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Não foi dessa vez. Após trimestres decepcionantes, o Bradesco (BBDC4) divulgou resultados do terceiro trimestre de 2023 (3T23) na noite da última quinta-feira (9) mostrando tendência de recuperação em algumas linhas, mas isso não foi suficiente para animar o mercado, por conta de um outro fator que ofuscou os bons números. Assim, os papéis BBDC4 fecharam em baixa de 1,44%, a R$ 15,04, longe das mínimas da sessão, mas destoando do dia positivo do Ibovespa.
“Nos últimos trimestres, esperávamos que o Bradesco mostrasse duas coisas em sua divulgação de resultados: uma parada na piora da inadimplência e uma margem financeira positiva com o mercado. Quando isso finalmente aconteceu, surgiu uma nova preocupação: o NII [margem financeira] com os clientes”, aponta a XP.
O Bradesco reportou resultados com lucro líquido de R$ 4,6 bilhões entre julho e setembro (+2,3% na base trimestral, mas queda anual de 11,5%), em linha com as estimativas, mas com o ROE (retorno sobre o patrimônio) deprimido de 11%.
A XP ressalta que, embora o banco tenha melhorado seu índice de inadimplência (NPL) em 10 pontos-base (excluindo Americanas), o índice de cobertura caiu para 155,2%, o que incomodou os analistas da casa.
As provisões para créditos de liquidação duvidosa do Bradesco totalizaram R$ 10,4 bilhões e ficaram acima da estimativa da casa e do último trimestre (R$ 9,7 bilhões). “Ainda não vemos a um grande alívio na inadimplência, uma vez que o banco está consideravelmente exposto a linhas de crédito de baixa qualidade. Olhando para o futuro, uma melhoria gradual no ambiente macro do 2S23 poderá ser útil”, afirma.
As receitas de Seguros, Previdência e Títulos de Capitalização cresceram 33% ao ano, acelerando em relação aos trimestres anteriores, impulsionadas pelo crescimento de prêmios que superou os sinistros. Com isso, o lucro líquido desta unidade de negócio atingiu R$ 2,4 bilhões, implicando um retorno médio de 23,9%. Isto significa que o resultado líquido da atividade seguradora é mais representativo do que a atividade bancária (51% do total).
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Tarifas e Comissões encerraram o trimestre em R$ 9,1 bilhões, 4% acima das projeções da casa. O aumento de 2,9% anualmente reflete uma melhor dinâmica no volume total de pagamentos com cartão de crédito, gestão de ativos e ativos sob custódia. “Ainda assim, o banco precisará apresentar uma taxa de crescimento ainda mais forte no 4T23 para se manter dentro da faixa do guidance”, aponta.
Com esse panorama, a XP reforça que a maior preocupação agora é a margem financeira com clientes, que caiu 4,9% trimestralmente, a maior queda desde 2017, e encerrou o trimestre em R$ 15,8 bilhões (+5% no trimestre, queda de 10% frente o 3T22 e -11% abaixo da projeção da XP).
“Esta queda pode ser atribuída a um mix de produtos mais desfavorável, spreads mais baixos e crescimento mais lento da carteira de crédito.”, aponta.
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Já do lado das despesas, há mais um trimestre o Bradesco apresenta crescimento mais lento em relação ao mesmo período do ano anterior nas despesas de pessoal e outras despesas administrativas. Porém, impulsionado por “outros”, o Bradesco imprimiu um aumento de 8,1% na base anual, encerrando o trimestre em R$ 13,4 bilhões.
A XP também destaca que o Bradesco não revisou seu guidance. “Isso pode ter sido adequado dado que em algumas métricas dos 9M23 [acumulado dos primeiros nove meses do ano] o banco está abaixo da faixa sugerida. E, no fundo, isso nos deixa com uma leve dúvida se o Bradesco poderia ser mais otimista e, finalmente, surpreender positivamente a nós e ao consenso”, avalia.
Para o Itaú BBA, os números foram mistos, também destacando a queda do NII devido aos spreads mais baixos.
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“Ainda foi um trimestre fraco em termos de receitas (-2% na base trimestral), exceto para serviços (+4%)”, ressalta, enquanto a carteira de crédito cresceu abaixo dos pares, em 1% no trimestre.
Já do lado positivo do trimestre, estão a queda na formação de NPL e os indicadores positivos no varejo. “No geral, este trimestre confirma que o pior já passou, mas também destaca os desafios que o Bradesco enfrentará para restaurar a rentabilidade”, avalia o BBA.
Para a Genial, o 3T23 traz indícios de que o Bradesco enfrentará desafios relevantes na retomada do crescimento da margem financeira com clientes e da carteira de crédito de forma rentável.
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“A recuperação de rentabilidade (ROE) para níveis mais próximos a 20% pode demandar mais tempo do que inicialmente esperado, possivelmente até 2026”, avalia, também ressaltando a queda da margem de juros com clientes, enquanto a carteira de crédito permaneceu em R$ 626 bilhões, registrando pouca evolução em relação ao trimestre anterior e contraindo 2,8% na base anual.
“Apesar da rentabilidade ainda estar consideravelmente abaixo de seus rivais, o Bradesco demonstrou sinais de melhoria no resultado do 3T23, especialmente na redução da inadimplência e na menor necessidade de provisionamento para créditos em atraso. Embora esses indícios sejam promissores e representem uma etapa crucial na recuperação do crescimento de lucro e rentabilidade, sua capacidade de gerar receita de crédito foi impactada de forma significativa nesse processo de limpeza de balanço”, avaliam os analistas.
Já para 2024, a Genial espera uma recuperação gradual na receita, impulsionada por diversos fatores: a margem com o mercado retornando a níveis mais normalizados, impulsionada pela redução da Selic; o crescimento da margem com clientes, impulsionado por volumes de crédito mais elevados e uma melhoria no mix com spreads mais amplos, devido à retomada do apetite de risco; o crescimento das receitas com tarifas, superando a inflação; e a unidade de seguros mantendo bons resultados.
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Em relação as despesas, prevê que as provisões de crédito fiquem relativamente estáveis, sem crescimento ou com uma leve redução em comparação com 2023, além de uma contenção nos gastos da linha de ‘outras despesas administrativas’. “Nossa projeção é um lucro líquido de R$ 24,3 bilhões para 2024 (+27,3% frente 2023), resultando em um ROE de 14,2%, indicando uma melhora, embora ainda bem abaixo da marca dos 20% de ROE”, aponta.
Ao olhar para os números do terceiro trimestre, o BTG Pactual ressaltou que a receita fraca e a falta de visibilidade sobre quando a retomada ao risco do Bradesco realmente começará a fazer efeito devem gerar uma reação negativa do mercado.
O BTG vê uma recuperação muito lenta pela frente e o ROE provavelmente permanecendo abaixo do custo de capital do acionista por vários trimestre. “Em meio a um ambiente global onde as ações do setor de bancos parecem bastante baratas em todos os aspectos, não vemos muitos motivos pelos quais as ações não devam ser negociadas abaixo do valor patrimonial por algum tempo. Permanecemos neutros e cautelosos em relação à recuperação do ROE”, aponta.
Na mesma linha, XP, Itaú BBA e Genial possuem recomendação neutra ou equivalente para os ativos.