Bradesco (BBDC4) salta 6,2% com OPA da Cielo fazendo ‘todo sentido’; mercado espera balanço

Além dos números do 4º tri, a serem divulgados na próxima quarta antes da abertura, expectativa ficava para mudanças com nova gestão; um dos anúncios foi antecipado com OPA da Cielo

Lara Rizério

(Crédito: Shutterstock)
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O Bradesco (BBDC4) viu suas ações preferenciais fecharem em disparada de 6,21%, a R$ 16,60, nesta terça-feira (6), às vésperas da divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2023 (4T23) e em um dia de ânimo para a Bolsa brasileira como um todo. O banco revelará seus números na quarta-feira (7) antes da abertura, anunciará o guidance de 2024. A projeção é de que o banco deva apresentar dados tímidos e mostrando lenta recuperação.

A grande expectativa, contudo, era pela apresentação de um amplo plano de reestruturação, abrangendo desde mudanças de gerências, redução de custos, investimentos em tecnologia, até mudanças culturais no banco. Porém, um grande anúncio foi feito antes do que o esperado, já na noite da última segunda-feira (5), com o lançamento de oferta para fechamento de capital da Cielo (CIEL3) pelo Bradesco em conjunto com o Banco do Brasil (BBAS3).

A visão de analistas de mercado é de que a decisão de Bradesco e BB faz muito sentido para os bancos, principalmente para o Bradesco, que passa por uma grande transformação. Nos últimos dois anos, o principal concorrente do Bradesco, o Itaú Unibanco (ITUB4), finalmente conseguiu integrar seu braço adquirente, a Rede, em sua recém-criada vertical de pequenas e médias empresas, tornando-o um produto totalmente integrado.

O novo presidente-executivo do Bradesco, Marcelo Noronha, é ex-presidente do conselho da Cielo e deve discutir o novo plano estratégico com o mercado na próxima quarta-feira, esperam os analistas do BTG Pactual. “Nós acreditamos que o Bradesco deve focar fortemente no segmento de pequenas e médias empresas para sua recuperação”, avaliam.

Mesmo apontando que a transação faz muito sentido, analistas de mercado citaram que o pequeno prêmio sobre o preço de fechamento mais recente e o ‘valuation’ pouco exigente das ações provavelmente gerarão reclamações dos investidores. O preço de oferta é de R$ 5,35: assim, considerando o preço de fechamento de ontem de R$ 5,03 por ação, o preço da oferta de R$ 5,35 daria um upside de apenas 6,36%. Se descontado o JCP a ser recebido, o upside cairia para meros 3,4%.

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Para a Genial, do ponto de vista dos negócios, o fechamento de capital faz sentido, uma vez que o cenário de adquirência passou por mudanças significativas e a perspectiva de um negócio consistentemente rentável é baixa. O Itaú com a Rede e o Santander com a Getnet conseguiram integrar vendas cruzadas de produtos bancários e adquirência de forma mais eficaz do que o Bradesco, Banco do Brasil e Cielo, avalia.

Outra razão para o fechamento de capital é o imbróglio envolvendo a Cateno (receita de intercâmbio de cartão de crédito do Banco do Brasil, vendida para a Cielo em 2014). Ambos os bancos ainda consideram a adquirência como parte essencial do ecossistema de cartões.

E o balanço do Bradesco?

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Sobre os números do quarto trimestre de 2023 do Bradesco em si, a XP projeta uma queda de 2,9% da carteira de crédito na base anual e alta de 3% frente o 3T23, uma vez que as concessões de crédito permanecem conservadoras a fim de controlar a inadimplência. Além disso, espera que o Bradesco apresente um decréscimo de 1% na receita líquida de juros (NII) neste trimestre na base anual (+4,2% trimestre a trimestre), uma vez que spreads mais apertados e um menor NII com o mercado continuam a impactar negativamente esta linha de receita.

A projeção é de uma diminuição marginal da sua inadimplência no 4T23 (-10 pontos-base, para 6,1%), uma vez que as novas safras continuam a ter um melhor desempenho do que as anteriores e o banco começa a recuperar o controle sobre a inadimplência. Enquanto a XP espera um lucro de R$ 4,84 bilhões (alta anual expressiva de 204%, mas trimestral modesta de 5%), o consenso LSEG com mercado projeta uma cifra menor, de R$ 4,5 bilhões.

O Itaú BBA espera ainda um guidance conservador para o exercício de 2024, implicando uma fase de transição para o banco com um gradual retorno de linhas de crédito de maior rendimento, como varejo e PMEs, foco na renda mais alta e esforços de controle de custos nos serviços convencionais.

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A Genial espera que o 4T23 seja marcado por uma contínua e gradual melhora em relação ao 3T23. Em relação ao trimestre, não espera grandes mudanças, com um lucro recorrente esperado de R$ 4,7 bilhões (+1,9% no trimestre e +195% ano a ano) e um ROE ainda fraco em relação ao seu histórico, ficando em apenas 11,6% (+0,09 ponto trimestre a trimestre e +7,54 pontos ano a ano).

“Em nossa avaliação, os pontos positivos do trimestre são (i) melhora significativa na base trimestral do NII Mercado e (ii) leve aumento da receita com tarifas. Por outro lado, o NII de clientes deve continuar pressionado e as provisões devem sofrer uma leve expansão na base trimestral, com a retomada em algumas linhas mais agressivas”, avalia a Genial.

Para 2024, os analistas veem a carteira de crédito voltando a crescer em linha com o mercado e retomando aos poucos em produtos mais agressivos, ajudando na composição do NII Clientes (volume e spread). A visão da Genial é de um lucro recorrente de R$ 23,3 bilhões (+28,4% na base anual) e um ROE de 14% (+2,4 pontos na base anual), ainda aquém do nível de 20% estimado para Itaú e Banco do Brasil, avalia a Genial.

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Olhando para frente, a Genial espera, sob o novo comando do recém-empossado CEO, Marcelo Noronha, que o banco mude gradualmente ao longo dos próximos 2-3 anos para fazer frente as mudanças de um mundo mais tecnológico, ágil e menos presencial. A projeção é de que o banco volte a crescer no segmento baixa renda, mas para isso terá que diminuir muito o custo de servir, o custo de aquisição e melhorar a inadimplência do segmento. O primeiro passo da mudança foi dado.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.