“Bets”: por que apostas esportivas viraram as novas concorrentes do varejo no Brasil

Atividades de jogos de azar registraram subiram de 0,8% da renda familiar em 2018 para uma fatia aproximada de 1,9% a 2,7% em 2023

Felipe Moreira

Apostas esportivas (Foto: Getty Images)
Apostas esportivas (Foto: Getty Images)

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Nos últimos anos, a proliferação das bets, ou casas de apostas online, tem levado a mudanças nos hábitos de consumo dos brasileiros que vêm cada vez mais à luz do mercado. Assim, as varejistas da Bolsa sofrem não apenas com a concorrência de seus pares e com o cenário de juros altos, mas também com a disputa pelo bolso do consumidor nesse segmento de apostas, conforme avalia o Santander em relatório.

Para tentar quantificar essa mudança no comportamento do consumidor, o banco analisou os dados nominais de Vendas no Varejo do IBGE e da Renda Nacional Disponível das Famílias do Banco Central de 2013 a 2023. A abordagem permitiu rastrear como as atividades comerciais tradicionais evoluíram em relação ao poder de gasto geral dos brasileiros. Isso leva a uma visão sobre os possíveis efeitos de deslocamento causados por setores emergentes como os jogos de azar legalizados. O banco pondera que há falta de dados consolidados e formais das atividades de jogos de azar no Brasil, e por isso consideram também dados do Congresso, números disponibilizados por algumas bets e dados do BC.

A equipe de research do Santander destaca que a participação das vendas no varejo amplo na renda familiar caiu de um pico de 63% em 2021 para 57% em 2023, enquanto as atividades de jogos de azar legalizados registraram um aumento significativo, subindo de 0,8% da renda familiar em 2018 para uma fatia aproximada de 1,9% a 2,7% em 2023.

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Um estudo do Senado estima que os brasileiros gastam cerca de R$ 50 bilhões anualmente em atividades de jogos de azar, com apenas R$ 23 bilhões em 2023 provenientes de canais legais, através de loterias federais. A cifra não inclui apostas esportivas online, que, segundo algumas fontes, totalizaram mais de R$ 100 bilhões em 2023, enquanto outras fontes, usando dados do BC, apontam para R$ 58 bilhões sendo enviados para sites internacionais de apostas esportivas.

Nesse contexto, o banco projeta que os brasileiros gastaram entre R$ 100 bilhões e 150 bilhões em atividades de jogos de azar (loterias federais + atividades informais + apostas esportivas online) apenas no ano passado.

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Mesmo considerando a extremidade inferior da faixa em R$ 100 bilhões, o movimento representa um grande salto em comparação aos R$ 30 bilhões estimados em 2018 (considera apenas loterias federais e a estimativa de que o jogo informal é do mesmo tamanho que o jogo formal).

O Santander reconhece que sua metodologia é uma grande simplificação e não inclui muitos outros impactos (como o surgimento do comércio transfronteiriço e criptomoedas) que afetam a mudança nos hábitos de consumo, mas pode indicar que, de fato, essas as atividades estão se tornando uma fonte maior de competição para os varejistas tradicionais (vestuário e calçados, eletrônicos e móveis) à medida que disputam participação na renda dos consumidores.

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No mês passado, a SBVC (Associação Brasileira de Varejo e Consumo) divulgou um estudo sobre as implicações do crescimento exponencial das apostas esportivas para os varejistas brasileiros.

Conforme apontou a XP, entre os principais destaques do estudo, estiveram que: 64% dos que apostam online no Brasil utilizam sua principal fonte de renda para apostar; 63% dos que apostam no Brasil afirmam que teve parte de sua renda comprometida com apostas online e, em termos de implicações para o consumo, 23%, 19% e 14% dos que apostam online afirmam que se abstiveram de comprar vestuário, alimentos/mercadorias e produtos de higiene pessoal, respectivamente.

Além das empresas varejistas, executivos de companhias do setor de telefonia chegaram a falar que as teles têm tido dificuldade de ampliar o faturamento com clientes de planos pré-pagos – que fazem recargas periódicas – por conta dos maiores gastos dos consumidores com bets.