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As expectativas já não eram positivas, mas o Bradesco (BBDC4) conseguiu decepcionar (mais uma vez) ao apresentar os seus números do quarto trimestre de 2023 (4T23). Nem mesmo o tão esperado plano estratégico de cinco anos, anunciado junto com o balanço, animou, levando a um dia de derrocada para os papéis do banco.
Após um salto de 6,21% na véspera (também por conta da notícia sobre a OPA da Cielo), os ativos BBDC4 abriram em queda de cerca de 8% e foram intensificando a baixa, à medida que mais notícias sobre o plano estratégico apareciam e mostravam que não haveria uma “bala de prata” para a recuperação dos resultados. Ou seja, o caminho a percorrer seria longo para que o banco voltasse a ter rentabilidade: de acordo com o novo CEO, a projeção é de uma volta do retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) acima do custo de capital apenas em 2026.
Os ativos BBDC3 fecharam assim em queda de 13,02% (R$ 12,63) e os BBDC4 tiveram baixa de 15,90% (R$ 13,96), levando a uma perda de valor de mercado de cerca de R$ 24,1 bilhões. Se o valor total do Bradesco ontem era de R$ 165,6 bilhões, hoje o valor era de R$ 141,5 bilhões.
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O segundo maior banco privado do Brasil reportou durante a manhã lucro líquido recorrente de R$ 2,88 bilhões no último trimestre do ano passado, alta de 80,4% em relação ao mesmo período de 2022, mas queda de 37,7% frente ao terceiro trimestre do ano passado e abaixo das previsões de analistas, uma vez que as projeções compiladas pela LSEG apontavam lucro de R$ 4,57 bilhões. O retorno anualizado sobre patrimônio líquido ficou em 6,9% no último trimestre do ano passado, de 11,3% nos três meses anteriores e 3,9% no quarto trimestre de 2022.
Contabilizando provisões de reestruturação e “passivos contingentes”, o lucro foi de R$ 1,7 bilhão, 60% abaixo da projeção do Itaú BBA, enquanto o ROE decepcionou em 32%.
Houve alguns pontos positivos. Para os analistas do banco, esteve entre eles uma melhor margem financeira (NII) do mercado, resultados de seguros mais fortes e melhores métricas de qualidade de crédito lideradas por índices de inadimplência (NPLs) de varejo.
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Olhando para o ano que se inicia, contudo, a visão é conservadora. “O guidance para 2024 aponta para um processo de recuperação de receitas muito gradual, com custos de risco ainda elevados e SG&A [despesas gerais e administrativas] altos”, avalia o BBA.
Para 2024, o Bradesco estimou crescimento de 7% a 11% para a carteira de crédito, com expansão de 3% a 7% na margem financeira e aumento de 2% a 6% nas receitas de prestação de serviços e de 5% a 9% nas despesas operacionais. O Bradesco também estimou PDD expandida entre R$ 35 bilhões a R$ 39 bilhões.
Analistas do Citi estimaram que o guidance para 2024 implica lucro de cerca de R$ 17 bilhões em 2024 no ponto médio, “mostrando alguma recuperação, mas em uma base muito deprimida, e com nível ainda muito alto de despesas de provisão”, conforme destacou em relatório a clientes. Os analistas acrescentaram que a previsão do banco foi fraca e indica que a melhoria da rentabilidade do Bradesco ainda tem um longo caminho a percorrer.
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O BBA estima um ponto médio do guidance de lucro entre R$ 17 bilhões e R$ 18 bilhões, ou 10% de ROE para 2024, uma recuperação de lucro de 5% na base anual em comparação aos R$ 16,3 bilhões reportado em 2023 e abaixo de sua estimativa de cerca R$ 20 bilhões. Com o ROE abaixo do custo de capital por um tempo, o banco reiterou a recomendação marketperform (desempenho em linha com a média, equivalente a neutro) para o Bradesco, mantendo Banco do Brasil (BBAS3) como top pick entre os grandes bancos.
Sobre o plano estratégico, analistas do Citi destacaram em relatório após as apresentações do banco que a administração não discutiu metas específicas para os retornos anualizados sobre o patrimônio líquido médio (ROAEs), embora tenha afirmado que poderá ficar acima do custo de capital em 2026. O banco comentou que as mudanças parecem positivas e na direção certa, embora qualquer eventual melhoria na rentabilidade pareça provavelmente ser de natureza muito gradual, “o que poderá desiludir alguns investidores”, mantendo também recomendação neutra para o ativo, com preço-alvo de R$ 17,50.
Marcelo Noronha, CEO do Bradesco, apresentou pela manhã o plano estratégico para o período de 2024 a 2028 com uma série de iniciativas que miram principalmente melhorar a rentabilidade. Mas também ponderou que os resultados virão gradualmente, trimestre a trimestre. “Muitas boas intenções foram apresentadas, mas acreditamos que o mercado aguardará para ver os resultados aparecerem na demonstração de resultados do banco antes de agir”, afirmou o analista Thiago Batista, do UBS BB, em relatório. “A falta de números relevantes (no plano) decepcionou um pouco.”
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O JPMorgan, mesmo tendo em vista o plano e apontando que “o 4T23 deveria ser menos relevante hoje”, aponta que o último trimestre foi fraco e que as projeções para 2024 são frustrantes.
“Entendemos que o Bradesco está em um caminho de recuperação, mas o guidance fornecido implica em lucro de apenas cerca de R$ 18 bilhões (no ponto médio). Acreditamos que provavelmente o banco esteja sendo conservador, mas ainda vemos uma reação negativa do mercado. O guidance implica uma queda de 25% em relação às nossas estimativas de R$ 23,8 bilhões e um ROE de apenas 11%, novamente abaixo do custo de capital”, avalia. Já num tom mais positivo, o JPMorgan ressalta que a qualidade dos ativos melhorou, com a formação de inadimplência, ou “NPL formation” (a variação do saldo de créditos em atraso) em queda para R$ 8 bilhões, um valor elevado, mas muito melhor do que nos trimestres anteriores. Mas ainda é pouco para voltar a se animar com o banco.
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