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SÃO PAULO – A possibilidade de candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à presidência bagunça o cenário eleitoral para 2022 e reforça a polarização com o presidente Jair Bolsonaro. Para além do quadro de eleições, uma questão mais urgente são as dúvidas sobre qual seria a postura de Bolsonaro em relação a pautas do ajuste fiscal, uma vez que a agenda liberal de Paulo Guedes, ministro da Economia, é vista como impopular.
Para a consultoria política Eurasia, Bolsonaro não deve tomar um rumo muito populista em sua política econômica diante da ameaça de Lula, pois ele se mostrou diversas vezes preocupado com os danos que uma crise na Bolsa poderia ter sobre sua imagem.
Ao contrário, os consultores argumentam que Bolsonaro estará ainda mais confortável em sua posição política com o enfraquecimento do centro e fortalecimento da esquerda. “Há pouca razão para desespero no Planalto hoje”, concluem os analistas da Eurasia.
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Já Alessandra Ribeiro, sócia-diretora da área de macroeconomia da Tendências Consultoria, diz que revisões já foram feitas para abarcar uma guinada populista.
“A eleição começa a tomar mais corpo e isso tem efeito em curtíssimo prazo, já se começa a precificar como o governo vai atuar, se vai colocar os pés pelas mãos, se vai tentar agradar mais o segmento de baixa renda para brigar com Lula. Essa percepção, somada a outros riscos do cenário atual, nos levaram a revisar câmbio, juros e inflação”.
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A MB Associados também reajustou suas estimativas (veja mais aqui). “Temos dois candidatos com dificuldade de fazer gestão de política macroeconômica equilibrada. Bolsonaro está agora ainda mais impaciente para entregar algo para a população. Do lado do Lula, não o vejo fazendo uma Carta ao Povo Brasileiro. Não o vejo se aproximando do mercado. Ao contrário, a dificuldade em se relacionar com o mercado cresceu depois do impeachment da Dilma”, diz o economista-chefe da MB, Sérgio Vale.
Segundo Vale, o estresse atual no mercado financeiro decorrente da incerteza política deve pressionar de forma mais permanente os preços dos ativos, como a moeda, que já está se desvalorizando. Um real mais fraco afetará o preço dos importados e, portanto, elevará a inflação. Esse cenário deve fazer o Banco Central subir a taxa de juros. Isso deve ter um impacto negativo na atividade econômica do próximo ano.
Na visão de Luís Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e sócio-fundador e CEO da Mauá Capital, Bolsonaro “tem vários rompantes negativos”, mas isso não quer dizer que ele vai fazer uma guinada populista.
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“Sempre que a coisa aperta, ele corre para o Guedes, que continua sendo o seu ‘posto Ipiranga’. Ele é um presidente que não tem opinião formada. Mas, por não ter opinião tão forte, ele acaba passando uma imagem dúbia e até tomando atitudes dúbias. Por exemplo, mesmo depois de tanta briga, saiu uma PEC Emergencial responsável. Ele pode até ter sido convencido [a desistir da desidratação da PEC], mas, se ele não quisesse, não teria saído, no final quem tem a caneta é o presidente.”
Numa visão que destoa de todos os outros, o ex-diretor do BC acredita que Bolsonaro fica menos populista com a chegada de Lula. “Como Lula está vindo com um discurso mega populista, ele pode levar Bolsonaro a ser até mais liberal. Depois da fala do Lula, Bolsonaro inclusive já falou coisas mais liberais”, afirma o CEO da Mauá Capital.
Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, discorda. “Bolsonaro sabe que se caminhar para o centro perde o seu núcleo duro de apoiadores. Na parte de saúde, dos costumes, ele tem que ficar com a turma mais radical”.
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Todavia, ele diz que “claramente Bolsonaro ficou atordoado” com o pronunciamento do ex-presidente. “O presidente nunca usava máscara e, de repente, todo mundo aparece de máscara, o Lula pautou ele”, diz.
Portanto, para o CEO da Ohm, se Bolsonaro tiver que seguir uma postura menos radical nos costumes e na condução da crise sanitária, o apoio da base mais aguerrida pode estar ameaçado. “E aí o que resta a fazer para elevar a popularidade? Aumentar o populismo na economia”, diz.
Para Marília Fontes, analista da Nord Research, tanto Lula quanto Bolsonaro sabem ser pragmáticos na economia, o que garante alguma estabilidade ao mercado. “Os dois têm traços populistas e base de votação muito forte no funcionalismo público e entre as pessoas de classes menos favorecidas. No entanto, ambos já demonstraram que, quando no poder, fazem um certo afago no mercado, com políticas fiscais responsáveis”, defende.
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Marília lembra que Bolsonaro, logo depois de demitir o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, sancionou a lei que garante a autonomia do BC e conseguiu manter alguma potência fiscal na PEC Emergencial.
Entretanto, a analista da Nord não acredita em mais liberalismo da parte do presidente. “Bolsonaro não vai nem dar mais liberdade para Guedes depois da PEC Emergencial, pois as reformas administrativa e tributária são mais polêmicas, difíceis de aprovar e tiram votos.”