Bradesco (BBDC4) mira em recuperação de margem com clientes após pisar no freio com micro e pequenas empresas

O balanço foi afetado por um menor volume de concessão de crédito a micro e pequenas empresas, que trabalham com retornos maiores devido ao seu maior risco

Mitchel Diniz

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Após os resultados do terceiro trimestre de 2023 (3T23) não agradarem muito o mercado, os executivos do Bradesco (BBDC4) apontaram em teleconferência que o banco está preparado para retomar o crescimento de sua margem financeira. Este foi um indicador que chamou atenção no balanço da instituição, com uma queda de 2,6% em bases anuais, para R$ 15,9 bilhões. A margem com clientes recuou 9,6% na mesma base de comparação, enquanto a margem com mercado ficou positiva, em R$ 23 milhões.

“Deixamos para trás o assunto margem com mercado, é página virada”, afirmou o CEO do Bradesco, Otávio de Lazari. “Ficou positivo no trimestre, será assim no quarto. Daqui para frente é operar num nível mais forte e o que temos que trabalhar é na melhoria da margem com o cliente”, disse.

O balanço foi afetado por um menor volume de concessão de crédito a micro e pequenas empresas, que trabalham com retornos maiores devido ao seu maior risco. O executivo, porém, sinaliza que o Bradesco deve aumentar a originação nesse segmento ao longo do quarto trimestre. No terceiro, o crédito para pequenas e médias sofreu retração em 1,1%, enquanto para grandes empresas aumentou em 3,2%.

“Estávamos procurando por portfolios mais seguros, imobiliário, consignado e rural, mas precisávamos segurar um pouco as carteiras mais arriscadas”, afirma Lazari. “Mas o crescimento já voltou ao normal e, ao longo do quarto trimestre, deve continuar”, complementa.

O banco tomou a postura mais cautelosa diante da inadimplência do segmento, mas acredita que o “pior ficou para trás”: “A gente vai observar ao longo do quarto trimestre uma redução da inadimplência”.

De qualquer forma, o crescimento de margem financeira acumulado nos nove primeiros meses de 2023, de 1,3%, está distante do guidance, que previa avanço entre 2% e 6%. “Estamos abaixo da expectativa, mas foi necessário o ajuste que fizemos na concessão de crédito, principalmente em pequena e micro empresa, que dão mais margem”, afirmou Octavio de Lazari, em teleconferência com analistas.

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“Continuamos a operar com empresas de menor risco e maior garantia”. O executivo diz que o banco mira no “pé” do guidance e está trabalhando para buscar isso.

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“Queremos entrar em 2024 100% ‘full’ em todas as linhas para fazer o crescimento da margem de crédito dentro do novo normal nosso”, complementou Cassiano Ricardo Scapelli, CFO.

Ainda que considere que o custo de crédito do banco siga elevado, Lazari observa que já houve uma queda importante no terceiro trimestre e a perspectiva é de maiores reduções nos próximos trimestres, após o Bradesco atingir o topo de inadimplência.

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“Lógico, não estamos satisfeitos com esse ROE que estamos observando, ele é inadequado. Isso tem um peso de inadimplência […], mas vamos recuperando esse ROE”, afirmou. Segundo o CEO, a rentabilidade vai melhorar não só pelo crescimento da carteira de crédito, mas por todos os outros produtos e serviços oferecidos aos clientes.

Foco em alta renda

Em coletiva com os jornalistas sobre os resultados, o CEO afirmou que um dos principais objetivos do Bradesco é crescer no segmento de alta renda, buscado pela principalidade desse cliente. A carteira de crédito do Bradesco Prime avançou 3,7% no terceiro trimestre. A My Account, conta digital internacional do Bradesco, alcançou 100 mil correntistas em três meses.

Porém, o CEO reconhece que o varejo de “baixa renda” é capaz de ser rentável. “O varejo sempre foi um segmento de muito resultado, mas passou por uns desafios ao longo do tempo. […] É um volume de pessoas muito grande. Esse segmento dava ROE acima de custo de capital dois anos atrás”, explica.

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Lazari nota que a facilidade de crédito foi determinante para o ciclo de inadimplência. “Dado esse cenário, temos convicção de que o varejo é sim capaz de ser rentável, mas tem que trazer isso para um custo mais adequado e selecionar o público a ser atingido”, completou, falando da importância do digital no ajuste do “custo de servir”.

Cartão de crédito

Sobre as discussões em torno do fim do parcelamento sem juros do cartão de crédito como solução aos altos juros do rotativo, Lazari afirmou que é preciso ter “racionalidade e honestidade intelectual”.

“Não faz sentido pagar produto à vista com mesmo o valor em 10 vezes. Matematicamente isso não é possível”, afirma Octavio de Lazari Júnior. “Temos que todos entender as necessidades, ceder um pouco, para que a economia brasileira não seja afetada, mantenha ritmo de crescimento e a população seja atendida, usando o cartão como meio de pagamento e meio de financiamento, com taxas de juros que sejam dignas, de um dígito”.

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O CEO afirmou também que o Bradesco segue com portfólio de cartões robusto, mas mantém cautela, principalmente na baixa renda. “Nós nunca deixamos de operar cartões”, afirmou.

Caso Americanas

Na coletiva com jornalistas, o executivo disse ainda que o processo com Americanas (AMER3) vem caminhando “muito bem”.

“Continuamos trabalhando no plano de recuperação da empresa, com um time grande envolvido nisso. Houve uma proposta melhor dos controladores, aumentando o aporte de recursos para R$ 12 bilhões. Vamos buscar que a gente tenha o plano dessa recuperação judicial antes do recesso do Poder Judiciário, para que a gente tenha isso solucionado ainda este ano”, afirmou .

Recompra de ações

Durante a teleconferência com analistas, o CEO do banco afirmou que A recompra de ações pode ser uma alternativa, levando em conta o atual valor dos ativos.

“Nós deixamos o programa de recompra pronto e renovado se for o caso para fazer isso”, afirmou Octavio De Lazari.

“A expectativa para o ano que vem, mesmo com um resultado menor do que aquilo que a gente gostaria, é remunerar nossos acionistas com payout razoável e adequado, por isso faz sentido também a recomprar”.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados