Big Techs, energia e saúde puxam valorização das bolsas americanas; veja o que esperar para 2022

Com juros próximos a zero, avanço da vacinação e recuperação das margens de lucro das empresas, S&P 500 fecha ano com alta de 26,9%

Rodrigo Petry

(Getty Images)
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Enquanto o investidor brasileiro viu a bolsa local minguar quase 12% em 2021, nos Estados Unidos a situação foi completamente diferente. Com 70 pregões de fechamentos recordes – perdendo apenas o ano de 1995, que teve 77 –, o índice americano S&P 500 só trouxe, praticamente, alegria para os investidores.

Mais do que isso, ao menos dez empresas – com destaque para as companhias dos setores de energia e ligados à saúde – registraram valorizações acima dos 100% em 2021 (veja tabela mais abaixo), ajudando o índice, de forma consolidada, a avançar mais de 26,89% sobre 2020.

Dessa forma, o S&P 500 chegou ao terceiro ano consecutivo de valorização anual, assim como os índices Dow Jones e Nasdaq, que encerraram 2021 com altas, respectivamente, de 18,73% e quase 21,39%.

Foi o ano ainda das Big Techs – Apple (AAPL34), Microsoft (MSFT34), Alphabet (GOGL34), Amazon (AMZO34) e Meta, antiga Facebook (FBOK34) – superarem, de forma conjunta, um valor de mercado acima dos US$ 10 trilhões.

Por trás destes resultados esteve o avanço da vacinação contra Covid ao longo de 2021. A variante ômicron diminuiu o ímpeto comprador das bolsas no final do ano, mas não o suficiente para que os recordes deixassem de ser estabelecidos na bolsa americana.

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Além disso, as taxas de juros estruturais próximas a zero estimularam o investimento em ativos de risco e, com o consumo em ampla recuperação, as margens de lucro das empresas dispararam.

Segundo relatório da XP, o lucro por ação das empresas americanas deve avançar 43% em 2021, após uma queda de 13% em 2020. A FactSet, segundo a CNBC, estima alta de 45% dos lucro em 2021 – maior nível em 13 anos.

“2021 foi um ano muito bom, mas não necessariamente atípico”, destaca o analista de ações internacionais da XP, Vinícius Araújo. Entre 1928 e 2020, foram ao menos 35 anos em que o retorno do S&P superou a faixa dos 20%.

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S&P 500 tem 70 recordes de valorização em 2021  bolsa americana em 2021

Fonte: Reprodução site CNBC

O que esperar da bolsa americana em 2022?

Após desempenho tão positivo, a dúvida que fica é até que ponto essa valorização deverá se sustentar.

“Há cinco trimestres consecutivos as empresas apresentam resultados positivos, mas, mesmo com margens positivas, os múltiplos de preço sobre o lucro estão esticados”, ressalta Araújo.

Conforme relatório da XP, a expectativa é de que o crescimento dos ganhos volte, em 2022, para algo mais próximo das tendências históricas.

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Assim, a projeção da XP é de que o S&P 500 encerre 2022 aos 4.900 pontos – o índice terminou 2021 aos 4.766 pontos –, o que implicaria numa valorização próxima a 2,8%.

Riscos no horizonte?

Para o JP Morgan, porém, não há razão para temer que a alta que impulsionou as ações dos Estados Unidos para recordes sucessivos em 2021 termine em breve.

Na avaliação da instituição, a recuperação tem sido cada vez mais impulsionada por um grupo restrito de empresas com grande capitalização de mercado – transformando-as num porto-seguro.

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Entre as empresas com mais de US$ 1 trilhão de valor de mercado, em 27 de dezembro de 2021, estavam Apple (US$ 2,9 trilhões), Microsoft (US$ 2,5 trilhões), Alphabet, controladora do Google (US$ 1,6 trilhão), Amazon (US$ 1,7 trilhão), Tesla (US$ 1,09 trilhão) e Meta, próxima do trilhão (US$ 962 bilhões).

Ações mais negociadas no S&P em 2021

Empresa Retorno (%) Volume médio/dia*
Tesla, Inc 51,20 21.095.046
Apple Inc 33,67 12.553.021
Amazon.Com, Inc 5,05 11.164.295
Nvidia Corp 127,24 7.141.997
Microsoft Corp 51,74 7.016.927
Meta Platforms, Inc
22,73 5.899.115
Advanced Micro Devices, Inc
59,35 5.274.323
Alphabet Inc 67,65 3.672.794
Moderna, Inc 139,29 3.554.618
Alphabet Inc 67,98 3.061.432
Boeing Co -4,60 2.750.337
Paypal Hldg Inc -18,01 2.267.033
Netflix Inc 13,57 2.158.014
Jpmorgan Chase & Co
26,87 1.965.167
Bank Of America Corp
49,37 1.932.281

Fonte: Economatica (até 24 de dezembro); *em milhares

“Há uma concentração histórica nas gigantes da tecnologia. Algumas delas podem estar entre os maiores monopólios que a humanidade já viu”, comenta Roberto Attuch, CEO da OHM Research.

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Inflação e juros nos EUA

Outro fator de atenção se encontra na inflação, o que influencia diretamente nas decisões de política monetária do banco central americano, o Federal Reserve (Fed).

“Ano contra ano, o resultado da inflação deve ficar melhor em 2022, mesmo que a inflação ainda esteja acima da meta do Fed”, diz Attuch. “É fácil criticar o Fed, mas estamos saindo de um evento que acontece a cada 100 anos”, reforça, em relação aos impactos excepcionais da pandemia.

Segundo Araújo, mesmo que ocorram três elevações dos juros em 2022, como vem sendo previsto pelo mercado, as taxas, ainda assim, permaneceriam historicamente baixas, em níveis que manteriam, por exemplo, as ações de crescimento atrativas.

“Há empresas que, historicamente, desempenham bem em ambiente de juros em alta e processo inflacionário”, acrescenta.

Conforme a Economatica, descontada a inflação acumulada até novembro, nos EUA, o S&P teve ganhos próximos de 19,4%. Desde 1928, em apenas sete anos, houve perda superior, acrescenta.

“A perda em 2021 em pontos percentuais entre a valorização nominal e a real é de -8,01 p.p. Não se registrava uma queda tão significativa devido a inflação desde 1979, quando a perda foi de -13,18 p.p.”, diz Einar Rivero, da Economatica.

Leia também: Inflação pode corroer lucros do S&P 500, alertam estrategista

Entretanto, analistas de Wall Street não se incomodam com a perspectiva da pressão dos preços e projetam aumento dos lucros para empresas do S&P 500 de quase 9% em 2022, para US$ 220,40 por ação.

Ainda assim, mesmo com essa expansão, o índice é negociado a uma relação preço/lucro futura de quase 22, bem no topo da faixa histórica e em nível que sugere risco caso os resultados não atinjam a marca.

Destaques do S&P em 2021

No topo do ranking das maiores valorizações estiveram empresas ligadas ao setor de energia, especialmente as petroleiras, por conta da alta do preço da commodity. 

O retorno rápido do consumo e a queda de investimentos em estrutura produtiva para essas empresas foram os principais motivos da alta do petróleo.

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Enquanto o petróleo do tipo Brent valorizou-se 53%, a cotação do WTI avançou 57%, levando ambos ao melhor desempenho desde 2009, quando os preços dispararam mais de 70%

“Com essa alta, naturalmente é de se esperar que essas empresas lucrem mais, o que acaba se refletindo no preço de suas ações”, diz César Crivelli, sócio da Nord Research.

Este cenário foi corroborado pelo fato de que a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) decidir não ampliar sua produção, gerando pressão sobre os preços.

Mesmo que se espere uma menor dependência do petróleo, em detrimento de energias renováveis, isto ainda vai demorar.

Junte essa escassez a mais pessoas precisando de energia, e você explica a alta (dos preços). Possivelmente o preço do barril hoje será a nossa referência para o curto e médio prazo”, conclui.

Maiores valorizações do S&P em 2021

Empresa Retorno Volume médio/dia
Devon Energy Corp 182,93 331.265
Marathon Oil Corp 143,38 246.169
Moderna, Inc 139,29 3.554.618
Fortinet, Inc 134,98 266.162
Ford Motor Co 131,54 1.127.558
Nvidia Corp 127,24 7.141.997
Diamondback Energy, Inc 123,48 229.062
Bath & Body Works, Inc 122,15 227.662
Nucor Corp 117,78 310.827
Gartner, Inc 103,21 138.353
Arista Networks, Inc 95,27 183.346
Extra Space Storage Inc 93,24 116.492
CF Industries Hldg Inc 91,20 123.957
Simon Property Group, Inc 90,44 325.560
EOG Resources Inc 85,11 331.251

Fonte: Economatica (até 24 de dezembro)

Saúde

Por conta do desenvolvimento de vacinas contra Covid, a Moderna liderou a valorização das empresas ligadas ao setor de saúda na bolsa americana em 2021. Outro destaque ficou com a Pfizer, com uma valorização de 65,7%.

Para Crivelli, muitos investidores ainda não precificaram adequadamente essa nova fonte de receita das empresas de biotecnologia.

“Com cientistas e governos falando sobre a necessidade de uma terceira ou até quarta dose para reforço do sistema imunológico, é possível que a vacina da Covid-19 passe a ser uma receita recorrente para as biotechs. É como a vacina da gripe, que temos todos os anos. Possivelmente, o mesmo aconteça com a Covid, e isso ainda não está no preço das ações”, observa Crivelli.

Tecnologia

O destaque na tecnologia ficou por conta, principalmente, das empresas produtoras de semicondutores. Nesse sentido, a que melhor surfou na escassez de chips foi a Nvidia, que esteve entre as maiores valorizações do S&P.

Além dela, Advanced Micro Devices, Broadcom e Qualcomm também registraram altas, respectivamente, de 59%, 56% e 22%. Esse grupo de companhias se beneficia da tendência, cada vez mais forte, de pessoas mais conectadas aos seus aparelhos.

“Há uma população crescente que joga videogames e está integrada ao mundo dos criptoativos e metaverso. Tudo isso ajuda a impulsionar a demanda por chips semicondutores e, por consequência, alavanca o desempenho das empresas produtoras”, diz Araújo.

Dow Jones e Nasdaq

Considerando apenas o índice Dow Jones, os destaques do ano ficaram com Home Depot e Microsoft, com altas superiores a 50% cada.

Já no Nasdaq, Alphabet, Apple, Meta Platforms e Tesla puxaram as valorizações do ano de 2021.

Maiores desvalorizações do S&P em 2021

Empresa Retorno Volume médio
Paypal Hldg Inc -18,01 2.267.033
Twitter, Inc -18,45 990.027
Discovery, Inc -18,84 351.649
Teleflex Inc -20,16 104.918
Lamb Weston Hldg Inc -20,50 81.394
Wynn Resorts, Limited -21,23 346.688
Fidelity National -21,97 463.764
Citrix Systems, Inc -23,70 162.615
IPG Photonics Corp -24,53 59.646
Viatris Inc -25,57 133.745
Marketaxess Hldg Inc -27,62 119.784
Activision Blizzard, Inc -29,48 621.773
Las Vegas Sands Corp -35,25 361.781
Global Payments Inc -36,82 355.819
Penn National Gaming, Inc -40,49 404.878

Fonte: Economatica (até 24 de dezembro)

(Com Carla Carvalho)

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Rodrigo Petry

Coordenador de Projetos Editoriais. Atuou como editor de mercados e investimentos no InfoMoney, liderando o Ao Vivo da Bolsa e o IM Trader. Antes, foi editor-chefe do portal euqueroinvestir, repórter do Broadcast (Grupo Estado) e revista Capital Aberto. Também foi Gestor de Relações com a Mídia do ex-Grupo Máquina e assessor parlamentar.