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Bolsa aberta 24h? Nasdaq aguarda SEC, mas “oportunidade não é robusta”, diz head

A CVM americana decidirá sobre pedido de nova bolsa que quer operar 24 horas por dia, 7 dias por semana, inclusive nos feriados; para Nasdaq, investimento parece não compensar

Mariana Segala

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Agentes do mercado financeiro americano aguardam ansiosamente uma decisão que a Securities and Exchange Comission (SEC), órgão equivalente à CVM, promete publicar na próxima semana – e com potencial para abalar a rotina de investidores, traders e operadores em geral.

A comissão tem até sexta-feira (29 para aprovar – ou negar – o pedido da 24 Exchange para instalar a primeira bolsa dos Estados Unidos com pregão praticamente ininterrupto. A proposta da 24X, como também é chamada, é operar 23 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano, incluindo feriados.

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A decisão da SEC está sendo acompanhada de perto porque estender o horário de negociação de uma bolsa demandaria mudanças relevantes em diversas pontas da cadeia do mercado. “Cada operação precisa ser compensada, e nos Estados Unidos a compensação acontece na DTC, uma agência de clearing que não fica aberta 24 horas por dia”, diz Andrew Oppenheimer, head de desenvolvimento de negócios e estratégia da Nasdaq, uma das maiores bolsas americanas.

Além disso, como há várias bolsas no país, os dados de cada negócio realizado em cada uma delas precisam alimentar um um feed de mercado consolidado, o SIP (Securities Information Processor), que reúne e distribui informações sobre os ativos listados para todas as instituições em tempo real. “O SIP funciona das 4h às 20h, e hoje não se pode ser uma bolsa e operar sem que ele esteja aberto”, explica.

Andrew Oppenheimer, head de desenvolvimento de negócios e estratégia da Nasdaq (Crédito: Linkedin)

Oppenheimer lembra que, além da 24X, poucas semanas atrás a ARCA – uma das bolsas pertencentes ao grupo da New York Stock Exchange – requereu licença para operar 22 horas por dia, cinco dias por semana. O que sugere que isso possa se tornar uma tendência.

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O assunto esquentou nos últimos anos na esteira das operação 24 horas do mercado de criptomoedas e pelo aumento da atividade dos investidores de varejo de outros continentes, principalmente da Ásia, desfavorecidos pelo fuso horário dos EUA. No país, há uma bolsa – a Blue Ocean – que opera ininterruptamente, mas trata-se de um mercado de balcão (OTC).

“Os participantes da indústria estão animados com essa possibilidade e gostariam que isso fosse adotado por bolsas reguladas, porque se sentiriam mais confortáveis para operar”, diz o executivo.

Na Nasdaq, no entanto, a necessidade de operar assim não é um ponto pacífico. “Nós ou qualquer outra bolsa não teremos de ser 24 horas. É uma decisão de negócio se iremos estender nosso horário de funcionamento ou não”, diz Oppenheimer.

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Atualmente, a Nasdaq já funciona das 4h da manhã às 20h, com o pregão regular acontecendo das 9h30 às 16h. “O volume de negócios que ocorre das 4 às 9h30 é muito limitado, apenas algumas dezenas de milhares de ações, nada substantivo. No after-markets é ainda menor”, explica.

Para ele, considerando o investimento necessário para manter uma operação ininterrupta e o baixo volume que a Nasdaq registra nos seus horários alternativos de negociação, “a oportunidade não é robusta”.

Atualmente, nenhuma bolsa dos EUA abre por um horário mais longo que o da Nasdaq – que, no entanto, terá seu papel na definição de como funcionaria na prática um mercado 24h. Ela e as outras bolsas reguladas do país participam de um comitê da indústria dentro do SIP, e se houver a aprovação pela SEC dessa possibilidade caberia a esse comitê definir as funcionalidades e a metodologia para uma operação ininterrupta.

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“Há um esforço colaborativo entre todas as bolsas para tornar tão fácil quanto for possível que os participantes do mercado operem 24 horas”.

Mariana Segala

Diretora de Redação do InfoMoney