Bolsonaro apazigua ânimos com o STF e impulsiona mercado: e agora, o que esperar para a Bolsa?

Reviravolta desta quinta pode indicar uma redução na tensão política, mas problemas reais da economia como a inflação ainda irão assombrar investidores

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – Em uma inesperada reviravolta em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro, depois de um almoço com o ex-presidente, Michel Temer, escreveu uma nota defendendo a harmonia entre os poderes e até elogiou timidamente “as qualidades como jurista e professor” do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) apesar de reforçar ter discordâncias com as decisões do magistrado.

A notícia fez com que o Ibovespa saísse de uma queda de 0,6% para uma alta de 2,6% a menos de meia hora do fim do pregão, para depois a Bolsa fechar com ganhos de 1,72%. O Ibovespa Futuro, que continuou ainda por meia hora além do pregão regular no after-market, fechou em alta de 2,86% a 117.090 pontos.

Com isso, investidores se perguntam: o que muda para Bolsa e dólar? O que esperar de movimento do mercado nos próximos dias.

Segundo Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, é sempre bom diminuir a temperatura das tensões a longo prazo e trazer mais estabilidade para o ambiente de negócios, mas a essência dos problemas reais do Brasil continua.

“Hoje, o número de inflação veio muito ruim, o [Produto Interno Bruto] PIB será mais fraco do que poderia e a crise hídrica preocupa”, destaca, em alusão ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto, que cresceu a 0,87% segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, levando a inflação em 12 meses a 9,68%.

Para Attuch, Bolsonaro agora “resolveu o problema que ele mesmo criou” e saiu dessa semana com menos capital político do que entrou, o que tem implicações econômicas próprias.

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“O problema que vem causando há tempos todo esse descolamento da Bolsa brasileira em relação a Wall Street é o aumento do risco fiscal. O Bolsonaro precisa de uma popularidade para se reeleger que o bem-estar econômico atual não permite, então ele precisaria comprar esse aumento de popularidade com programas sociais como é o caso da proposta de aumento do Bolsa Família”, avalia.

O economista entende que esse risco de utilização do Orçamento de maneira populista não arrefeceu hoje com a menor tensão institucional, então por mais que hoje tenha sido um dia de alívio na Bolsa, os próximos poderão não ser.

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Na mesma linha, Naio Ino, responsável pela mesa de ações da Western Asset, disse à Reuters que a Bolsa deve continuar registrando volatilidade por conta das dúvidas sobre o andamento da pauta econômica, a crise hídrica, a inflação elevada e a movimentação de caminhoneiros.

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Jennie Li, estrategista de ações da XP, também acredita que a volatilidade não deve sumir dos mercados depois de hoje. “Deve até aumentar conforme ficamos mais perto das eleições”, argumenta.

A analista entende que o mais preocupante para o investidor atualmente é o estresse na curva de juros, principalmente nos contratos mais longos, como o DI para janeiro de 2031, que chegou a bater 12% hoje. “Essa subida aumenta o custo de capital das empresas, tendo impacto direto no valuation da Bolsa.”

Dan Kwa, diretor de investimentos e sócio da TAG Investimentos, disse pelo Twitter que a nota de Bolsonaro é um sinal claro de tentativa de apaziguamento, porém não haverá endereçamento completo do tensionamento. Por outro lado, diante das quedas recentes do Ibovespa, ele acredita que “certamente há espaço para os ativos locais consumirem parte do prêmio de risco que foi criado nos últimos dias”.

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Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, apontou o alívio dos investidores, que já temiam que ninguém daria um passo atrás e ser mais conciliador, e isso acabaria com a janela de oportunidade até o final do ano para se votar uma medida importante.

“A nota vai à procura de uma harmonia, mesmo que tenha tido um momento ruim. Já houve outros momentos ruins no governo, então por isso a reação mais forte agora, com uma declaração à nação, pregando harmonia, claro que ajuda a distensionar um pouco”, afirma.

Cruz aponta ainda que o MDB de Temer era um dos partidos que iria discutir o apoio ao impeachment de Bolsonaro, então essa movimentação realmente mostra que há espaço para conversa ainda na política.

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Fernando Siqueira, gestor da Infinity Asset, diz que é importante acompanhar os próximos dias para precificar melhoras no ambiente institucional do país, uma vez que Bolsonaro já prometeu recuar outras vezes como na apreciação pela Câmara dos Deputados do projeto do voto impresso, e depois continuou apostando no discurso do confronto.

“Essa carta é um primeiro sinal positivo, um primeiro gatilho para o mercado voltar a ter uma posição positiva no Brasil. Acho que os investidores vão voltar a tomar risco, comprando ações das empresas que sofreram mais na queda, como small caps, varejistas e companhias aéreas”, comenta.

Em termos de estratégia de investimento, Jennie Li diz que, embora o macro esteja ruim, o ambiente micro ainda é muito bom, com as empresas entregando resultados sólidos. “É um cenário de stock picking, precisa saber se posicionar. Gostamos mais de empresas exportadoras, e também de empresas que devem ter forte crescimento, balanços melhores e que conseguem entregar resultados em um cenário de volatilidade mais alta.”

Para ela, o momento atual reforçou a importância da diversificação, tanto de ativos como geográfica, com investimentos fora do Brasil. “Enquanto o Ibovespa está caindo 3% no ano, os índices americanos sobem 20%, por isso é importante ter uma carteira diversificada”, conclui.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.