superior às nossas projeções, o resultado ainda se encontra em patamares bem inferiores ao que acreditamos ser um lucro mais normalizado do Bradesco. O lucro de R$ 4,3 bilhões foi 37% menor que o 1T22 e a rentabilidade (ROE) foi bem abaixo de alguns rivais. As provisões seguem elevadas, carteira de crédito contraiu 2,2% no trimestre e a margem financeira enfraqueceu 2,4% na base anual. Do lado positivo, vemos avanços numa gradual recuperação de rentabilidade que deve ajudar no crescimento de lucro, principalmente à partir do segundo semestre de 2023”, avaliam os analistas da casa.

Das maiores preocupações que a Genial tinha (tesouraria negativa, custo de crédito crescente e eficiência/digitalização), pelo menos o resultado de tesouraria melhorou significativamente e o banco já sinaliza que pode ficar positivo no segundo semestre de 2023, avalia a casa.

Outro destaque positivo continuou sendo a unidade de Seguros com um ROE de 18% e crescimento de lucro de R$ 1,77 bilhão, aumento de 10% ao ano.

“No momento, reiteramos nossa recomendação de manter [as ações] com preço alvo de R$ 15,10. Apesar da gradual melhora em sua rentabilidade e múltiplos considerados atrativos, preferimos bancos como Itaú e Banco do Brasil que foram melhor nesse ciclo de crédito, conseguindo entregar um melhor retorno com ROE próximo de 20% e também negociando a valuation atrativo”, avalia.

O Morgan Stanley, mais otimista, avalia que os resultados do Bradesco vieram em linha com o consenso do lado do “sell-side” (analistas no geral) mas, mais importante, eles provavelmente superaram em muito as expectativas do “buy-side” (gestores). Assim, o lucro registrado pode ser uma surpresa muito positiva. “Especialmente em provisões para inadimplência e perdas com empréstimos, embora ainda se deteriore no trimestre, acreditamos que os resultados são melhores do que os pessimistas esperavam”, avaliam os analistas, que possuem recomendação overweight para os papéis do banco.

Assim, os números do 1º trimestre do Bradesco devem perdurar a discussão sobre as ações. De acordo com compilação feita pela Refinitiv, de 17 casas que cobrem os ativos BBDC4, 5 recomendam compra, 8 recomendam manutenção e 4 recomendam venda, com preço-alvo médio de R$ 16,54, ou potencial de alta (upside) de 17,56% em relação ao fechamento da véspera.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.