Bradesco (BBDC4) admite que emprestou mais do que deveria e espera retomar rentabilidade de 18% em 2024

Resultado trimestral do banco também foi impactado por exposição à Americanas, caso que os executivos classificaram como "fraude"

Mitchel Diniz

Octavio Lazari Jr, CEO do Bradesco
Octavio Lazari Jr, CEO do Bradesco

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Depois que o Bradesco (BBDC4) apresentou resultados muito abaixo do esperado no quarto trimestre de 2022, os executivos do banco fizeram um mea culpa. “Devíamos ter restringido mais cedo nossa política de crédito”, admitiu Octavio de Lazari, CEO do Bradesco, logo no começo da teleconferência sobre o balanço com analistas. Segundo ele, a perda de renda de clientes do banco aconteceu de forma mais rápida que o esperado. “Temos importante exposição à baixa renda e pequenas empresas”, lembrou Lazari.

O executivo acredita que o banco tenha emprestado mais do que deveria ao longo do pior momento da pandemia, época em que os índices de inadimplência estavam atipicamente baixos. O Bradesco acabou ampliando a concessão de crédito em linhas de maior risco – o cliente baixa renda e empresas menores – o que resultou em uma escalada de empréstimos inadimplentes.

O índice de inadimplência do banco para empréstimos acima de 90 dias cresceu 0,4 ponto percentual em relação ao terceiro trimestre, para 4,3%. Na comparação com dezembro de 2021, teve alta de 1,5 ponto percentual.

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Também houve piora nas dívidas vencidas entre 15 e 90 dias, que passaram de 3,6% no terceiro trimestre para 4,1%. Mas o executivo explicou que o banco já começou a tomar medidas para reverter a situação, ao adotar uma postura mais seletiva.

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A taxa de aprovação de crédito massificado do banco, em dezembro do ano passado, correspondia a 67% do que o banco concedia ao final de 2021. Lazari disse que, este ano, o banco vai trabalhar com mais operações colateralizadas (com garantias) e clientes de menor perfil de risco.

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O executivo admitiu que o perfil mais conservador do mix pode vir a afetar os spreads e, consequentemente, as receitas do banco. Mas afirmou ser possível balancear o crescimento entre as carteiras do Bradesco, com taxas maiores, a depender do caso, e menos concessões de cartão de crédito, por exemplo. O principal objetivo é controlar a inadimplência.

A expectativa é que o índice relativo a clientes baixa renda e pequenas empresas comece a se estabilizar a partir do terceiro trimestre e, a partir daí, se inicie uma contração.

A Provisão de Devedores Duvidosos (PDD) expandida totalizou R$ 14,881 bilhões no quarto trimestre, ante R$ 4,823 bilhões registrada no mesmo trimestre de 2021. Sem citar diretamente o nome de Americanas (AMER3), o Bradesco diz que fez 100% de provisionamento relacionado a um caso de “um cliente Large Corporate específico”, ocorrido no início de 2023, no valor R$ 4,9 bilhões.

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Lazari se referiu ao fato específico como fraude e disse que o episódio “não ensejou nenhuma mudança nas operações de risco sacado”. O risco sacado é quando o banco antecipa pagamentos a fornecedores de uma empresa e essa operação é vista como principal razão do rombo contábil em Americanas.

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“Foi caso específico de  uma fraude. A precificação é feita com o risco de cada cliente. Não são muitas operações [desse tipo], é uma carteira de poucos clientes”, afirmou Lazari.

Ainda na teleconferência com analistas,  o executivo afirmou que o Bradesco quer retomar o retorno médio sobre patrimônio líquido (ROE, ou ROAE, na sigla em inglês) ao nível de 18%. “Sempre demos retorno sobre patrimônio acima ou muito próximo disso. Nos vimos em  uma situação que acabou comprometendo nossos resultados em 2022, mas entendemos que é possível recuperar”, afirmou.

O retorno médio sobre patrimônio líquido (ROAE, na sigla em inglês), que mede como um banco remunera o capital de seus acionistas, foi a 13,1% no acumulado em doze meses. No trimestre, fechou a 3,9%, baixa de 13,6 pontos porcentuais em um ano e de 9,1 pontos em três meses.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados