Bradesco (BBDC4): inadimplência e guidance dividem analistas após balanço; ações fecham em alta de 2%

Analistas apontam diferentes visões sobre números do segundo maior banco privado do Brasil após o resultado do primeiro trimestre

Lara Rizério André Cabette Fábio

(Crédito: Shutterstock)
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O Bradesco (BBDC4) divulgou seus resultados na véspera com um lucro ligeiramente acima do esperado ao atingir R$ 6,821 bilhões no primeiro trimestre de 2022 (1T22). Segundo consenso Refinitiv com analistas, a expectativa era de que o banco registrasse um lucro de R$ 6,762 bilhões.

Além disso, houve uma revisão de guidance (projeções) com alguns dados sendo revisados para cima, prevendo mais receitas com crédito e tarifas e um maior controle de despesas operacionais em 2022, mas também elevando a expectativa para despesa com provisão para perda com calotes (PDD expandida).

Assim, o conjunto de dados apresentados pelo segundo maior banco privado do Brasil foi visto de diferentes maneiras pelos analistas de mercado. As ações BBDC4 chegaram a ter volatilidade no início do pregão, mas fecharam com ganhos de 2,09%, a R$ 18,10, com os investidores também atentos ao anúncio de seu programa de recompra de ações (de até 106,6 milhões de papéis, entre preferenciais e ordinários, até 6 de novembro de 2023).

O Morgan Stanley destacou que o banco apresentou resultados fortes, impulsionados por crédito, margens mais altas e controle de custos.

“A atividade de crédito continua forte, com expansão expressiva no crédito ao consumidor (alta de 3% na base trimestral e de 23% na comparação anual, especialmente considerando a fraca sazonalidade). Isso, acreditamos, ressalta a visão positiva da administração sobre a tomada de risco e a inadimplência”, avaliam os analistas.

O índice de inadimplência e as provisões aumentaram, o que o Morgan aponta que será destacado pelos mais pessimistas. A inadimplência atingiu 3,2% no 1T22, com avanço de 0,4 ponto percentual na base trimestral e de 0,7 ponto na base anual. Já a Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) expandida foi de R$ 4,836 bilhões no trimestre, aumentando 23,8% na comparação com igual trimestre de 2020 e 12,9% com o 4T21.

No entanto, avaliam os analistas do Morgan, a inadimplência e as provisões estão apenas se normalizando, de volta aos níveis pré-Covid, após um período de baixa dada a grande quantidade de renegociações feitas em 2020 e 2021. “A nosso ver, não há evidências de que a inadimplência seja preocupante e/ou fora de controle”, avaliam.

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Guidance foi positivo?

O guidance revisado para 2022 foi visto como muito positivo pelos analistas do Morgan: o banco agora espera um crescimento do NII [margem financeira líquida] ajustada ao risco de 18% ano a ano, contra 9% antes – “também uma forte declaração sobre as perspectivas de inadimplência”, segundo os analistas.

A previsão para a margem com clientes subiu da faixa de 8% a 12% para 18% a 22% e também a estimativa de crescimento das receitas com prestação de serviços no ano passou de 2% a 6% para 4% a 8%. Enquanto isso, a projeção de alta das despesas operacionais neste ano caiu do intervalo de 3% a 7% para 1% a 5%.

Já a projeção de despesa com provisão para perda com calotes agora é de R$ 17 bilhões a R$ 21 bilhões, ante R$ 15 bilhões a R$ 19 bilhões da previsão anterior.

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A estimativa para crescimento de 10% a 14% da carteira de crédito foi mantida, embora ela tenha crescido 18,3% no primeiro trimestre. A projeção para o resultado das operações de seguros, de avanço de 18% a 23%, também não mudou. No primeiro trimestre, a alta foi de apenas 4,7%.

“De acordo com nossas estimativas, o novo guidance implica um crescimento do lucro líquido muito mais forte para o ano; de fato, usando o ponto médio da nova faixa de guidance, o lucro líquido seria de R$ 32,6 bilhões (neutro para trading), um aumento de 11% em relação aos R$ 29,4 bilhões anteriores. A nova orientação implica um crescimento do lucro líquido de 24% na base anual, contra 12% antes”, diz o Morgan.

Por outro lado, o Itaú BBA vê as novas projeções com menor otimismo. A revisão das orientações para o 2022 parece positiva à primeira vista, diz o banco, mas exige uma segunda reflexão. Os analistas da casa acreditam que a revisão para cima da NII do cliente no valor de R$ 5 bilhões poderia ser compensada pela menor NII do mercado.

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O guidance de despesas de provisão, embora mais realista, ainda parece um pouco otimista, dado o rápido ritmo de deterioração da inadimplência no varejo, avaliam ainda.

O banco, contudo, mantém classificação outperform para o papel, e preço-alvo de R$ 26,75 frente a cotação de quinta-feira (05) de R$ 17,73.

Olhando para os números em geral, os analistas do BBA apontaram que os destaques positivos foram o crescimento da carteira de crédito, aceleração da receita líquida de juros, despesas contidas e bons números de serviços. Já o índice de inadimplência foi o ponto fraco.

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O Credit Suisse ressalta que o resultado de Bradesco estava sendo aguardado com expectativa, apontando ainda que muitos chegaram a esperar um número bem fraco e que poderia pesar no setor inteiro.

No final das contas, o trimestre ficou em linha e o guidance deu suporte para as estimativas da casa, com uma margem de clientes mais forte apesar das maiores provisões.

“O controle de custo está na pauta e deve ser mais agressivo, enquanto que a perspectiva mais favorável para taxas de serviços deve ter um papel importante nos próximos trimestres”, avaliam os analistas do banco suíço. O banco segue com recomendação outperform para o Bradesco, destacando o valuation.

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Já a XP ressaltou que os resultados do 1T22 foram marcados pelo aumento das provisões e menor índice de cobertura, vendo os números como ligeiramente negativos.

Isso porque, apesar do aumento das provisões para inadimplência (PDD), seu índice de cobertura continuou caindo sequencialmente, atingindo 235% no trimestre (queda de 25,5 pontos percentuais no trimestre e 114 pontos na base anual)  e sua inadimplência continua aumentando gradualmente.

Por outro lado, a carteira de crédito cresceu 2,7% no trimestre e 18,3% no ano, estando no caminho certo para entregar seu guidance de crescimento de dois dígitos para o ano. Esse crescimento também contribuiu para o fortalecimento da Margem Financeira com clientes, atingindo R$ 15,8 bilhões (alta de 7% no trimestre e 19,6% no ano), compensando a queda do NII das operações de Mercado (que fechou o trimestre em R$ 1,2 bilhão, queda de 43% no trimestre e de 47% no ano).

A XP destacou seguir com visão conservadora para o papel e recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 26, ainda um potencial de alta de 47% frente o fechamento de quinta.

Destaques da teleconferência

Em teleconferência de apresentação de resultados, o CEO do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, afirmou que houve mudança de guidance da empresa por conta de mudanças significativas nos cenários ao longo do primeiro trimestre de 2022, com uma guerra inesperada. “No ano passado ainda havia expectativa de controle da inflação”, e possível queda nos juros. Agora, no entanto, a expectativa é de que a taxa de juros continue alta ao longo de 2022 e pelo menos ao longo do primeiro semestre de 2023.

Por conta dessas mudanças ao primeiro trimestre de 2022, “os fundamentos foram mudando”, afirmou Lazari. Ele disse, no entanto, que não alterou o guidance de operações de crédito porque, com crescimento e manutenção da taxa de juros atual a tendência é que haja menor originação de crédito em carteiras de grande crescimento em 2021, como crédito imobiliário, que rodou naquele ano em entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões, e agora caiu para R$ 1 bilhão.

O guidance de crescimento de crédito é de entre 10% a 14% por conta da elevação da taxa de juros e a base de crescimento forte de 2021, de dois dígitos.

Além disso, Lazari afirmou que empresas médias e grandes devem evitar investimentos de longo prazo por conta das taxas de juros altas. Agora, a tomada de crédito por essas empresas é principalmente para solucionar necessidades de curto prazo.

O CEO ainda afirmou que a inadimplência em indicadores de crédito imobiliário continua pequena, em 0,55% no fechamento de março. “O brasileiro ainda tem no imóvel a realização de um sonho”, de forma que dificilmente ocorre inadimplência, ao contrário de outros setores, como cartão de crédito. “Não vemos nenhuma preocupação maior no crédito imobiliário”, afirmou.

Já sobre inadimplência, apontou que o maior risco de alta é em operações com juros mais elevados, como cartão de crédito. “Mais do que uma subida, há uma normalização da inadimplência em níveis mais elevados”, como antes da pandemia, afirmou.

O executivo disse que todas as projeções indicavam essa retomada da inadimplência após os níveis mais baixos observados durante a pandemia. Agora, há desaceleração de novos negócios e tomada de crédito. Isso leva a crer que haverá crescimento de inadimplência ao longo do segundo trimestre e estabilidade em níveis anteriores à pandemia, afirmou.

Ele disse que há uma melhoria em modelos de crédito e em análise que levam a prever essa perda esperada. Lazari afirmou que o banco já viveu anteriormente cenários de elevação da taxa de juros. Agora, no entanto, algo mais preocupante é a volatilidade, com crescimento muito acentuado da taxa.

O índice de inadimplência da carteira de crédito deve subir até 0,2 ponto percentual no segundo trimestre, estabilizando-se na segunda metade do ano, destacou ainda.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.