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Os passos para a recuperação do Bradesco (BBDC4) seguem na mira dos investidores após o segundo maior banco privado do Brasil perder R$ 24 bilhões de valor de mercado apenas na sessão pós-resultado. A perspectiva de que o banco só terá um retorno sobre o patrimônio (ROE, uma medida de rentabilidade) acima do custo de capital em 2026 faz com que a maior parte dos analistas mantenha cautela, mas há quem esteja otimista.
Após reunião com o novo presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, o Morgan Stanley manteve visão positiva para a ação, com recomendação overweight (exposição acima da média, equivalente à compra). Os analistas do banco destacaram terem saído mais confiantes em sua visão de que a recuperação do ROE “poderá ocorrer mais cedo do que mais tarde”.
Conforme destacou o Morgan, durante o evento a administração compartilhou “informações valiosas” sobre como está pensando a recuperação do ROE, participação de mercado em crédito, eficiência de custos e concorrência.
“É importante ressaltar que o novo CEO do Bradesco, Marcelo Noronha, disse aos analistas que deseja que a nova equipe de gestão construa credibilidade junto ao mercado e prefere ‘prometer menos e entregar mais’, dado o amplo conjunto de mudanças estratégicas que ele pretende implementar”, afirma o Morgan.
Como tal, vê que a administração pode ter como objetivo cumprir o teto do guidance e alcançar um ROE acima do custo de capital antes de 2026. “Mais uma vez, apreciamos o compromisso da administração com uma revisão constante (e abrangente) do posicionamento do banco — com foco na digitalização, no controle de custos e na centralização no cliente”, avalia a equipe de análise do banco, que vê a ação da instituição financeira brasileira com uma relação risco-retorno atrativa.
A administração do Bradesco reiterou que o ROE deverá se recuperar consistentemente nos próximos trimestres e haverá um “efeito cumulativo” mais significativo no ROE em 2025. Durante a reunião, Noronha enfatizou frequentemente que seu plano é melhorar a lucratividade “passo a passo” – concentrando-se nas melhorias necessárias no banc. Ao fazê-lo, ele disse que sua preferência por enquanto é “prometer menos e entregar mais” ao mercado.
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“Dito isto, o plano estratégico — que implementa mudanças tanto a nível de gestão como a nível operacional — deverá posicionar o banco para proporcionar esta forma de crescimento sustentável dos lucros”, aponta o Morgan. A gestão do banco reiterou o seu plano para reacelerar gradualmente o crescimento do crédito em todas as categorias e aumentar a participação de mercado ao longo do tempo, relembrando que a meta do banco é aumentar a participação de mercado de crédito para 15-19%, acima dos 14% atuais. Além disso, reconheceu que perdeu parte do mercado nos últimos anos, em parte devido ao sucesso do Nubank nos cartões de crédito. No entanto, enfatizou que isso impactou todos os operadores históricos, não apenas o Bradesco.
Neste cenário, um foco adicional na (i) digitalização e (ii) na racionalização na abrangência do banco estará entre os principais catalisadores para a redução de custos nos próximos anos. Na frente da digitalização, espera-se que a migração do banco para a nuvem termine em 2025. Enquanto isso, novos executivos com sólida experiência em tecnologia/banco digital ajudarão neste novo impulso para digitalizar as operações – tudo isso baseado no objetivo final de reduzir custos.
A racionalização das agências será outro componente fundamental deste plano de controle. O banco disse que vê espaço para cortar cerca de 10% de suas agências e pontos de venda. No total, a administração considera que a redução dos custos de serviço — através destes meios — posicionará melhor o banco para superar os seus pares concorrentes no mercado a médio e longo prazo. Além disso, uma melhor segmentação e um foco na centralização no cliente também deverão impulsionar o posicionamento do banco no mercado.
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Enquanto o Morgan Stanley está otimista, outros bancos reiteraram cautela com o banco, como foi o caso do Goldman Sachs (que tem recomendação de venda para os ativos BBDC4) e o Itaú BBA (com recomendação equivalente à neutra e preço-alvo de R$ 15,50). Para o BBA, o Bradesco está no caminho certo e o valuation já parece ter sido corrigido às novas expectativas, mas prefere ter mais convicção, antes de voltar para o papel. Com as estimativas de 2024 e 2025 revisadas em 12% e 5% respectivamente, chegaram a um ROE de 11% e 14% para os anos respectivos.
Segundo compilação LSEG com analistas, de 14 casas que cobrem BBDC4, 10 possuem recomendação neutra, 1 de venda e apenas 3 de compra.